O ex-secretário de Infraestrutura do Estado, Gilberto de Deus, mostrou, na saída do governo, uma coragem que vi pouquíssimos gestores apresentarem quando foram enxovalhados.
Isso me levou a algumas reflexões, entre as quais aquela que diz respeito a seu curioso nome.
Claro que Gilberto, no Amazonas, ainda mais em se tratando de política, remete imediatamente à figura lendária de Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo. Em todos os mandatos que exerceu, notabilizou-se por duas características principais: o valor da palavra empenhada e o respeito no trato com os subordinados.
Mestrinho falava baixo, raramente se exaltava, e conquistava os auxiliares pela inteligência e astúcia na hora de decidir ou determinar. Foi determinante para que o Estado retomasse seu rumo depois do regime militar, tendo colocando em dia a folha do funcionalismo, fato lembrado até hoje pelos mais antigos.
O sobrenome “de Deus” remete a outra lenda, outro personagem histórico: o papa João Paulo II, que ficou conhecido no mundo inteiro como o João de Deus.
Sem jamais ter exercido um mandato eletivo, ele fez uma revolução no mundo moderno. Foi um dos principais artífices do fim da União Soviética e da queda do Muro de Berlin. Falando baixo também e abusando da inteligência e do carisma, ajudou a por fim na famigerada guerra fria. Jamais compactou com a injustiça, com o arbítrio e com a política suja.
Pois um homem que carrega duas lendas no nome não poderia negar fogo. Tinha que devolver a arrogância e o desrespeito com que foi tratado com denúncias firmes e ousadas. Tinha que combater o malfeito com rigor e coragem.
Assim como admiro João Paulo II e Gilberto Mestrinho, mesmo sem ser católico ou sem ter sido um gilbertista, passei a admirar Gilberto de Deus. Espero que as denúncias dele sejam um divisor de águas para o Amazonas, assim como foi o papa para o mundo e Mestrinho para o funcionalismo.
Wanderley Dallas, deputado estadual em quarto mandato, oposicionista do momento. É presidente da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa.
