Apesar de ser uma prática, aliás péssima, que se replica no planeta inteiro, é o Brasil campo fértil onde muitos espertalhões plantam, colhem e se dão muitíssimo bem pois auferem os maiores dividendos e, nosso povo, é a maior vítima.

Estou a falar da propaganda enganosa e deletéria do que alguém um dia convencionou denominar, de um modo muito bem empregado, de empurroterapia.

Somos todos os dias bombardeados centenas de milhares de vezes pela divulgação incessante de remédios, medicamentos, alimentos, produtos de beleza e higiene, aparelhos e instrumentos para exercícios e fisioterapia, tratamentos para emagrecimento, impotência sexual, queda de cabelos, contra envelhecimento, perda da visão e por aí vai.

A maioria dessas propagandas, todas enganosas, são responsáveis por bancar os espaços em rádio, TV, jornais e revistas e já rivalizam, em termos de faturamento, com produtos éticos e similares.

Essa divulgação maciça começou timidamente nas emissoras de TV fechadas e já alcançou espaços cativos na TV aberta e em programas mais clássicos e de apresentadores nem tão sérios assim.

É uma verdadeira enganação que se processa aos olhares complacentes dos organismos de controle sanitário e de regulação da propaganda, trazendo muitas das vezes mais prejuízos à saúde física e ao bolso dos consumidores.

Artistas e gente famosa do rádio e da televisão são os garotos propaganda ideais para venderem esses produtos, os quais, na sua grande maioria, possuem nenhuma comprovação científica dos efeitos para os quais são divulgados.

Vocês já perceberam o linguajar e os textos utilizados nessas propagandas e nas embalagens desses produtos?

Há uma verdadeira jogada bem elaborada de marketing em que se usa e abusa de palavras e termos para exatamente atraírem a atenção do pobre e infeliz do consumidor.

Se não estiver escrito que é um produto 3D não presta. Se não for elaborado a partir de plantas ou produtos orgânicos não compro. Se não disser que usa a tecnologia da NASA mofa na prateleira. Se o medicamento ou remédio não for “natural” não serve. Se o produto não tiver origem nos fiordes da Noruega, não tiver sido cultivado nos pântanos isolados da Finlândia ou não vier dos mares profundos do Japão o consumidor nem olha. Se não for elaborado a partir da barbatana de tubarão fêmea e virgem dos mares do sul nem pensar em adquirir. E tem leso que vai nessa onda!

E, se a propaganda não oferecer bônus para ganhar uma embalagem grátis, nem pensar em comprar.

Tudo produto engana besta! Tudo propaganda enganosa para iludir os incautos!

Você, que é daqueles consumidores empedernidos desses produtos e que assiste a propaganda na TV ou ouve a divulgação no rádio, já deve ter ouvido ou lido algo assim:

-Esse medicamento é natural cura estafa, levanta moral, deixa o homem em ponto de bala, não tem efeitos colaterais, melhora a autoestima, promove o vigor físico e mental, cura a ejaculação precoce, salva seu casamento, é melhor que o azulzinho e deixa sua companheira nas nuvens;

-O produto que vendemos vem de uma planta milagrosa cultivada no microclima dos Andes e serve para curar frieira, curuba, impigem, eczemas, coceiras, perebas e fungos da pele, cabelo e unhas;

-Você que já passou dos sessenta e sente dores nas articulações, tá andando com dificuldade, tem os pés e as mãos inchadas ou está desanimado? Com apenas três cápsulas por dia do nosso produto seus problemas acabaram;

-A calvície tem cura! E nós temos a solução! Em seis meses de tratamento com nosso produto revolucionário você estará com seus cabelos de volta do mesmo jeito que vê nessa imagem;

-Nosso chá é um produto natural pois feito de plantas orgânicas. Apenas duas doses diárias vai trazer de volta sua saúde do corpo e da mente e você se sentirá outra pessoa após trinta dias. 

É uma verdadeira enxurrada diária de propagada a infernizar a vida do consumidor incauto, enriquecer artistas, sustentar programas no ar e manter uma indústria de produtos absolutamente temerários para a saúde não passando portanto de verdadeira panaceia.

Por pura curiosidade costumo ler embalagens de produtos de beleza.

Do nome do produto aos milagrosos efeitos benéficos tá lá escrito entre outras mentiras:

-Fórmula com biotecnologia em 4D; hidratação tridimensional; produto detox e vegano; fator de nutrição 50X; ultra-som natural; antioxidante e revigorante da imunidade da pele; 50 tipos de vitaminas no mesmo produto; testado dermatologicamente; sem álcool, sem conservantes, sem corantes e sem química. Quanta maravilha!

Tudo o que a mulherada gosta de ler e ouvir para consumir o produto. Bandibestas!

Na TV, outro dia, tava lá a cantora sertaneja fazendo propaganda de um remédio “natural”:

-Adquira já! Se você sofre de artrite, tem pressão alta, sente dores musculares e nos ossos, sofre de artrose, cansaço, tem dificuldades para dormir, sente fadiga, sofre de refluxo e gases ou sofre de insônia, nosso produto vai restabelecer sua saúde.

Aí, pra arrematar, colocam dois velinhos mais que felizes e selerepes confirmando tudo o que o tal produto trás de bem(?). Credo!

Notem, que o tal remédio, cobre uma série de doenças e distúrbios sem a menor correlação de causa e efeito e induzem o consumidor a acreditar nos efeitos “milagrosos” do mesmo. Quanta mentira!

Isso é tudo o que os desavisados consumidores querem ver e ouvir para pegar o telefone e ligar no 0800. E se for um dos primeiros trinta a ligarem terão uma desconto especial e ganharão um brinde valioso. Misericórdia!

O Brasil possui uma das mais bem elaboradas normas e criou organismos sanitários no campo da regulação de propaganda e venda, disposição e distribuição de produtos alimentícios, remédios, medicamentos, produtos e tratamentos de beleza e saúde.

Mas falta fiscalização, controle e sobretudo, coragem das autoridades para atuar e coibir os exageros.

Milhares de cidadãos são vítimas do uso incorreto e indiscriminado desses produtos e, volta e meia, precisam de ajuda ou até morrem por conta dos seus efeitos danosos.

Mercados e feiras Brasil afora têm amplos espaços dedicados à venda e até divulgação de produtos fitoterápicos, chás, garrafadas, xaropes, perfumes, pomadas, unguentos, bálsamos, sabonetes, itens derivados de animais como ossos, olhos, óleos, banha, patas, testículos, etc.

Tudo exposto, explicado e vendido abertamente por gente sem o menor conhecimento científico e preocupação com alguns desastrosos efeitos que os tais produtos podem causar aos consumidores.

Há centenas de males e mortes registradas apenas pela ingestão ou uso de um simples chá ou derivados de plantas, tudo causado por intoxicações e distúrbios principalmente hepáticos e renais.

A medicina tradicional por mais natural que seja, se mal aplicada ou dosada, tem lá seus efeitos perniciosos para a saúde.

E olha, que nem tratei aqui da insidiosa propaganda de alimentos, bebidas (incluindo as alcoólicas e energéticas) e produtos de higiene bucal.

Nesse campo persiste uma quase tragédia da qual as maiores vítimas são nossas crianças.

As propagandas de alimentos e bebidas correm frouxas e induzem nossas crianças a consumir tais produtos que, ou não alimentam ou não trazem o menor benefício a elas.

E, muitos pais desavisados, são diariamente atormentados pelos filhos a comprarem tais alimentos. Um descalabro!

Tá mais que na hora de as autoridades sanitárias abrirem os olhos e fazerem valer a legislação para esse setor antes que amarguemos mais danos e mortes como acontece todo santo dia aqui, ali e acolá.

Tá dado o recado.

Té logo!