Comportamento ético e o plágio

Nos últimos dias o Brasil foi surpreendido por um caso de plágio que atingiu o já cambaleante governo Bolsonaro e o seu recém-nomeado ministro da educação. Acusações ocorreram de todos os lados e não pouparam críticas à vida acadêmica do Sr. Carlos Alberto Decotelli. Os fatos do caso são publicamente conhecidos. Etimologicamente a palavra plágio vem do grego plagios, que significa oblíquo, trapaceiro. Para o dicionário Aurélio, plágio é “assinar ou apresentar como sua obra artística ou científica”. No caso, há uma relação direta entre o ato do plagiador e a violação da viga mestra do comportamento ético.
Marilena Chauí, explica que “para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente… que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício… Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética.” Desvalor e valor, plágio e ética apresentam-se como antitéticos. Localizam-se em campos opostos, como educação e analfabetismo, riqueza e pobreza, democracia e ditadura, paraíso e inferno, vida e morte. Não há entre eles uma relação dialética ou uma continuidade entre um e outro.

Mas, no polo oposto pode-se notar uma clara continuidade entre o plágio, a corrupção e o jeitinho brasileiro. Como diz o antropólogo Roberto Da Matta, as definições do jeitinho, podem ser percebidas como positivas e negativas, dependendo da situação em que os sujeitos se inserem. Diz ele: “o jeitinho tem um espectro que vai de uma simpatia humana, que se reconhece no outro e abre uma exceção para esse outro em virtude de uma emergência ou condições de vida, a até arranjos de contratos especiais superfaturados de obras públicas concedidos para amigos e parentes, com objetivo de dividir lucros, que é a corrupção.” Relação extremamente danosa, essa conexão trinomial demonstra que a sociedade brasileira está ainda inserida numa política coronelista e nepotista. Uma política de compadrios, onde o governante aponta os seus auxiliares a partir de uma relação de amizade, fechando os olhos às suas deficiências ou incompetências. Em posição assimétrica, Mads Damgaard, da Universidade de Copenhagen, diz que se se “essa conexão entre jeitinho e corrupção (eu acrescento mais o plágio) fosse concreta, isso aumentaria a apatia, a corrupção sistêmica e diminuiria a possibilidade de mudanças sociais.” Seria uma tragédia!

Fazer juízo de valor sobre as ações do ministro Decotelli não é necessário, pois todos sabem que o plágio é um ato criminoso e antiético, e que há exemplos em diversos setores do mundo afora: cultural, educacional, cinema, música etc.. O que é preciso ficar claro é que a principal característica de quem pratica um plágio, é ser um trapaceiro, um descumpridor da ética e desrespeitador do conhecimento alheio.

Casos similares ao do ministro da educação brasileira ocorreram na Alemanha. Lá, em 2011, o ministro da defesa, Karl Theodor Zu Guttenberg, renunciou após a descoberta de que sua tese de doutorado, feita na Universidade de Bayreuth, era fruto de plágio. Em 2013, a então ministra da educação alemã, Annette Schavan, também renunciou ao cargo após perder o título de doutora pela Universidade de Dusseldorf. No Brasil, há indícios de que o ministro da educação também plagiou parte de sua dissertação de mestrado, adulterou o currículo Lattes sobre seu grau de doutor e não defendeu sua tese de doutorado. No entanto, ao contrário dos ministros alemães, ele não vai renunciar ao cargo. Uma tragédia!

*O autor é sociólogo, analista político e advogado