Canalhice climática 

Nem precisa ser estudioso da matéria e, basta ter vivido ao menos meio século de vida como eu, para atestar que os fenômenos meteorológicos ou climáticos são sazonais.

Secas, inundações, incêndios florestais, furacões, erupções vulcânicas, tempestades tropicais, ciclones ou chuvas de monções, são fenômenos absolutamente normais em vários países e continentes.
O planeta e a humanidade, em termos climáticos, passam por períodos cíclicos com os quais convivem e se adequam.
Não há força humana capaz de frear a maioria desses fenômenos da natureza posto que são demandados a partir da combinação de muitos fatores e inúmeras variáveis, algumas das quais, absolutamente previsíveis.
Nos EUA, certos estados convivem há séculos com a ocorrência dos furacões, devastando cidades inteiras e causando muitas baixas na população; da mesma forma que os períodos de estiagem que provocam grandes incêndios nas florestas americanas.
Há milênios, parte da Índia sofre horrores com as chamadas chuvas de monções que arrasam moradias e plantações igualmente matando muita gente.
Aqui no nosso quintal, já nos acostumamos com as enchentes dos rios ano após ano. Às vezes, a seca também nos atinge, trazendo perdas e danos para nossa gente. É o famoso ciclo das águas que nosso caboco bem conhece.
A elevação dos oceanos, fenômeno medido desde o século passado, vive num vai e vem, sem que isso se constitua num problema grave, tendo em vista que o oceano continua no mesmo lugar.
Os ciclones e as tempestades tropicais em parte da América Latina e e até no sul do Brasil, já se constituem em fenômenos corriqueiros com os quais a população convive de modo a se proteger de danos materiais e humanos maiores.
Você imagina, meu caro leitor, que ainda hoje muitas pessoas que habitam lugares próximos morrem por causa das erupções vulcânicas apesar dos alertas?
A grande farsa sustentada por parte da mídia e por analistas de sofá de que as “mudanças climáticas” devem-se a esse ou aquele comportamento humano ou a esse ou aquele governante, não passa de uma irresponsável tentativa de encontrar culpados ou imputar o problema a alguém, abusando de uma ótica vesga e ultrapassada sem base científica ou histórica alguma.
Assisti ao recorte de um vídeo de um programa de TV paga de uma certa emissora em decadência financeira e de credibilidade, em que um analista político atreve-se a creditar a recente calamidade no município de Petrópolis ao governo federal.
Ignorância científica, maldade intelectual ou ódio jornalístico? Penso, que no caso do rapaz comentarista, as três coisas juntas.
Daqui a pouco, a mídia irresponsável vai imputar a Santa Tereza de Calcutá a fome em parte do mundo; vão creditar a aridez do deserto a São Francisco; tacharão Eisntein de causador de incêndios na Califórnia. Santa ignorância!
Nesse caldo de cultura indigesto onde se misturam desconhecimento científico, canalhice política e oportunismo midiático, um fato ou informação deixa de ser melhor analisada e difundida.
Estou falando que, onde quer que esses fenômenos climáticos ocorram, eles são graves tanto mais onde a natureza encontra as condições ideais para causar estragos e perdas humanas.
A conjuminação de fatores relacionados com pobreza, baixas condições de habitabilidade, ocupação de áreas inadequadas, ausência de políticas públicas locais, falta de estudos de impactos relacionados ao plano diretor de ocupação do solo, baixo investimento em moradia popular, invasões desordenadas, aumento da migração do campo para as cidades, pouquíssimo investimento em saneamento, entre outros, estes sim guardam enorme relação com as tragédias que assistimos ano a ano.
Petrópolis é a síntese de tudo isso. Esta bela cidade serrana fluminense, encarna os piores exemplos onde o poder da natureza encontra na desídia política e gerencial locais, as condições mais que adequadas para potencializar seus efeitos deletérios sobre a cidade e a população.
Petrópolis sofre de fenômeno meteorológico cíclico a cada década ou pouco mais que isso, o que já seria sinal mais que previsível de que o poder público local deveria ter adotado os planos de contenção de danos e as políticas públicas previstas nos relatórios técnicos elaborados dez anos antes, precisamente em 2011.
Esses relatórios apontavam uma série de medidas as quais necessariamente deveriam ter sido providenciadas e adotadas pelo governo e pela prefeitura locais porquanto, essas pesadas chuvas naquela região, são absolutamente previsíveis.
Em tempos em que, parte da mídia precisa se ancorar em migalhas noticiosas na busca irresponsável por um culpado federal para uma catástrofe circunscrita a uma cidade, na nefasta tentativa de fazer de um limão uma limonada às avessas, cá comigo eu fico a imaginar que tipo analista ou comentarista político está ocupando tempo e espaço na nossa imprensa.
A canalhice jornalística que repete abobrinhas virou doença e vergonha alheia e não é muito diferente da prática hitleriana de martelar mentiras todo santo dia até que algum otario acredite e compartilhe. Credo!
Té logo!