Por Paulo Ricardo Oliveira, de São Paulo
Nas duas últimas lutas pelo UFC, o gaúcho Fabrício Werdum, 38, viveu o céu e o inferno. ‘Vai Cavalo!’, apelido de infância, conquistou o cinturão dos pesos pesados derrotando por finalização (guilhotina) Cain Velásquez, na casa do adversário, Cidade do México. Menos de um ano depois, em Curitiba, na edição 198 do Ultimate, Werdum caiu que nem madeira de lei nocauteado por contragolpe no queixo de Stipe Miocic a 2min47seg do primeiro round, perdendo de forma “avoada”, como ele próprio assume, em casa, o título que arrancou tão bravamente de Velásquez fora dela. Mas “Vai Cavalo!” se diz pronto para entrar em ação novamente na sua cruzada pessoal pela reconquista do cinturão. O ex-campeão tem luta marcada contra Ben Rottwell, dia 10 de setembro, na cidade de Cleveland, em Ohio, nos EUA, no co-main event do UFC 203. Neste mesmo dia, Miocic, que tirou o cinturão de Werdum, faz a luta principal contra Alistar Overeem. São dois duelos de pesos-pesados pegadores e promessa de troca de chumbo grosso para os expectadores. Enquanto se prepara, Werdum falou com exclusividade ao blog sobre sua volta e outros assuntos na entrevista a seguir:
Blog – Caso você vença o duelo contra Rottwell, o UFC lhe concede a chance de reconquistar o cinturão dos pesados?
Werdum – Estou esperando que o UFC me dê realmente logo a chance de lutar pelo cinturão novamente. Para ser sincero, eu esperava a revanche logo após a derrota para Miocic, pois eu vinha de seis vitórias consecutivas e perdi o título por uma fatalidade, um vacilo talvez. Mas tudo bem. A derrota aconteceu, já assimilei, vou tirar uma lição disso, e agora é pensar na luta contra o Rottwell, que é um cara duro, perigoso na trocação. Estou cem por cento focado na minha próxima luta. O que vem depois dela, o UFC vai decidir.
Blog – O que aconteceu para você perder o cinturão para o Miocic de forma tão rápida, dentro de casa, quando você parecia muito à vontade no combate?
Werdum – A lição que eu tirei dessa derrota foi voltar a treinar forte para reconquistar o cinturão. Eu estava cem por cento preparado fisicamente. Mentalmente pode ser que tenha havido alguma falha minha, mas eu estava forte também de cabeça. Não tinha pressão para ganhar em casa. Eu estava muito à vontade e confiante. Pode ser que eu tenha me desconcentrado um pouco. Mas não podemos tirar o mérito do Miocic, que me acertou um soco no lugar certo. Peso pesado é assim mesmo, quando pega de jeito, pega e acabou a luta. Mas já passou. Para mim está superado. Não sou de ficar remoendo minhas derrotas. Eu aprendo com elas. Foi uma pena eu ter perdido o cinturão. Não gosto de dar desculpas. Mas talvez tenha acontecido um conjunto de pequenas coisas, que, no geral, a gente avaliando depois, podem ter influenciado para eu entrar avoado, aéreo no início da luta. Já voltei para o treino forte para a próxima luta.
Blog – O Brasil já teve a metade dos cinturões do UFC sob seu domínio, mas foi perdendo um a um com o tempo. O que houve com os brasileiros?
Werdum – Acho que acontece. Perdemos todos os cinturões, mas recuperamos dois numa noite só. Temos muita qualidade e quantidade no Brasil. No meu ponto de vista nós somos os melhores do mundo ainda. Resta uma questão de tempo para a galera acertar e reconquistar os cinturões. Eu, por exemplo, estou totalmente focado na minha reconquista do cinturão dos pesados. O Jacaré (Ronaldo, do peso médio) também está muito forte e afiado. Tão logo ele tenha a chance de disputar o cinturão dos médios, tenho certeza que ele será o campeão. Então é uma questão mesmo de tempo e de acertar. Não tem como dizer porque perdemos os cinturões. É luta, é o UFC, a competição é em altíssimo nível e os lutadores dos outros países têm evoluído bastante. Então qualquer erro, qualquer detalhe, qualquer estratégia falha, você pode perder um título. Ou ganhar também.
Blog – Você se mudou há algum tempo para os Estados Unidos com a família, já vai fazer 39 anos, compete em alto nível faz muito tempo, tem exercido funções fora do octógono. Fale um pouco sobre o futuro e a carreira paralela.
Werdum – Eu continuo morando nos Estados Unidos, aqui em Redondo Beach (no Estado da Califórnia) com minha esposa e minhas duas filhas. Tenho um bom trabalho como comentarista do UFC nos eventos para os quais eu não estou convocado a lutar na América Latina por falar bem espanhol. Sou embaixador do MMA na América Latina. Estou feliz com esses trabalhos paralelos, já vou fazer o terceiro filme. Acredito que eu esteja fazendo a coisa certa, traçando uma carreira paralela, porque já vou fazer 39 anos dia 30 de julho, como você disse, e já tenho que pensar na próxima fase da vida, porque daqui a pouquinho já é hora de pensar em outras coisas.
Blog – Você acompanha a atual situação econômica e política do Brasil? Acha que país tem jeito?
Werdum – Para ser sincero, eu não sou muito ligado em política, não. Acho que no Brasil os políticos não têm respeito pelo povo que vota neles, que paga os impostos, e impõem sua roubalheira para todos os lados. Há vários ignorantes no poder, gente sem formação, sem consciência. Há muita gente que não tem condições de estar na política e nem merece, mas está lá, decidindo, mandando, roubando. Acho que vai ser muito difícil mudar isso. Para você ver os que comandam o Brasil como o líder, que é o presidente atual (Michel Temer\PMDB) rouba mais que todo mundo, é citado nas investigações (riso irônico). Então como mudar? Acho difícil mudar até que chegue alguém e dê um basta nisso tudo, na corrupção, na falta de respeito com o dinheiro do povo.
Blog – Você tem uma carreira sólida, vive o auge hoje, já lutou nos principais eventos do Brasil, como o Jungle Fight, e do mundo. Relembre um pouco das idas a Manaus…
Werdum – Lutar em Manaus foi uma das experiências mais marcantes da minha carreira. Eu saí do Sul e atravessei o país até o Norte. Eu adorei ter conhecido a Amazônia. No primeiro Jungle Fight nós ficamos no Ariaú, aquele hotel de selva. Foi muito legal, com comidas típicas, peixes gostosos, aventura na selva, mosquitos (risos). Foi muito bom. Na segunda vez, o Jungle aconteceu na capital. Foi aí que eu conheci um pouco a cidade. Notei que o povo é muito acolhedor, gosta de luta. Há vários lutadores cascas-grossas do jiu-jitsu como a Bibiano Fernandes, o José Aldo, o Ronaldo Jacaré e tantos outros campões. Mais adiante, quando eu me aposentar, eu adoraria voltar a Manaus com minha família para conhecer melhor a cidade.
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