Por Carlos Santiago*
Flávio Dino é o atual governador do Estado do Maranhão, foi responsável pela derrota nas eleições gerais de 2014 da oligarquia comandada pelo ex-presidente José Sarney, que governou o Estado por 50 anos.
No Maranhão nasceu Flavio Dino, um lugar com os piores indicadores sociais do Brasil, onde a extrema pobreza, o analfabetismo quase generalizado, o mandonismo político e a apropriação da máquina pública por grupos de famílias abastadas caracterizam o círculo vicioso do atraso e do descaso.
Ele ingressou cedo na faculdade de direito do Maranhão, participou de movimento estudantil, formou-se e tornou-se professor de direito constitucional da mesma universidade. Depois passou no concurso para juiz federal, presidiu a Associação dos Juízes Federais e foi membro do Conselho Nacional de Justiça – CNJ.
Com uma carreira jurídica respeitada e próspera, ele deixou o cargo de juiz federal e filiou-se a um partido político comunista para ser candidato à Câmara dos Deputados. Eleito, participou do pleito seguinte como candidato à prefeitura de São Luís, não obtendo êxito. Em 2010, concorreu a governador do Estado, sendo derrotado. Terminou seu mandato na Câmara dos Deputados de forma promissora e sem envolvimento em escândalos.
Em 2014, com sua capacidade de juntar lideranças políticas e partidos com ideologias opostas, com qualidades intelectuais e muita perseverança e coerência política, Flávio Dino venceu as eleições para o cargo de governador, sendo reeleito, em 2018, com uma votação consagradora. Sua administração está entre as mais bem avaliadas do Brasil, segundo pesquisas divulgadas, além de respeitada até por políticos com ideologias diversas.
O governador do Maranhão demonstrou e tem demonstrado que é possível novas lideranças vindas de partidos de esquerda vencer eleições contra políticos com grande poder econômico, com velhas práticas e com grupos de comunicação. É uma lição que pode ser também aplicada aos partidários do ideário do pensamento de esquerda e de seus partidos no Amazonas.
No amazonas, desde 1982, período da abertura política, a maioria das lideranças políticas à esquerda ou à centro-esquerda buscam acordos de colaboração com os velhos caciques da política, participando de coligações eleitorais e da base de apoio legislativo. Já firmaram aliança com Arthur Neto, Alfredo Nascimento, Eduardo Braga, Omar Aziz, Nonato Oliveira, Davi Almeida, Wilson Lima, e até com Gilberto Mestrinho.
O resultado desses acordos é a baixa representatividade dos partidos de esquerda no parlamento, eleição de meia dúzia de prefeitos mal avaliados e líderes desgastados e sem mandatos. Novas lideranças políticas surgiram, mas as que demonstram convicção política e o talento de unir pessoas, foram rapidamente cooptadas pelos grupos dominantes, ou servem tão somente como cabos eleitorais dos dissidentes de ocasiões.
O Amazonas, assim como o Maranhão, ainda possuem péssimos indicadores educacionais, de saúde e saneamento, além de enorme pobreza. O povo do Maranhão, entretanto, já fez sua opção e elegeu um conterrâneo decente e com vontade de romper com as mazelas do passado. No Amazonas, com a presença de partidos de esquerda desgastados e sem novas lideranças coerentes, a esperança popular é consumida pela velha prática política travestida de novo.
Um dia, quem sabe, a coerência, a persistência, a inteligência e vontade de melhorar os indicadores sociais do Estado irão brotar.
*O autor é sociólogo, analista político e advogado.
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