Para evitar uma leitura clara de ruptura, o partido optou por fazer essa tarefa num congresso da Fundação Ulysses Guimarães, entidade responsável pela formulação de políticas e propostas do partido. Esse fórum não tem poder decisório ou capacidade de produzir resultados formais dentro da estrutura partidária. Isso dá mais liberdade para críticas ao PT, o principal aliado do PMDB num casamento idealizado pelo ex-presidente Lula e que, em seu 12º ano de duração, já não encontra nas entranhas peemedebistas quem defenda a continuidade da relação para o cenário eleitoral de 2018.
Se o PMDB já teve no período pós-1985 o protagonismo de ver seus pares se sucedendo na cadeira da presidência da República, com nomes como Tancredo Neves, José Sarney e Itamar Franco (sem considerar Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso, ex-presidentes que passaram pelas fileiras do PMDB), o partido hoje busca sair da posição de coadjuvante fixo que passou a ocupar desde a eleição de FHC, em 1994.
Formado por três mesas de debates, o Congresso da Fundação Ulysses Guimarães pretende fomentar uma discussão interna sobre as posições do partido para o futuro, mas com um olho no presente. Se seus pares buscam ressaltar que o objetivo é olhar para frente, ninguém dentro do PMDB é ingênuo para imaginar que a sinalização deste congresso também não tem a ver com a possibilidade de assumir o comando da nação em caso de impedimento da presidente Dilma Rousseff.
A estrutura do ato dá pistas. Serão três fóruns de debate. A primeira mesa será coordenada pelo senador Romero Jucá (RR) e discutirá essencialmente o documento lançado pelo partido em 29 de outubro e batizado de “Ponte para o Futuro”, um esboço do que deverá ser o futuro plano de governo do PMDB. A segunda mesa, coordenada pelo deputado Baleia Rossi (SP), será responsável pela discussão sobre mudanças no estatuto do PMDB. A última mesa, cuja coordenação ainda não foi definida, será de tema livre. É nela que deverão ser lavadas as roupas sujas com o PT.
Mudanças no estatuto
Muitos peemedebistas se esquivam de aprofundar a questão. Argumentam que o objetivo é somente eliminar alguns vícios estatutários e modernizar o partido. Entretanto, uma mudança significativa deverá ser debatida e, como as demais mesas, ser alvo de um documento que será apreciado no convenção do PMDB, que será realizado em março de 2016: reeleição para o cargo de presidente da legenda.
Ulysses Guimarães presidiu o PMDB por 19 anos. O atual titular do cargo, o vice-presidente Michel Temer, já está a frente do cargo há 13 anos. O PMDB quer evitar que isso continue a acontecer e a limitação de reeleições deverá ser o principal tema da mesa coordenada por Baleia Rossi. O partido deverá propor a restrição das reeleições infinitas para o cargo de presidente. Por si só isso já sela a saída de Temer do comando do PMDB. Este seria seu último mandato na chefia nacional da legenda.
Eleição de 2018
Programa de governo será basicamente o objetivo da mesa relatada por Romero Jucá. Será ali que os peemedebistas pretendem aprofundar e ampliar a discussão iniciada no documento “Ponte para o Futuro”. Para muitos membros do partido, esse documento foi vendido como tese pacificada de todos, quando na verdade foi algo produzido pelo quarteto Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco e Delfim Netto. Portanto, a Ponte para o Futuro ainda precisa ser muito bem escorada para não desabar. A questão das desvinculações orçamentárias, por exemplo, não chega nem perto de ser consenso e está muito mais perto da categoria desavença.
Além da discussão sobre o programa de governo, o partido deverá amadurecer os nomes que poderão pleitear de forma realista a cabeça da chapa que o PMDB pretende e promete oferecer ao eleitor em 2018. O prefeito do Rio de Janeiro, o ex-tucano Eduardo Paes, é o favorito para esse lugar atualmente. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, um dia já foi nome obrigatório nesse tipo de discussão, mas dada a atual circunstância, sob a mira da procuradoria-geral da República e do Conselho de Ética da Câmara por suposto envolvimento no esquema de distribuição de propinas investigado pela Operação Lava Jato, virou fumaça.
Temer não é candidato. Um sonho seria o senador José Serra, cortejado pela cúpula peemedebista e sem espaço para ser candidato a presidente no PSDB.
O senador Brailo Maggi filia-se hoje à legenda.