Homenagens, eventos e missão

Não guardo segredo tampouco economizo palavras quando quero falar do quanto eu amo a instituição que me recebeu há quase 42 anos atrás e é fonte constante de satisfação e momentos de pura inspiração pelo que realiza na saúde pública do nosso estado.

Completamos 66 anos de profícua e salutar existência no último mês de agosto e, por conta disso, nossa Fundação Alfredo da Matta-FUAM foi homenageada semana passada na Assembleia Legislativa por meio de uma proposição de cessão de tempo do deputado Sinésio Campos.
São mais de seis décadas, em que a trajetória da FUAM na saúde pública, é escrita de forma segura, ascendente e consolidada no cenário local, nacional e internacional mormente pela capacidade de seu corpo técnico e profissional antigo e atual, de resignificar essa história a cada ano que passa.
De simples casa de passagem de pacientes do interior e da capital suspeitos de portarem a Hanseníase, passando por Centro de Dermatologia, Centro Macroregional, Centro de Referência Nacional, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde, Instituto de Dermatologia, Fundação de Dermatologia, chegando brevemente à condição de Fundação Hospitalar, a FUAM galga cada degrau da sua existência de modo firme e consolidado.
Essa trajetória da FUAM está indelevelmente atrelada à história da Hanseníase no nosso estado, porquanto, nosso patrono Dr Alfredo Augusto da Matta, foi um médico que se dedicou de modo admirável e quase obsessivo ao enfrentamento a essa doença desde que por aqui aportou vindo da sua terra natal, a Bahia, onde se formou aos 19 anos de idade.
Nessa jornada da sua existência, semana que passou, a FUAM foi palco de um importante evento que foi o lançamento da campanha de caráter internacional denominada “NÃO ESQUEÇA DA HANSENÍASE!”
Essa campanha foi idealizada e tem como principal incentivador, o embaixador das causas da Hanseníase junto à OMS, Mr Yohei Sasakawa cuja Fundação que leva seu nome, sustenta há mais de quatro décadas a aquisição e doação dos medicamentos que compõem o tratamento da doença, bem como, mantém com recursos financeiros, dezenas de projetos ligados às muitas ONG que atuam no combate à endemia.
O nosso estado foi escolhido como primeiro do país a lançar essa importante campanha que tem no MORHAN-Movimento de Reintegração das pessoas atingidas pela Hanseníase, o fio condutor por todo o Brasil permitindo que se avance de modo firme e seguro para que a doença não seja negligenciada e que a sociedade civil, governos, autoridades sanitárias e instituições de saúde, mantenham-se em constante alerta para o mal e contra todas as formas de estigmatização, discriminação e segregação que ainda teimam em resistir.
A FUAM, respeitando sua tradição e trajetória como unidade padrão e referência para a endemia, vêm desenvolvendo desde 2019 o Projeto APELI-Ação Para Eliminação da Hanseníase em todo o estado.
Já se vão meia dúzia de municípios que recebem uma caravana de técnicos e profissionais da instituição, na luta constante para reduzir a carga da doença e, sobretudo, capacitar, instrumentalizar e sensibilizar equipes locais para manterem as ações de controle da doença.
Nossa comitiva, composta por uma equipe multiprofissional de técnicos e profissionais de saúde, leva, entre outras atividades, capacitação, atendimento médico, social, de enfermagem, psicológico, farmacêutico e fisioterapêutico em dermatologia geral e avançada, assistência em infecções sexualmente transmissíveis, hepatites virais, coleta de amostras laboratoriais em preventivo de câncer de colo de útero, biópsias, pequenas cirurgias, etc.
Sem dúvida que o Projeto APELI é um dos programas de intervenção em saúde pública numa endemia, dos maiores e mais importantes dos últimos tempos que se realiza no Amazonas e, brevemente, será reproduzido em todos os estados da região norte a pedido do Ministério da Saúde, reconhecido que foi como uma das mais bem elaboradas ferramentas a serem usadas para o controle da Hanseníase no país.
Estou escrevendo esse artigo num hotel na cidade de Novo Aripuanã na calha do Rio Madeira, realizando a quarta atividade do Projeto APELI que vai se encerar esse ano passando ainda pelos municípios de São Gabriel da Cachoeira e Itacoatiara.
Tenho viajado acompanhado de uma equipe precursora a cada um dos municípios definidos que são, pelo cenário epidemiológico em que se encontram na endemia, e tenho vivenciado navegando quer seja por terra, ar e pela imensidão da nossa bacia hidrográfica, uma das mais belas experiências da minha vida profissional e de gestor da FUAM.
Sinto orgulho de liderar nossas equipes multiprofissionais com mais de 25 pessoas dedicadas, competentes e comprometidas com as causas do enfrentamento à Hanseníase que, de modo admirável e para o bem dos nossos irmãos do interior, dedicam-se de corpo e alma a esse belo trabalho em prol da saúde pública.
O que temos encontrado e comprovado, além de uma endemia silenciosa e preocupante, são estruturas de saúde, com raras exceções, muitas vezes em desmonte por conta da pandemia de CoVid que carreou recursos humanos, materiais e financeiros para combater essa doença, em detrimento dos programas tradicionais de saúde como da tuberculose, da AIDS, materno infantil, do idoso, hipertensão e diabetes e também da Hanseníase, entre outros.
Chamo atenção das autoridades políticas do poder executivo e dos parlamentos estadual e federal para um fator que contribui de modo negativo para o isolamento das comunidades interioranas que é a dificuldade ou mesmo a falta de comunicação via telefonia móvel. As empresas prestadoras desses serviços relegaram nossos municípios ao mais completo abandono. As instituições de educação e especialmente de saúde não conseguem utilizar de modo satisfatório as ferramentas educativas disponíveis para dividir conhecimento e deixar um rastro positivo de boas práticas e ensinamentos à distância para técnicos e profissionais da área. Algo tem que ser feito é imediatamente.
Temos analisado e discutido com as autoridades sanitárias e políticas locais a retomada das ações voltadas para a dermatologia sanitária e, convencido esses atores, a se comprometerem com as causas da Hanseníase, retomando o diagnóstico precoce, aplicando o tratamento e realizando a sensibilização social, de modo a evitarmos que a endemia caia no esquecimento.
Deus tem sido testemunha dessa luta e parceiro constante das nossas equipes permitindo com suas bençãos que prossigamos firmes nesse propósito.
Que continuemos assim nessa luta e nessa jornada de modo a que alcancemos as metas de eliminação da Hanseníase o mais breve possível e que o legado deixado pelo Projeto APELI em cada município por onde passa, possa servir de inspiração e de fonte de compromisso e de dedicação das equipes locais.
Té logo!