Era o ano de 2002 e eu era editor chefe do Diário do Amazonas. Num sábado o diretor do jornal, Cirilo Anunciação, mandou chamar a mim e à editora de política, Ana Claudia Leocádio, em sua sala. Chegando lá, nos deparamos com o ex-senador Evandro Carreira. Apesar de já ter quase vinte anos de carreira, eu nunca tinha esbarrado com essa que era uma das mais emblemáticas figuras da nossa política. Ele havia ido à empresa publicar um anúncio e acabou nos concedendo uma entrevistas deliciosa.
Só que mais delicioso ainda foi o “embate” com a Ana Claudia nos bastidores. Num trecho da conversa, Evandro Carreira provocou a editora, dizendo que política era como mulher: tinha que ser renovada sempre. De temperamento forte, ela não deixou barato e quis entender o raciocínio, já sem gostar do que estava ouvindo. O ex-senador passou então a discorrer sobre seu estilo de vida. “Eu sempre troco de mulher quando ela começa a envelhecer. Troco por uma mais nova, porque assim eu também me renovo”, atacou.
Ana Claudia então foi “pra cima” dele, dizendo que se tratava de um comportamento machista, ultrapassado. Eu e Cirilo não conseguíamos parar de rir. Evandro passou então a discorrer sobre as vantagens da vida que levava, exagerando aqui e ali e usando aquele gestual e o vocabulário que o identificavam. Ela acabou silenciando, relaxando e também entrando no clima informal e divertido da “entrevista”. Acabou não citando uma única linha do que ele falou sobre suas preferências. Ateve-se à política.
Evandro Carreira nos deixou esta manhã, aos 88 anos, depois de exercer um único mandato de senador, de 1974 a 1982. Era um contestador por natureza. Um orador rebuscado. Mas acabou transformando-se num político folclórico, que nunca mais se elegeu para nenhum cargo, mesmo disputando quase todas as eleições desde que seu mandato terminou.
Vai ficar eternizado pela expressão mais popular que criou: a “maldição da rodela”, que cunhou no auge do domínio de Gilberto Mestrinho na política local.
