Parcial, vermelho e barrento

Dizem os dicionários da língua portuguesa que o termo barroso indica um lugar barrento donde há lama.

Não por coincidência, o nome Barroso, de origem no norte de Portugal, tem como 

brasão um escudo chapado vermelho e ilustrado com cinco leões amarelos e ferozes.

Tudo isso parecem ser coincidência e piada pronta e de fato o são.

Para surpresa de ninguém, um membro dos mais suspeitos da mais alta corte de justiça do país, numa atitude claramente política, resolve discursar num comício de uma entidade estudantil comandada pela extrema esquerda e estando ao lado do ministro da justiça e de um membro do parlamento ambos filiados a partidos comunistas.

O ilustre e entusiasmado orador, dá com a língua nos dentes e vomita a mais absurda posição e escolha políticas, aliando seu discurso àqueles que são adversários da direita e do ex presidente, afirmando, peremptoriamente, que ajudou a derrotar o bolsonarismo.

Só pode ter fumado maconha estragada o travoso e afetado ministro do STF, ele que é o maior defensor da discriminalização das drogas no Brasil.

Seu pronunciamento ao vivo e em cores foi a mais eloquente manifestação de que, sim, parte da justiça superior do país tem lado, fez uma escolha preferencial por um dos espectros políticos e ideológicos e está disposta a ir às últimas consequências.

A clara intenção é, não somente defenestrar das disputas, como também apagar de vez quaisquer resquícios da direita e do seu mais influente membro que é o ex presidente Bolsonaro.

O indigitado e falastrão ministro da nossa suprema corte a exemplo de muitos dos seus pares, apostam que suas palavras, gestos e atitudes fora das quatro linhas, jamais serão punidas pois o inferno são sempre os outros.

Esse senhor, jamais poderia imaginar que sua preferência política e ideológica nitidamente pronunciadas de modo claro e insofismável durante o tal comício da UNE, uma das mais emblemáticas entidades ligada à extrema esquerda do país, fosse ter a repercussão e as consequências que tem alcançado.

Ali, a antes fala mansa e técnica do ministro, foi trocada por um ruidoso, empolgado e determinado discurso político, o qual se choca frontalmente contra a norma constitucional que determina que ministros da suprema corte não podem se manifestar politicamente.

Isso é para rir e chorar ao mesmo tempo!

Ficando apenas no riso sobre essa tragicomédia que mistura ingredientes de ópera bufa de quinta categoria, precisamos regredir no tempo e, mais uma vez, insistirmos na contação de um enredo histórico indigesto, a fim de melhor compreensão dos fatos, até alcançarmos essa figura que envergonha o nome da combalida justiça brasileira.

O atual presidente da república e alguns dos seus aliados foram pegos com a boca na botija da mais grossa corrupção da história do planeta, foi julgado por um juíz, reafirmada a condenação em todas as instâncias, para, ao final, ser descondenado e hoje governar o país.

Um ex juíz que julgou e condenou o ladrão, foi tornado suspeito pela suprema corte e hoje responde a processo de cassação do mandado de senador no seu estado.

Um ex procurador da república foi eleito deputado federal e cassado recentemente por um tribunal suspeito que aludiu ter o deputado “fugido” de processos disciplinares para disputar eleições em que foi o mais votado no seu estado natal.

Um deputado federal é preso por discurso de opinião, é agraciado pelo presidente da república com indulto, é solto e meses depois é julgado pela suprema corte que anula a graça concedida e o prende novamente.

Um ex presidente da república num processo e julgamento relâmpagos é tornado inelegível por “crime de opinião” ao discursar sobre o processo eleitoral brasileiro para o corpo diplomático estrangeiro sediado no nosso país.

Aqui, o parlamento não parla, a justiça não é justa, o executivo não executa, a democracia é relativizada e o comunismo, execrado mundo afora, pode ser incensado abertamente pelo presidente descondenado. Vôte!

No Brasil opinião é crime embora alguma parte da imprensa e alguns corajosos jornalistas se pronunciem porém, medindo palavras para não serem processados e presos, tal qual ocorria durante o período de governo militar há quase sessenta anos.

Neste país das maravilhas, minorias tem vez, voto e dominam espaços de falas e versões e onde a maioria é travada todo santo dia no seu poder de expor ideias e posicionamentos pois, o império do medo, se instalou nos cidadãos e nas instituições. 

É aqui, que milhões de brasileiros e brasileiras, assistem estupefatos desde meados do ano passado as mais absurdas sequências de mandonismo de um dos poderes sobre todos os demais.

Em 2022, assistimos impávidos, a justiça eleitoral claramente cercear um dos lados da disputa e privilegiar abertamente seu candidato preferencial e deu no que deu.

Após o resultado apertado e duvidoso de uma eleição pra lá de exacerbada, milhares de brasileiros foram para praças, ruas e ocuparam espaços defronte aos comandos militares e protestaram contra o resultado das urnas num claro e legal sentimento de indignação.

Passados alguns dias do início da atual gestão do país, parte da população brasileira resolveu marchar para a capital federal a fim de, ao amparo da constituição, exercerem seu direito de protesto pacífico e ordeiro.

Tal manifestação popular foi desgraçadamente desvirtuada por uma minoria ruidosa que depredou instalações públicas sob o olhar inerte das forças de segurança e inteligência federais de plantão.

O governo federal e a justiça superior do país em visível atitute de mancomunagem, determinaram-se a criminalizar todo esse espectro de cidadãos representantes de metade dos eleitores os quais não aceitaram o resultado num claro sentimento constitucional de revolta.

Mais de 1.200 cidadãos entre crianças, jovens, adultos e idosos, foram

arbitrariamente levados à prisão sendo que duas centenas destes estão sendo processados e continuam presos injustamente sem direito à defesa e ao contraditório e serão julgados ilegalmente por um tribunal suspeito num escabroso e revoltante processo judicial que não encontra precedentes na história política e criminal do país.

Essa mesma justiça que age contra cidadãos de bem e indefesos, foi a mesma justiça que descondenou um político sabidamente corrupto, tornou suspeito um juíz que aplicou corretamente a lei, prendeu, condenou e derrubou um ato legal e legítimo de indulto concedido pelo presidente da república a um parlamentar e cassou os direitos políticos de um ex presidente tornando-o inelegível.

Se vivêssemos de fato em um país sério onde a lei vale para todos, por causa da manifestação claramente política em um comício, imediatamente deveria se abrir contra esse ministro uma investigação e levá-lo a um processo de impedimento.

Ou então, aplique-se por simetria ou isonomia a lei, soltemos o deputado Silveira, torne-se nulo o processo de cassação contra o deputado Dalagnol, anulemos a suspeição do ex juíz Moro na lava a jato e devolvamos imediatamente os direitos políticos do ex presidente Bolsonaro.

Se nada disso acontecer, demos pois, por absolutamente ferida de morte nossa já cadavérica constituição, aceitemos que o Brasil é terra de ninguém, julguemos como falidos todos os poderes da república e aceitemos que nosso país verdadeiramente navega celeremente rumo à venezuelização.

Enquanto o medo toma conta e cerceia a vontade inalienável dos brasileiros de se manifestarem e exporem suas ideias e sentimentos, ministros da nossa suprema corte num desassombro desmedido e irrefreável, permitem-se todos os dias

a viajarem pelo mundo e participar de atos técnicos e políticos falando o que der na telha sem o menor receio de serem admoestados ou sofrerem as punições permitidas pela lei.

Em um país onde a insegurança jurídica impera, não tenhamos a menor sombra de dúvidas de que o ativismo judicial de grande parte dos membros das cortes julgadoras brasileiras, vão levar o Brasil a uma grave crise institucional e a uma total entropia política pior do que já estamos vivenciando com consequências altamente perigosas para nossa tenra e frágil democracia.

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