Declaração de Amor

Por Carlos Santiago*

Não tenha medo de amar. Viva o amor com toda a felicidade. Sinta o seu sorriso, suas lágrimas, as angústias, o seu desatino. Aproveite tudo! Eu já amei com fervor. Amores correspondidos e amores decepcionantes, mas todos inesquecíveis. Vá encontrar o teu amor, vai dizer sim, porque a vida é única. Ninguém será lembrado por riqueza material, mas pelo seu ideal, atitudes e amores. Então, viva mais ao lado de quem se ama ou procure ser amado. Procure ser feliz por meio do amor e não do glamour. Basta viver juntinho de quem você ama ou que lhe ama, sem pressa, curtindo o sentimento.

Há treze anos, na saída da sala de aula do mestrado, na Universidade Federal do Amazonas, ouvi o chamado de uma amiga: “oi, Carlos, preciso falar contigo”. Era uma amiga meiga que sempre estava me ajudando nas disciplinas do curso, em especial, na parte de matemática, área do conhecimento humano tão difícil aos sociólogos. Parei. Ela se aproximou, olhou para mim e disse sorrindo: “sei que tu estás sozinho e gostaria de namorar contigo, pois acho que amo você”.

Fiquei até atordoado com a declaração. Não imaginava aquela pessoa que eu sempre dividia leituras, segredos, e a admirava pelas conversas sobre a situação política do País, estava ali declarando seu amor por mim. Mulher de beleza amazônica, falava com o sorriso, cheiro gostoso, educada e muito inteligente. Mas guardava nas mãos as marcas de uma infância pobre e de um intenso trabalho doméstico pra sobreviver.

Diante daquela mulher fiquei totalmente bobo, sem saber bem o que falar. Argumentei que não estava pensando em ter nova relação naquele momento, porque tinha acabado de sair de um namoro cheio de conflitos, envolvendo ciúmes e intolerância. A verdade é que estava visivelmente emocionado.

Posterior as minhas palavras tolas, com tom sincero, ela falou: “eu não tenho nada. Nem emprego e nem dinheiro, a minha vida foi gasta pra ajudar meus pais e criar meus irmãos. Não me sobrou tempo. Mas não me arrependo disso. Agora, quero cuidar um pouco de mim, e quero começar contigo”.

Após ouvi-la, fiz uma despedida decente, saí pelo corredor, quase correndo devido a um compromisso profissional. Mas aquelas palavras ditas de coração ficaram na minha mente. Passei a noite pensando naquilo. Os dias foram acontecendo e as palavras não saiam de dentro de mim…

Um mês depois, resolvemos conversar. Fui a sua residência. Ela morava no quarto andar de um prédio. E lá, debaixo, gritei seu nome. Dezenas de moradores apareceram nas janelas dos apartamentos, em uma delas, a minha amiga apareceu. Quando me viu, desceu como um foguete, com apenas um notebook nas mãos e com o sorriso lindo nos lábios.

Ela me deu um abraço. Um daqueles que me fez sentir um menino protegido e também um homem amado e amando. Eu a levei pra casa e lhe fiz juras de amor. No dia seguinte, acordei às seis e meia da amanhã e não a vi na cama, nem nos quartos. Não estava dentro de casa. Fui ao quintal e ela estava lá aguando as plantas, que tanto adoro.

Pois bem, noivamos e casamos. Tivemos conflitos e superamos. Ela passou no concurso para docente da UFAM, fez doutorado e tem uma bela carreira profissional. Hoje continuamos juntinhos, confidentes e unidos por sentimentos e admirações. Estou feliz e continuo acreditando que a melhor receita para viver bem é o amor. Por isso, sempre que posso lhe faço uma declaração de amor.

 

*O Autor é Sociólogo, Analista Político e Advogado.