Deixem de onda!

Muita gente quer a ter a primazia ou assumir o protagonismo de cantar que estamos vivenciando uma segunda onda da pandemia causada pelo novo coronavírus. São cientistas de si mesmos, alguns usando em vão e sem autorização alguma o nome de renomadas entidades de pesquisa, outros, disseminadores do caos e profetas do apocalipse entre gente menos votada, que aposta e torce todos os dias para que essa teoria de araque emplaque.
Já disse mais de uma vez, que de todo, não estamos isentos de experimentarmos algo parecido com o aumento desproporcional de casos novos ou novas mortes entretanto, em epidemiologia, a ciência que estuda o fenômeno saúde-doença e sua distribuição no seio da população, é preciso mais do que da opinião apaixonada ou de meras informações estatísticas para comprovar que há de fato um movimento ou uma tendência que confirmem essa hipótese.

Primeiro de tudo há que se levar em consideração se o aumento de casos se dá numa proporção que esteja muito acima das semanas epidemiológicas imediatamente anteriores ou do pico da pandemia, ou, se a distribuição dos casos novos está se dando de maneira espacial homogênea e por sobre todas as faixas etárias e em todas as classes sociais e, de maneira idêntica, em ambos os sexos.

Se esses fenômenos epidemiológicos não andam pari passu ou, se de algum modo, não se permitem aferir quantitativa ou qualitativamente a fim de obtermos dados e informações concretas os quais confirmem a hipótese de que há sim no mínimo uma tendência de crescimento de casos, então os posicionamentos isolados não passam de especulações que lançam mais nuvens negras do que luzes sobre a evolução da pandemia no nosso estado.

O que de fato se pode afirmar e comprovar é que a pandemia no estado do Amazonas passa por um momento epidemiológico excepcional como, de maneira idêntica, passaram ou passam outros países da Europa cuja trajetória da doença teve contornos muito parecidos com o nosso lá no início da pandemia entre os meses de abril e junho deste ano.

Logo no seu início, o perfil social da pandemia entre nós, foi um fenômeno perfeitamente notado e amplamente estudado tendo atingido de maneira arrasadora os extratos sociais mais vulneráveis onde as baixas causadas pela morbi mortalidade foram lamentavelmente mais sentidas.

Inversamente, as classes sociais mais abastadas se protegeram, se isolaram e, quando adoeceram, tiveram acesso a serviços de saúde mais adequados o que lhes permitia um tratamento diferenciado.

Desta feita, com a abertura gradual das atividades econômicas e sociais o que se viu foi uma corrida generalizada da população ao comércio, serviços e lazer como se as portas das prisões tivessem sido abertas de uma só vez proporcionando o contato e a aglomeração muitas vezes sem a proteção e sem os cuidados individuais preconizados pelas autoridades sanitárias.

E o que ocorreu então do ponto de vista nosológico  e epidemiológico?Simplesmente essa abertura e essa corrida pegaram desprevenidos quem se resguardou na fase mais crítica da pandemia, aqueles que se protegeram e aos seus e aqueles que adotaram todas as medidas de isolamento e de cuidados individuais retardando o contágio.

Ocorre, que muitos membros dessas famílias especialmente os jovens, foram às compras, às baladas, ao lazer e às comemorações e trouxeram para dentro de casa o vírus que lá fora estava e continua circulando adoidado. Nessa esteira, a população da periferia já em sua maioria atingida pelo vírus numa onda de imunização cruzada(fenômeno ainda em estudo), do ponto de vista estatístico, adoece menos na atual fase, deixando essa condição para as categorias sociais mais elevadas e é exatamente aqui que muitos confundem com segunda onda o que na verdade deve ser considerado como mudança de perfil da pandemia ao atingir pessoas em idade e condições sociais diferenciadas. Apenas isso.

De qualquer maneira a população e as autoridades sanitárias devem continuar unidas na busca da proteção e da implantação de mecanismos individuais e coletivos que visem combater o vírus e suas formas de propagação protegendo ao máximo a saúde de todos até que a imunização chegue por meio da nova vacina.
É isso! O resto é terrorismo e aposta no caos.

Té logo!