A Violência na escola e problemas enfrentados na família impacta a vida dos alunos de diversas forma s. Cuidar da saúde mental nas escolas pode evitar desfechos gravíssimos. Ouvir alunos, identificar sinais de alerta e combater o bullying são estratégias para cuidar da saúde mental de crianças e adolescentes no ambiente escolar.Foi neste cenário que nasceu o projeto da Professora Juliane Almeida, ao perceber que seus alunos enfrentavam diversos problemas no seu dia a dia e interferiam diretamente nas aulas.
” Eu nunca desisti de tentar implementar o projeto: Inteligência Emocional na educação, pois para mim ele ajudará tanto os alunos quanto os profissionais da educação.
Eu que pensei nesse projeto em 2023, pedi ajuda na ddz rural no tempo, levei para a chefa da ddz, mas ela disse que tinha a Cemasp e que eu não era psicóloga e tínhamos que acreditar na Cemasp, que é um grupo que cuida ou que era para cuidar dos alunos que precisam de ajuda na Semed.
Fiquei triste e guardei meu projeto, pois ali não vi uma abertura para trabalhá-lo. Depois de um tempo pedi ajuda de um vereador, só que ele queria o projeto por escrito. E escrevi o projeto, com mais de 10 laudas.
Acredito que na educação pública pós pandemia é preciso ter pelo menos 1 psicólogo em cada escola e trabalhar a inteligência emocional dos alunos e dos próprios professores que também precisam ter um momento de acolhimento na própria escola.
Pois na rede pública os alunos estão com ódio, os professores também possuem uma alta carga de estresse, pelo fato de estarem sobrecarregados, com problemas pessoais, financeiros e muitos desvalorizados em sua profissão . Tanto é, que temos inúmeros professores afastados de licença médica psiquiatra.
Início do Projeto
Montei as estratégias e chamei a psicóloga Katilene Castro para começar o trabalho comigo no final de fevereiro. Ela foi em 2 sextas seguidas e descobri que eu precisava de mais profissionais, então liguei para uma amiga, que é psicanalista e estudou muito sobre ansiedade e depressão, conversei com ela, expliquei que eu não tinha dinheiro, mas que eu pagaria o Uber dela de ida e volta para o Jorge Teixeira.
E desde o início de março a Carolina Aguiar trouxe mais duas colegas psicanalistas, a Angelica e a Joelma Cacau, para ajudar os adolescentes com suas crises de identidade e suas ansiedades e outros problemas psicológicos, e estão me auxiliando e fazendo o atendimento gratuito na escola.
Elas estão atendendo os alunos na terça a partir das 8:30 h até às 15:45 h.
E a psicóloga Katilene Castro atende dia de sexta-feira.
E estou tão feliz, porque eu sei que esse projeto vai solucionar os problemas psicológicos nas nossas escolas públicas e essa será só a 1ª escola a implementar isso. Estamos com 2 meses desde quando iniciou e está sendo um sucesso aqui na escola Edinir Telles Guimarães, disse a professora Juliane, a idealizadora do Projeto.
Para psicólogos, as escolas devem ser espaços seguros de acolhimento para crianças e adolescentes que estão sofrendo. Apesar de ser lei, poucas instituições têm profissionais capacitados para agir em casos de violência nas escolas, bullying e problemas de saúde mental.
A Aluna CVS , sempre foi uma aluna ativa: participava dos eventos, tinha seu grupo de amigos e boas notas. Com os conflitos familiares, CVS passou a ter crises de ansiedade no meio das aulas.
“Várias vezes eu saí da sala chorando e perdi o ar. Ninguém sabia o que eu estava passando“, lembra.
Mas, os professores perceberam a mudança de comportamento e a convidaram para ser atendida por psicólogos do projeto “ Inteligência Emocional ”,
.
“Quando me chamaram, eu fiquei com vergonha de aceitar porque achava que meus colegas iam pensar que eu estava ficando maluca. Mas foi a melhor coisa na minha vida.”
Assim como ela, KVA teve problemas de saúde mental acolhidos dentro da escola.
“Eu tinha dificuldades em demonstrar e identificar meus sentimentos. Era antissocial e não conversava muito, pois tinha medo de julgamentos. Então, guardava esses conflitos comigo mesmo”, recorda. “A realidade de cada aluno é diferente. Tem colegas que enfrentam traumas, ansiedade, abusos sexuais e até depressão
Por isso, a escola pode ajudar muito no sentido de acolher e cuidar, porque aqui é a nossa segunda casa.
Quando a escola olha para a nossa saúde mental, a gente percebe que não somos só um número na chamada ou uma aprovação no vestibular, mas que temos histórias e uma vida que precisa ser cuidada e amada, complementa.
Os encontros na escola da zona leste , acontecem todas as sextas feiras com a Dra Katiane voluntária no Projeto.
Além da melhora da autoestima e do autocontrole, os adolescentes ficaram mais interessados nas atividades escolares, mais comunicativos e empáticos com as dores dos outros.
O projeto “Inteligência Emocional” promove a saúde mental por meio de diálogo e escuta ativa, fora da sala de aula.
Ajuda psicológica ainda é uma realidade distante das escolas
No entanto, a realidade mostra que há um déficit entre o número de psicólogos presentes nas instituições e o volume de estudantes que precisam de atendimento. Até 2022, por exemplo, o Censo Escolar mostrava que a média nacional era de um psicólogo para 1.900 alunos. Ou seja, é insuficiente para suprir as necessidades dos estudantes.
Desse modo, após episódios de ataques violentos em escolas e casos de suicídio de estudantes, o Governo Federal institui, no início do ano, a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares. Segundo a Lei 14.819, todas as escolas públicas devem ter ações de promoção, prevenção e atenção psicossocial. Para isso, elas precisam oferecer espaços de reflexão e contratar psicólogos. A responsabilidade é do Governo Federal, que incluiu a política ao Programa Saúde na Escola (PSE), integrando os Ministérios da Saúde e da Educação.
Dados
Desde 2001, foram 37 ataques violentos às escolas registrados no país. Os anos de 2022 e 2023 concentraram 58% do total. Ao mesmo tempo, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que a taxa de suicídio entre jovens no Brasil cresceu 6% entre 2011 e 2022. Já as auto lesões aumentaram 29% entre pessoas de 10 a 24 anos*
Essas ações precisam ser sempre coletivas, com espaços abertos para discutir sobre saúde mental e treinamentos antibullying para toda a comunidade escolar.
Eles precisam saber como identificar e denunciar, para quem pedir ajuda e como dar suporte. Não pode restringir a responsabilidade apenas ao psicólogo da escola porque lá não é um consultório, e as questões não são só individuais, mas também institucionais.
Portanto, quando uma criança ou adolescente está em sofrimento, é necessário perceber os sinais que são verdadeiros pedidos de ajuda.
Eles envolvem isolamento na hora das interações, queda repentina no desempenho, falta de interesse, tristeza excessiva ou agressividade.
Durante as consultas, os estudantes se queixam de estresse pela cobrança por um bom desempenho na escola e também de bullying, agressões físicas da família , maus tratos, agressões verbais e até casos de abuso sexuais que desencadeiam problemas ainda mais sérios.
“Eles se sentem presos e sufocados; têm ansiedade, estresse, depressão, falta de motivação e atenção. Tudo isso se materializa no comportamento demonstrando que eles não estão dando conta e precisam ser acolhidos”, afirma. Assim, para se livrarem de um cenário de falta de acolhimento e de validação dos sentimentos, a saída costuma ser a mais drástica” Segundo Juliane.
Bullying precisa ser visto com seriedade pelas escolas
“Nunca são os agressores que nos procuram, só as vítimas. Quando um aluno busca ajuda, ele já está adoecido. Depois de passar muitas vezes por alguma situação de agressão – geralmente, sofrendo calado por muito tempo, esse aluno está quase explodindo de maneira violenta. Isto é, está à beira de uma crise ou já está
em crise”. Diz a professora Juliane.
Alguns alunos e até profissionais da escola acham que o bullying é brincadeira e não têm noção da gravidade e intensidade que isso pode causar na vida do outro.
Uma vez que as escolas são locais de muitos conflitos, preconceito e bullying, A psicóloga enfatiza a importância de atuar preventivamente. Ou seja, educar desde cedo e de forma constante a comunidade escolar para combater o que ela chama de ciclo do bullying.
O ciclo envolve os seguintes atores: a vítima, que sofre calada; o observador, que vê as agressões, mas não fala nada; os apoiadores, que têm medo de quebrar a regra e seguem de plateia; e o agressor, que precisa desse público para se sentir superior, explica.
O apoio psicológico precisa, portanto, atender a todos, mas a vítima em primeiro lugar e, depois, o agressor. No entanto, ela conta que já atendeu “agressores que não se davam conta do mal que estavam fazendo com os colegas”.
Quais estratégias preventivas podem dar certo?
Realizar uma psicoeducação
Mostrar por que é importante ter regras de boa convivência, respeito e limites com os outros.
Encaminhar casos mais específicos
Em algumas situações, a escola pode pedir o encaminhamento das partes envolvidas para atendimento clínico junto às respectivas famílias para “trabalhar dos dois lados”.
Integrar escola e família
A participação da família em todo o processo de acolhimento e terapia é fundamental. “A escola pode intermediar os conflitos, mas as famílias também são responsáveis pelas atitudes de seus filhos.
Portanto, estar atento às mudanças de comportamento dos estudantes e ter ações efetivas contra o bullying são passos importantes para cuidar da saúde mental nas escolas de maneira sensível.
“Eu não tinha informações sobre onde procurar ajuda e o projeto me ajudou na convivência dentro da escola e em casa. Voltei a falar com o meu pai, a me concentrar nos estudos e isso foi transformador”, conta uma adolescente. Já outro aluno conseguiu apresentar trabalhos em público e conversar mais com os colegas. “A terapia e as atividades mudaram minha forma de ver a realidade do mundo e a minha realidade”. Para ele, a escola tem a responsabilidade de formar cidadãos e cuidar da saúde mental dos alunos, “porque a pessoa precisa se conhecer, entender seus sentimentos e aceitar os momentos de fraqueza, não apenas ser o melhor em tudo”.
A escola é responsável pela educação de valores humanos, e não só de resultados acadêmicos.
Também é preciso que a escola e as famílias estejam em diálogo com os alunos. Apesar disso, segundo ele, ainda há despreparo dos profissionais. “Não se trata só de fazer campanhas ou promover palestras. Mas atuar todos os dias e dar prioridade para essa questão.”
Iniciativas que deram certo em outros países
Um levantamento feito em parceria entre a Fundação Lemann e a organização Vozes da Educação mostrou como alguns países tratam a saúde mental dos estudantes a partir de políticas públicas específicas.
As ações vão desde garantir um orçamento para programas de atendimento psicológico para crianças e adolescentes nas escolas, até projetos com atendimentos on-line e em clínicas ambulantes.
- Confira algumas iniciativas que deram certo:
Chile
Escolas de regiões de vulnerabilidade econômica e social do país são atendidas pelo “Programa Habilidades para a Vida“, há 26 anos. Assim, depois de um diagnóstico de cada escola, acontecem intervenções psicossociais e ações coordenadas junto à comunidade para melhorar as habilidades pessoais, a saúde mental e o desempenho escolar dos estudantes.
Canadá
Programas regionais tratam a saúde mental como prioridade na vida de crianças e adolescentes. O projeto “School Mental Health Ontario“, por exemplo, atende alunos de todos os níveis da educação escolar e envolve familiares e professores. Além disso, disponibiliza uma plataforma on-line que informa os locais de atendimento com profissionais, consultas virtuais, por telefone, presenciais e em clínicas ambulantes.
Finlândia
Desde 2014, uma lei determina a garantia do bem-estar dos estudantes a partir da promoção da saúde física e mental. Os projetos devem atender a educação infantil até o ensino superior com a inserção de assuntos relacionados no currículo escolar, equipe multiprofissional e um sistema de apoio psicológico em todas as instituições.
Austrália
Existem dois projetos ativos: o “Seja Você”, que cuida da primeira infância até os 18 anos; e a “Estratégia Nacional de Saúde Mental e Bem-Estar Infantil”, para crianças até 12 anos. Ambos são financiados pelo governo e atendem estudantes, famílias e profissionais da educação. Nesse sentido, além da presença de psicólogos nas escolas, há orientações sobre intervenção precoce e sobre como encaminhar para atendimentos específicos, por exemplo.
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