Pelo resgate do jornalismo

Por Auxiliadora Tupinambá*

Vemos a cada dia um volume constante de informações sendo geradas e consumidas diariamente no mundo, fato que, segundo um estudo da Dell EMC, multinacional de armazenamento de dados, deverá chegar, até o fim desta década, ao equivalente 6 mil gigabytes por pessoa conectada à rede.

Em meio a esse cenário, entendemos que há importância do registro histórico dos fatos ocorridos em nosso tempo, em nossa sociedade, no local em que vivemos. E isso é o papel do jornalista. “O jornalista é o historiador do instante”, disse Albert Camus, no jornal Combat, impresso da resistência francesa, em 1944.

O que ficará de legado para as futuras gerações, para que consultem ou conheçam o que ocorreu no passado, se não tivermos esse registro? E se a maior parte das informações divulgadas e promovidas for falsa? Ou se a maior parte delas estiver a serviço um valor ou uma crença pessoal, que não corresponde necessariamente ao fato circunstancial, que não tenha um rigor técnico de apuração, de relato, de abrir a oportunidade para que todos os lados se manifestem? Aparecerá apenas quem tiver recursos para bancar seu lado da história.

É nesse sentido que pensamos o projeto Selo de Credibilidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJP/AM), fruto de discussão e doação – de tempo, inteligência e boa vontade – de pessoas dispostas a lutar pelo resgate do jornalismo e pela valorização do exercício profissional do jornalismo. E isto não é punir ninguém, mas valorizar quem segue critérios e tem custos para produzir informação de qualidade.

Imagine que, como em outra profissão qualquer, este profissional investe tempo e recursos financeiros para estudar, conhecer as origens desta ciência que é a própria escrita do homem sobre o seu tempo, que se dedica a aprender a como se posicionar num cenário futuro de informação instantânea, como adequar a linguagem ao meio, entre outros rigores, inclusive éticos, para o trato da informação, ter que disputar vagas com salários baixos, com desrespeito de garantias mínimas trabalhistas, porque concorre com quem sequer tem um jornalista responsável assinando o conteúdo muitas vezes reproduzido, sem citação de fonte, ignorando que para produzir informação há um custo real.

A nossa proposta é a de que, o veículo que queria aderir a este selo, deverá inscrever-se no edital para ser avaliado por uma comissão plural, composta por representantes de várias organizações da sociedade civil, para auferir a existência de alguns critérios mínimos como a produção de conteúdo autoral, ortografia, existência de um jornalista responsável, espaço para manifestação da sociedade, entre outros. A adesão não é obrigatória, é livre.
Posto isso, entendemos que cada governante tem seu plano de governo e suas prioridades enquanto administração pública. Mas que, no trato de verba pública, pode e deve adotar critérios para sua aplicação. E se pudermos lembrar que o exercício profissional do jornalismo é um deles, ótimo. A audiência pode ser outro fator. Inclusive, esta entidade sindical está de portas abertas para ajudar na construção desse caminho junto aos portais e blogs existentes.

Por que não caminharmos juntos em um cenário onde ganhamos todos? Sociedade, profissionais, empresários com disputa saudável de conteúdo de qualidade? A quem interessa o caos? A quem interessa nivelar o jornalismo por baixo, abrindo espaço para o crescimento de Fake News?

Ter um lado, trabalhar para um grupo ou um lado do poder tem seus caminhos legais: a propagada, a assessoria, a campanha, a promoção de ideias, entre outros. E isto favorece a todos nós enquanto sociedade porque desde que o homem se entende como tal busca situar-se no tempo e no espaço, por diversos meios. É preciso um chão, uma base sólida para se construir a história e isto, somente o jornalismo é capaz de dar.

*A autora é jornalista e presidente do Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Amazonas