ROCK IN RIO II E “TODA FORMA DE PODER”

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Bombardeados pela crítica marrom, mas idolatrados por seu público, no Rock in Rio II, em 1991, o Engenheiros do Hawaii foi reconhecido por ter feito um show de qualidade comparável aos dos gringos pelo New York Times. Formada por alunos da faculdade de arquitetura que usavam bermudas de surfista, a banda nasceu em 1984 para o que seria uma única apresentação em virtude de um protesto por causa de mais uma paralisação das aulas na UFRGS.

Do primeiro álbum da banda, a canção “Toda Forma de Poder” critica a forma como são tomados os poderes e principalmente a forma como a população age diante desses poderes. Também diz que não fazemos nada para mudar os rumos dos acontecimentos e, mais do que isso, ainda aceitamos que os donos dos poderes façam o que bem entenderem. Abaixo transcrevo alguns versos da canção:

“Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada” (…)

“A história se repete

Mas a força deixa a história mal contada” (…)

“E o fascismo é fascinante

Deixa a gente ignorante e fascinada

É tão fácil ir adiante e se esquecer

Que a coisa toda tá errada

Eu presto atenção no que eles dizem

Mas eles não dizem nada

Se tudo passa, talvez você passe por aqui

E me faça esquecer tudo que eu vi”

 

Hoje não é Fidel e Pinochet quem tiram sarro de você, o fascismo/comunismo/petismo já não deixa mais ninguém fascinado, mais do que nunca eles continuam falando, mas não dizem nada, porém, continua sendo fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada. Como é saudoso o movimento estudantil caras-pintadas que em 1991 embalou-se no Rock in Rio II ao som das canções do Engenheiros do Hawaii, e em 1992 foi para as ruas pedir o impeachment do presidente Collor que, envolvido em escândalos de corrupção, renunciou em 29 de dezembro de 1992, horas antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade. Collor havia vencido na eleição de 1989 ninguém menos do que o Lula. Minha matrícula na universidade era 883359-4. Portanto, também estudante e cara-pintada.

Nesta semana, dias antes do Rock in Rio, Murilo Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, pediu licença da função “por motivo de saúde”… e foi curtir o Rock in Rio até as 4h da madrugada. Percebe-se que hoje, quem vai ao Rock in Rio são prefeitos (como o de Manaus), deputados (como o presidente da Câmara), senadores (como o ex-cara-pintada Lindberg Farias) e presidentes de Conselho de Administração de estatais, quase todos envolvidos em escândalo de corrupção.

Outra canção do Engenheiros do Hawaii que embalou nossa juventude foi “Somos quem podemos ser”, cujos versos são, no mínimo, intrigantes:

“Um dia me disseram

Quem eram os donos da situação

Sem querer eles me deram

As chaves que abrem essa prisão” (…)

“E tudo ficou tão claro

O que era raro ficou comum” (…)

“Quem ocupa o trono tem culpa

Quem oculta o crime também

Quem duvida da vida tem culpa

Quem evita a dúvida também tem”

 

Todos já sabemos muito bem quem são “os donos da situação”, temos experimentado o gosto amargo dos desvios éticos e morais dos “donos da situação”, antes, raros, agora, comuns.  Em tempos de delação premiada, ninguém tá ocultando crime alheio, embora também tenha culpa. Quiçá alguém tenha coragem de oferecer denúncia por crime de responsabilidade da “filha do Lula”. Em parte, eu penso como o Humberto Gessinger: creio que “Quem ocupa o trono tem culpa”, sim; que, provavelmente, tudo passe; porém, eu não creio que vá esquecer tudo que eu vi.

 

Nilmar Oliveira, mestre e doutorando em Economia pela Universidade Católica de Brasília, foi a grande surpresa da eleição de 2014, obtendo mais de 48 mil votos para deputado federal, sem jamais ter disputado nenhuma eleição. É presidente municipal do PRB.

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