JUCA III-O I FMC a gente nunca esquece 

Numa sequência de artigos que se encerra com este, estivemos escrevendo sobre a criação dos Círculos Bíblicos e com eles a implementação dos grupos de jovens na Paróquia de Santa Rita no bairro da Cachoeirinha na década dos anos de 1970.

A inquietação própria da juventude daquele tempo, foi o estopim a empurrar nossos ímpetos juvenis e, a partir da conversa do Aluysio e do Álvaro Pontes, surgiu a ideia de se realizar um festival de música na paróquia para animar a juventude, revelar talentos e renovar o acervo musical para as liturgias das missas, como já o dissemos anteriormente.
Ocorre, que ao finalizamos o artigo anterior, deixamos um quê de suspense quando informamos que estando tudo pronto para a realização do I Festival de Música Cristã-FMC, eis que surgiu um gravíssimo problema que quase põe por terra meses e meses de muita luta, suor e lágrimas para que tudo ocorresse sem atropelos.
E é, dessa parte do I FMC, que a gente vai falar nesse artigo, até chegar à participação da juventude de Manaus em festivais de música cristã no vizinho estado de Rondônia.
As eliminatórias do I FMC de Manaus(lembro que a ideia inicial era apenas um festival paroquial mas a coisa tomou proporções inimagináveis como relatado no artigo anterior) foram realizadas nos dias 23, 24 de abril, na Capela de Santa Cecília, que era jurisdição do Grupo Juca, e, a grande finalíssima, teve como palco o emblemático Cine Ypiranga no dia 27 do mesmo mês do ano de 1977.
Selecionadas as músicas nas eliminatórias, prazo de uma semana para mais ensaios com a banda musical, cenários montados uma belíssima obra do Ramiro e do Mário, apresentadores definidos que foram o Adonay Vasquez e a Ceiça Silva, ingressos sendo vendidos, torcidas paroquiais em polvorosa, eis que o proprietário do Cine Ypiranga, senhor Adriano, no dia determinado para a finalíssima, condicionou a liberação do espaço ao pagamento antecipado do aluguel.
Essa grana a gente não tinha, pois esperaríamos vender os ingressos na porta do cine para então pagarmos o compromisso.
A equipe de coordenação entrou em verdadeiro desespero ao ver as torcidas chegando e impedidas de entrar no local.
Eis que nessas horas Deus envia seus anjos para socorrer os seus!
Participava do JUCA, um jovem e arrojado empresário de nome Antônio Moura que era frequentador habitual e amigo do dono do Cine Ypiranga.
Recorremos ao Tonho, como era carinhosamente chamado esse jovem, e ele foi lá e garantiu que se os ingressos vendidos não cobrissem o valor do aluguel ele bancaria o pagamento do próprio bolso.
O senhor Adriano aceitou o compromisso e assim, a coordenação, os apresentadores, os jurados, as torcidas, a banda e os intérpretes das músicas selecionadas, finalmente puderam entrar no recinto.
Abraços e choros de emoção e alívio tomaram conta de todos.
Nessa grande final foram premiadas as cinco músicas melhores classificadas pelo corpo de jurados, formados por líderes expoentes da comunidade cristã, músicos, professores e religiosos.
Os prêmios serviriam como incentivo para os jovens continuarem estimulados a criar cada vez mais músicas com mensagens cristãs religiosas e, neste primeiro festival, foram entregues troféus do primeiro ao quinto colocado e violões até o terceiro colocado.
As músicas até hoje são cantadas nas celebrações das Igrejas e, a grande vencedora deste festival, foi a música CRISTO É AMOR interpretada por um grupo musical composto por jovens moças do Patronato Santa Terezinha.
Em Manaus o FMC frutificou. Muitas músicas vencedoras ou não passaram a ser cantadas nas missas das diversas paróquias de Manaus como era o sonho da coordenação.
Realizamos o segundo festival com o mesmo sucesso do primeiro desta feita no Ginásio do Colégio René Monteiro que bombou de público.
Aí veio o convite pra participar de um festival congênere em Porto Velho-RO o FEMUCE.
Corremos para criar e inscrever uma música que pudesse bem representar nosso estado lá.
Uma pequena caravana de jovens se preparou pra viajar.
Sem muita experiência nem bagagem para concorrer em festivais fora do estado, nossa participação foi tímida e ficamos apenas em quinto lugar com uma bela música.
A cada dois anos, o FEMUCE de PV era realizado, então, aguardamos o convite enquanto por aqui em Manaus, a gente preparava anualmente os nossos festivais.
Chegou o tempo de um novo FEMUCE e nos preparamos para concorrer pois o que não faltavam era bons compositores e intérpretes, entusiamo na equipe e sobretudo garra para viajar e concorrer.
A música selecionada era de autoria do grande poeta e compositor amazonense Alexandre Oto e foi magistralmente defendida pelo Genesio Bentes.
Partimos de ônibus pra Porto Velho na recém inaugurada Br 319 no ano de 1979 ainda com trechos inacabados e muitas balsas para atravessar os rios e igarapés no caminho.
A coordenação de lá nos hospedou na casa dos padres salesianos.
Chegamos três dias antes do festival e, numa das noites, alguns jovens mais afoitos do grupo, resolveram comprar vinho e beber em plena casa dos padres.
Confusão armada porque o Aluysio, chefe da equipe, chamou o grupo à responsabilidade, tudo isso em meio a uma oração grupal dentro da capela que existia na casa.
Ânimos se exaltaram mas a paz foi selada e o grupo se recompôs.
Fomos para a eliminatória do festival e nossa canção pegou forte entre as torcidas até de Porto Velho.
Classificados, fomos para a finalíssima. Todos os prognósticos davam como certa nossa vitória mas os jurados nos classificaram em segundo lugar sob os protestos do nosso grupo, obviamente, e até parte da torcida porto velhense.
Retornamos para Manaus com o grito de campeões dessa nossa participação em festivais interestaduais.
Muitos festivais tanto aqui quanto em Porto Velho, muita experiência e dedicação envolvidas e o fervor da equipe de coordenação andavam juntos até que um fato que quase põe fim aos FMC aconteceu.
Quando da realização do IV FMC houve uma tentativa de se tornar o festival uma atividade Arquidiocesana.
É que nessa época, vicejava por aqui um movimento cristão católico denominado TLC-Treinamento de Liderança Cristã.
Coordenado por um grupo de jovens católicos engajados dentre os quais destacamos Xico Vilaça, Katia Milerio, Rafaele Novelino, Ivanci e sua irmã Irineia, Dedeco, Graça Saldanha, Arinete Barroncas, entre outros.
Esse grupo,muito ligado à Arquidiocese de Manaus que na época tinha como Arcebispo D. João de Souza Lima, se aproximou da coordenação do FMC com o intuito de tornar o festival uma atividade mais ampla e talvez mais profissional.
Houve resistências, desentendimentos mas muita negociação e, ao fim e ao cabo, a turma do TLC se contentou em se juntar à coordenação original e juntos somaram esforços porque os festivais de música cristã eram uma fonte muito importante de atração e sobretudo evangelização da juventude manauara.
Depois da realização do IV FMC já contando com a ajuda da turma mais ligada ao TLC e, tendo o festival sido introduzido no calendário arquidiocesano, parte da coordenação original como eu, Aluysio, Conceição, Mário, Paulo Cézar, Genesio, Arlene, Lúcia Viana, Luismar, Graça Teixeira e outros,  por questões estritamente pessoais e profissionais, nos afastamos até para darmos espaços a muita gente nova e igualmente talentosa que poderia bem dar continuidade ao evento.
Novas versões do FMC foram realizadas com o mesmo brilho e sucesso do início, e acreditamos termos cumprido um ciclo importante em prol da música cristã e da formação de jovens católicos da época.
Em nós, bate uma imensa saudade porém, ficaram gravadas na memória, todas as ternas e definitivas lembranças de uma fase de ouro da juventude cristã católica de então, pois é assim que Deus age em nossas vidas, ou seja, nos dá sabedoria, liberdade, saúde, talentos e fé para que nos apropriemos de tudo em favor do plano de salvação que Ele nos preparou para todos.
Té logo!