João sem Deus 

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Tenho acompanhado com aflição porém com repugnante atenção o desenrolar desse escândalo que mistura charlatanismo, assédio sexual e exploração comercial e religiosa que envolvem de um lado um conhecido médium espírita e, de outro, centenas de mulheres em busca de cura e conforto para seus diversos males do corpo e da alma.

Tudo isso poderia ser evitado se de fato o João fosse de Deus e se Deus verdadeiramente estivesse presente na vida dessas pessoas que buscam a cura das suas enfermidades tanto físicas quanto da alma de modo equivocado e  imprudente no lugar errado e com a pessoa errada.

Não estou aqui antecipando culpas tampouco suscitando preconceitos ou fazendo análises sobre o que é certo ou errado nas atitudes de quem explora esse negócio ou de quem acredita, busca e alimenta essa crença e os tratamentos ofertados, isso, deixo para o Ministério Público, para a polícia e para a justiça investigarem e julgarem.

Como profissional da saúde, como cristão e como cidadão sinto-me no dever de emitir opinião acerca desse episódio lamentável e evitável se o acesso à saúde respeitasse as três regras básicas do SUS: universalidade, equidade e igualdade, apenas, para circunscrever o tema ao principal fator que leva tanta gente e principalmente tantas mulheres a buscarem numa cidade, num centro religioso e num curandeiro a solução para seus problemas de saúde que deveriam se fazer presentes numa unidade de saúde ou tratados por um profissional da medicina.

Como trabalhador da saúde atuando há mais de trinta e cinco anos em uma instituição de saúde referência em dermatologia onde cem por cento dos usuários necessitam expor o corpo para uma triagem sem que até hoje nenhum paciente se queixasse de ter sido molestado, fico de certo modo abismado de saber que durante tanto tempo tantas mulheres tenham sofrido abuso ou assédio sexual por parte do mesmo cidadão e tenham guardado quase em segredo esses fatos lamentáveis; ainda bem que mulheres corajosas resolveram sair do armário incentivando outras a denunciarem esse escândalo. Antes tarde do que nunca!

Que Deus tenha misericórdia dessas mulheres sofridas e exploradas e que a justiça cumpra seu papel de julgar o João e suas culpabilidades para que episódios como esses não mais se repitam.

Té logo!

*O autor é farmacêutico e empresário