O museu da corrupção

Por Carlos Santiago*

Não custa nada sonhar com um Brasil próspero e ético em que as instituições e as relações sociais sejam estabelecidas por interesses coletivos e com uma administração pública movida pelas necessidades da sociedade. Um País em que a corrupção, seus agentes, cúmplices e malfeitores sejam tão somente objetos raros de exposições e de estudos em um Museu da Corrupção.

Um museu em que brasileiros do futuro tenham as informações verdadeiras sobre os grandes responsáveis por um País movido pela corrupção, com péssimos serviços públicos e economicamente desigual.

Um espaço com placas alertando os visitantes sobre a morte de milhões de brasileiros vítimas da corrupção, com as fotos de vilões, membros de instituições estatais, de instituições privadas, de políticos e de empresários para demonstrar que nos atos de corrupção existiam os agentes ativos e os agentes passivos, sempre agindo contra a sociedade.

Com um lugar destacado para o Poder Executivo, representado por ex-presidentes da República – de todos os matizes ideológicos, muitos roubaram e outros deixaram roubar. Não faltariam ex-governadores, prefeitos e familiares que ficaram ricos nos cargos.

Nele, o Poder Judiciário estaria simbolizado pelos ex-ministros do Superior Tribunal de Justiça – STJ e do Supremo Tribunal Federal – STF, alguns por venda de sentenças e outros por julgar casos de corrupção conforme o poder político ou econômico do réu. Nem ex-membros dos tribunais de justiças escapariam, omissões e compadrios seriam a tônica.

No setor destinado ao legislativo, não faltariam ex-presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados condenados, e nem os deputados que votaram pela permanência de um ex-presidente corrupto. Muitos, inclusive, usando as denominações religiosas para ganhar dinheiro e roubar. Ex-deputados estaduais marcariam presença com os parceiros das roubalheiras.

Proprietários da mídia não poderiam faltar também, cúmplices e achacadores, dividindo o local com ditadores e articulistas de ideias promotoras do serviço sujo, fazendo de tudo para conseguirem verbas governamentais de forma espúria.

Imagens de empresários decorando o ambiente. Cartéis, fraudes em licitações, corrupção ativa configurariam alguns de seus crimes e práticas criminosas que eram repassadas de pai para filho.

O sistema político e as leis que colaboraram com os crimes de corrupção e a impunidade ocupariam lugar de destaques na entrada do museu da corrupção. Malfeitores corruptos da advocacia e do Ministério Público estariam, estampados em adornos.

Nesse Museu de horrores, membros dos tribunais de contas estariam com os privilégios “abissais” e o vínculo político com a falta de ética e a cultura do filhotismo: fulano avô, beltrano filho, sicrano neto.

Já estamos em 2019 e as tragédias alimentadas pela corrupção continuam matando, mas continuo sonhando com o dia em que a corrupção e suas consequências sejam apenas objetos de um museu.

*O autor é sociólogo, analista político e advogado.