No ano de 1979 o samba enredo da Escola da Samba União da Ilha do Governador tinha o título de O amanhã.
Era de autoria do boêmio e procurador federal Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves que usava o pseudônimo de Didi que a compôs em parceria com o músico João Sérgio que fez a melodia da bela letra.
Pródigo criador de sambas para o enredo de muitas escolas tendo emplacado mais de vinte até falecer aos 52 anos, Didi pertencia a uma tradicional família de juristas cariocas.
Mas, apenas cinco anos depois, esse samba ficou famoso depois de imortalizado na voz da intérprete Simone.
Diz a letra em forma de indagação:
“Como será o amanhã?
Responda quem puder.
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser.”
Instigado por esse questionamento, resolvi me inspirar na letra do samba enredo do Didi para escrever esse artigo sabendo-o atualíssimo ante tudo o que a humanidade enfrenta por ora nessa pandemia provocada pelo vírus chinês que devasta há mais de ano o planeta.
Entre avanços e recuos (nem sei aquilatar mais de qual dos dois) a humanidade caminha.
Com quase 160 milhões de casos e mais de 3 milhões de mortes o mundo se queda estupefato diante de uma pandemia avassaladora.
Sem tratamento ainda aprovado mas com protocolos para terapêuticas alternativas sendo aplicadas nos casos graves e moderados, a prevenção fica restrita às drogas evidenciadas em experimentações carentes de comprovação mais robustas, ainda que vidas venham sendo salvas em meio à perplexidade da ciência e críticas dos mais afoitos que condenam o tratamento precoce mas não oferecem alternativas.
A esperança sempre esteve e sempre vai estar na imunização segura, eficaz, acelerada e ampla da população.
Não é uma tarefa fácil, custa muito caro e precisa de decisão e esforço conjunto das esferas governamentais e sanitárias que não podem destoar nem tergiversar nas horas menos apropriadas.
O mundo precisa de mais de 14 bilhões de doses somente nessa primeira fase de ataque contra a doença. Esbarra, entretanto, na pouca capacidade de produção de imunizantes, na baixa capacidade logística e até nos poucos recursos que a maioria dos países possuem de alcançar seus nacionais e protegê-los da pandemia, esta que avança célere e incontrolável mormente se considerarmos a inquestionável capacidade do vírus chinês em driblar a imunidade humana e os imunizantes disponíveis até aqui.
Como será o amanhã?
O que irá me acontecer?
São interrogações permanentes a nos martelar a cabeça diante de tantas outras dúvidas que a ciência corre feito barata tonta pra responder ou que a humanidade se depara e se deprime em meio à desesperança e o desespero que tatuam a alma de quem já adoeceu e escapou e muito mais ainda de quem perdeu seus entes queridos na luta contra a doença.
Como será o amanhã?
Depende muito da capacidade humana e dos dirigentes globais especialmente dos países ricos em investir na ciência, no social e na geração de trabalho e renda pois o mundo empobreceu.
Quem era rico ficou mais. Quem era remediado decresceu de categoria social e quem era pobre caiu na miséria.
Não haverá saída para o caos social que avança e se consolida, sem sem que aqueles que detém mais poder e portanto têm mais riqueza, não se solidarizarem com quem está situado num patamar muito abaixo.
Quanto menos a imunização avançar mais dificuldades o mundo terá para controlar a doença e, com isso, fortalece o aparecimento das variantes ou sustenta bolsões de populações não imunizadas capazes de perpetuar a doença de forma endêmica.
E pensar que exatamente há um século a humanidade foi sacudida por outra pandemia igualmente em forma de síndrome respiratória e pouco aprendemos ou, menos ainda, nos preparamos para a chegada de algo pior e mais devastador como agora.
Como diz o final do refrão do samba enredo do compositor Didi:
“O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser.”
Penso que esteja aí definitivamente a chave para a saída segura e completa desse caos sanitário. Crer que Deus, Senhor absoluto de todas as coisas, criaturas e situações, está no comando e orientando o mundo para que saibamos encontrar o rumo para “O amanhã.”
Té logo!
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