Deus que nos defenda

O Brasil é um país surreal em todos os sentidos a começar pela nossa identidade antropológica que se origina numa brutal miscigenação de raças, após inevitáveis e nem sempre saudáveis associações com o invasor europeu.

Isso pode ter originado em nós(os estudiosos da antropologia e da sociologia que me corrijam)um povo por assim dizer indolente, afável, esforçado e dependente. Nada além disso.

Nem a presença muito mais tarde de imigrantes asiáticos com suas indefectíveis disposições para o trabalho, a criatividade e  o metodismo no agir forjados em guerras e sofrimentos impostos pela natureza e conflitos internos, foram capazes de impregnar as gerações de brasileiros com os quais conviveram, com o modo de ser, de viver e de reagir tão típicos desses povos.

Isso por si só não explica nossa pacificidade, quase pasmaceira, ante acontecimentos desastrosos e graves, mormente os de cunho social e político que nos afligem.

Por sobre um país rachado ao meio politicamente, desaba o mandonismo de uma corte judicial sob o total domínio de apenas um juíz.

Diante da insatisfação natural com o resultado de uma eleição marcada por manipulações judiciais, favorecimentos a apenas um candidato, perseguições a uma ala política e visível falta de transparência no processo, vimos milhares de cidadãos dispostos a buscar respostas e atitudes de quem constitucionalmente poderia socorrê-los.

Soma-se a isso o acirramento de ânimos e a decisão inesperada contra todos os prognósticos, de marchar pacificamente sobre a capital federal como forma de pressionar autoridades e poderes para enfim se posicionarem sobre o processo eleitoral e seus desdobramentos os quais deixaram margem para dúvidas.

Algo deu errado e alguma coisa pode ter saído do controle como em inúmeras vezes anteriores assim se deu sob governos diferentes.

Diante desses fatos lamentáveis mais que natural seria aplicar-se a lei, impor-se a norma e buscar-se os culpados. Mas não é isso que temos assistido.

O que vemos de fato é a perseguição implacável sobre milhares de brasileiros, a repetida quebra das regras constitucionais sobre o federalismo, o banimento das redes sociais, o rompimento de normas legais com prisões, confinamentos e desobediência aos direitos humanos e a perda dos direitos políticos, tudo sob a tutela de um só juíz.

Porém, o que é mais triste ante essa verdadeira caçada às bruxas, é o olhar contemplativo e complacente de milhões de outros brasileiros absolutamente inermes e inertes feito baratas tontas, não sabendo como reagir contra uma escalada sem precedentes de violência jurídica, judicial, política e o total extrapolamento de ânimos por parte dos organismos estatais de segurança.

Pois é sob essa inação que mostra-se presente a porção da nossa formação antropológica mais reveladora da falta de disposição para cobrar direitos e demonstrar insatisfação para com o desrespeito às leis por parte de quem deveria primar pela obediência cega às normas especialmente as constitucionais.

Sinceramente não sei até onde isso vai desaguar.

Entretanto, posso afirmar com todas as letras, que nosso país é atualmente um barril de pólvora com rastilho curto a logo logo explodir com consequências inimagináveis de danos políticos, sociais e econômicos.

O clima político e institucional no país atualmente se encontra qual mola pressionada contra a parede por uma mão que a qualquer momento pode se soltar.

A mão é a justiça, a mola é o povo e a parede são as bases das Forças Armadas.

Toda reação popular mais catástrofica e contundente se inicia quando determinadas autoridades e poderes ignoram ou subestimam sua gente ou sufocam seus ideais de liberdade e justiça.

Há limites para que as reações se iniciem e creio que esses limites já foram todos ultrapassados.

O gatilho para tanto tende a se tornar insustentável quando um povo pacífico e ordeiro ferido em seus brios e seus direitos, assim não mais suportar o chicote do torturador.

Deus que nos defenda dos maus políticos, dos ideais dos regimes exóticos e libertinos, dos ditadores de todas as matizes e da falta de limites para uma justiça feita apenas de um só juíz.

Ainda há tempo para refletir, agir e consertar as coisas. 

Para isso basta que os homens e autoridades de bem, sem manchas políticas e livres das ideias persecutórias e da vingança se juntem para salvar a nação enquanto há tempo. Tenho dito!

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