O advogado Raione Cabral, de 34 anos, foi preso pela Polícia Civil acusado de uma tentativa de estupro contra uma jovem de 20 anos. Ele também teria feito contrato com a duas partes contrárias, o que o Estatuto da Advocacia proíbe. Polêmico, o profissional é adversário dos Pinheiro, que comandam a política em Coari há pelo menos duas décadas e na última eleição foi preso pela Polícia Federal depois de distribuir dinheiro para a população e uma praça movimentada daquela cidade. Sua candidatura a prefeito foi contestada pela própria direção de seu partido, o Mobiliza.
Cabral foi alvo de cumprimento de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão no domingo (13/04), no bairro Alvorada, zona centro-oeste.
O delegado Paulo Mavignier, diretor do DPI, citou que as investigações apontam que o advogado se utilizou das prerrogativas para cometer a tentativa de estupro, e aproveitou a oportunidade para parabenizar a equipe de investigação da DIP de Coari. “A ação reforça que o combate à violência, especialmente contra a mulher, é uma prioridade absoluta da PC-AM”, disse o diretor do DPI.
Crime
Conforme o delegado José Barradas, titular da unidade policial, o crime foi praticado em agosto de 2024, em Coari, quando a vítima contratou os serviços jurídicos do suspeito para defender o seu companheiro, que foi preso por roubo majorado. Ele roubou o celular da mãe do advogado, todavia, a companheira do autor não sabia quem era a vítima.
“A jovem procurou o escritório do advogado em Coari, ocasião em que eles acertaram um valor de R$ 5 mil pelo serviço. No mesmo dia, o companheiro da vítima participou da audiência de custódia, onde a prisão em flagrante foi convertida em preventiva, e quem o defendeu foi um defensor público e não o advogado contratado pela jovem”, contou o delegado.
Segundo o delegado, na noite daquele dia, o advogado foi até a casa da vítima e a ludibriou, alegando que o companheiro dela ainda não tinha participado da audiência de custódia e que aceitava defendê-lo. Então ele pediu que ela fosse com ele no carro até o escritório para acertar mais detalhes da assistência jurídica.
“Durante o caminho, ele ficou rodando com ela pela cidade, explicando que o companheiro dela não ia ficar preso, sendo que ele já estava com a prisão preventiva decretada e já tinha sido feita audiência de custódia. Em determinado momento, ele fez um movimento brusco e entrou em um motel, onde tentou abusar sexualmente da jovem”, explicou o delegado.
De acordo com o delegado, a vítima entrou em luta corporal com o suspeito para evitar o estupro, mas ele ainda conseguiu praticar atos libidinosos contra ela.
“A jovem conseguiu fugir e seguiu direto para a delegacia de Coari para denunciá-lo, ocasião em que descobriu quem era a vítima do roubo. As investigações apontaram que, na verdade, o advogado não queria o dinheiro da jovem, mas sim ter relação sexual com ela”, falou o delegado.
Segundo o delegado, além da tentativa de estupro, o advogado vai responder pelo crime de tergiversação, que ocorre quando o advogado faz um contrato com as duas partes contrárias, que é proibido por Lei.
“Durante as investigações, a vítima também procurou o Ministério Público do Amazonas (MPAM). Ela foi ouvida, apresentou toda a documentação e o Ministério Público requisitou a instauração do Inquérito Policial (IP). A jovem passou por exames de corpo de delito e de conjunção carnal, por meio dos quais foram constatadas lesões nas partes íntimas dela”, mencionou o delegado.
Conforme o delegado, o advogado, ao saber da instauração do procedimento criminal, tentou atrapalhar as investigações, ameaçando a vítima e a autoridade policial.
“Ele utiliza de terceiros para atacar a autoridade policial, para tentar intervir na investigação, mas já estamos tomando as medidas cabíveis em torno disso. O advogado tem mais de 13 processos criminais na Justiça, pelos mais variados crimes, inclusive eleitorais”, disse o delegado.
Ainda de acordo com o delegado, o advogado também tem envolvimento em um furto de mais mil litros de combustível, apreendidos pela Polícia Militar do Amazonas (PMAM), durante patrulhamento no lago de Coari. Ele foi o advogado do suspeito que furtou o combustível.
“O material ficou guardado e lacrado em um flutuante, já que não era possível deslocá-lo para a delegacia por ser inflamável. A Comarca de Coari determinou que o material fosse doado para uso da Polícia Militar, entretanto, quando a guarnição chegou ao local para pegar o combustível, o vigilante falou que o advogado tinha vendido o combustível, mesmo sabendo que ele estava apreendido”, explicou o delegado.
O delegado informou, ainda, que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já foi comunicada que o advogado utilizou das prerrogativas de advogado para cometer os crimes.
Procedimentos
O advogado responderá por tentativa de estupro e tergiversação e está à disposição da Justiça.
Posição da OAB-AM
A Ordem dos Advogadosdo Brasil, seccional Amazonas (OAB-AM) informou que está acompanhando com a máxima atenção o caso envolvendo o advogado, por meio da Comissão de Prerrogativas e Valorização da Advocacia.
O presidente da Seccional, Jean Cleuter Mendonça, determinou prioridade no acompanhamento e cobrou celeridade na apuração dos fatos, reiterando o compromisso da instituição “com a verdade, com a justiça e com a proteção da sociedade”.
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