Choro de perdedores

Por Carlos Santiago*

Ando muito chorão. Não é um choro de recém-nascido buscando expor as suas necessidades básicas para viver, nem o de uma criança chorando para chamar atenção dos pais, nem mesmo o choro de um adolescente por causa de um grande amor. Também, não é um choro de uma pessoa adulta, derramando lágrimas por perdas de parentes ou amigos próximos, menos ainda, o choro de uma pessoa idosa sentindo-se abandonada por seus filhos, ou sofrendo os preconceitos do mundo.

Indecifráveis e inexplicáveis se apresentam as razões do meu choro, cujas causas tento detectar como algo palpável, mas em vão. Busco, então, explicação nas ciências, mas também nos problemas hormonais de um homem de meia idade, nos seus amores, paixões e desilusões. Talvez, os meus choros sejam tão somente reações físicas e emocionais para que eu possa continuar suportando as desesperanças com o ambiente social e político do Brasil: os conflitos pelo poder, a corrupção, a pobreza, a violências, o racismo, o sistema de saúde desumano e a baixa qualidade da educação.

Há quem diga que um homem não deve chorar. Mas é muito difícil não chorar com a falta de qualidade dos nossos governantes. Como não verter lágrimas diante da atitude de um ministro da educação que acha que a medida certa para a geração de emprego e de renda no País é acabar com os cursos de filosofia e sociologia; diante de um cenário político no qual os familiares do presidente envolvem-se numa disputa fratricida pelo Poder com o vice-presidente da República; diante de uma declaração ridícula de “guerra” do presidente aos grupos LGBTs, violando a Constituição Federal. Enquanto isso, o índice de desemprego aumentou, a dívida pública ficou maior e a balança comercial teve queda no mês de março.
O choro é grande, pois os privilégios financeiros diante de uma crise econômica, dos casos de corrupção, do corporativismo e da falta de eficiência na administração do Erário, levam a uma maior desconfiança do povo no Poder Judiciário, no Poder Legislativo, e no Poder Executivo, causando incertezas sobre o futuro das instituições do Estado, além de alimentar movimentos autoritários que agem contra os poderes da República e a democracia.

No Brasil de hoje, não tem como não chorar. A tolerância, a sensatez, o diálogo, a crítica, o plural e a razão estão sendo substituídos pela insensatez, pelo ódio, pela mentira e por ações de milicianos virtuais que usam as redes sociais para agredir quem pensa diferente do atual governo, travando uma guerra com os grupos de oposição, igualmente, usam as mesmas armas como defesa e ataque. Enquanto isso, o Brasil continua com os piores indicadores de educação, de saúde, de desmatamento, de homicídios, de agressões contra mulheres, de acesso à justiça e de pobreza.

Aos perdedores o choro é livre, diz um dito popular. Pois bem, nesse cenário de crise de gestão, de crise ética, de crise econômica e institucional, tendo a ignorância e o ódio como vencedores, opto por chorar junto aos vencidos.

*O autor é sociólogo, analista político e advogado.