CAMINHANDO CONTRA O VENTO

11928686_907269599361449_2001912375_nQuando eu era menino, não entendia porque uma música chamada “Alegria alegria” começava com a dura frase: Caminhando contra o vento. Agora eu entendo. E confesso que ao ouvi-la hoje meus olhos marejaram. Lançada em 1967 no Festival de Música Popular Brasileira por Caetano Veloso, é considerada o marco inicial do movimento tropicalista. Com uma letra meio codificada e sem um sentido óbvio, mas que carrega as preocupações típicas da juventude da década de 60, cujo contexto político remonta a ditadura.

Os papéis agora se inverteram. Quem está no poder são uns velhacos que se aproveitaram daquele momento político e fizeram coro com as canções de Caetano, Gil, Gal, Geraldo Vandré, Chico Buarque, etc. E o que é o poder? Já questionava Leon Tolstoi em 1869. Eu mesmo não li “Guerra e Paz”, senão um resumo com notas do autor. Mas é sabido, que Tolstoi nega aos seus personagens qualquer dose de livre-arbítrio e deixa transparecer que todos os acontecimentos históricos obedecem uma ordem incontestável que tanto pode determinar a alegria quanto a tragédia. Ou seja, assim como Pedro, o herói de Tolstoi, na Rússia, todos não passamos de passageiros da agonia no trem da história.

No final de agosto deste ano, reagindo à atual crise econômica e política, Luiza Trajano, do Magazine Luiza, uma rica passageira da agonia, disse: “Ninguém aguenta mais”, pondo em cheque a legitimidade fiscal e monetária dos velhacos que agora estão no poder. Para em seguida informar que seu grupo empresarial passaria a adotar a estratégia de trabalho com o conceito de que todos os funcionários são vendedores. Só falta definir agora quem serão os compradores, né dona Luiza?!! Ora, imaginem a milionária Luiza Trajano afirmando: “não aguento mais”.

Quanto a legitimidade, Niall Fergusson assevera: “O que determina a legitimidade de um Estado aos olhos de seus cidadãos não é a alíquota do imposto de renda, o direito de voto, a taxa de juro ou inflação, ou o racionamento da manteiga (…) ao fim e ao cabo, a legitimidade do Estado entrelaça-se com bens intangíveis como tradição (a lembrança dos benefícios passados), carisma (o fascínio dos líderes atuais), (a crença popular em recompensas futuras, sejam materiais ou espirituais) e propaganda (o emprego pelo Estado dos meios de comunicação disponíveis para turbinar tudo isso)”.

Daí, ao tirarmos o olhar da legitimidade e voltarmos para o todo, percebemos o extremo da atual crise econômica e política na declaração feita nesta semana por Roberto Setubal, CEO do Banco Itaú: “Infelizmente acredito que a conta não fecha sem a CPMF, que deve ser temporária e declinante ao longo de quatro anos”. Pera aí!!! Banqueiro a favor de CPMF é coisa rara. Setubal calcula que o aumento de impostos é o menor dos males. O problema (político) é de como aplicar um mal tangível (a CPMF) para evitar um mal maior por ora intangível. Na verdade, o que Setubal está defendendo é o superávit primário no orçamento, fonte de pagamento dos juros da dívida pública aos bancos, inclusive o Itaú.

Retornemos ao “Guerra e Paz”, onde o herói Pedro, decide não questionar a legitimidade do poder que causou tanta desventura a ele e sua família, mas continua a sonhar: Pois então o que eu proponho não é nos opormos a isso ou àquilo. Podemos estar errados. O que eu proponho é o seguinte: ‘Dar-nos as mãos, os que amamos o bem, em torno de uma única bandeira – a da virtude ativa’. (…) Eu só acho que se os maus se juntam e constituem poder, então os honestos devem fazer a mesma coisa. Nada mais do que isso”.

 

Parafraseando Tolstoi, faço aqui um apelo a todos aqueles que amam o bem, no Amazonas e aqui na nossa Manaus, demo-nos as mãos e nos unamos para constituir poder, posto que os maus já o fizeram e nos trouxeram todos, como passageiros da agonia, ao atual quadro político e econômico. Vamos juntos. Caminhando contra o vento… No sol de quase dezembro… Eu vou… Por que não? Por que não?

Nilmar Oliveira, mestre e doutorando em Economia pela Universidade Católica de Brasília, foi a grande surpresa da eleição de 2014, obtendo mais de 48 mil votos para deputado federal, sem jamais ter disputado nenhuma eleição. É presidente municipal do PRB.

 

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Este post tem 6 comentários

  1. Andre Farias

    Gostei da matéria . Parabéns!

  2. Clovis Araujo

    Gostei da matéria, bem redigida é bastante atual e reflexiva para o momento de crise ética, moral, política e econômica que a nação atravessa.
    Parabéns, “vamos dar as mãos, vamos dar as mãos, vamos dar…”

  3. Atdon

    Parabéns pela matéria.

  4. Mario

    Parabens Mestre! Gostei muito do texto sobretudo da vontade de darmos um basta nesta politica de promessas e mentiras com o mau se propagando nos levando a cada dia para maior dificuldades. chega! É hora de caminharmos contra este vento de sujeiras, se queremos uma politica nova, séria, renovada para construirmos uma sociedade mais justa.

  5. Darlene Neri

    Muito bem colocado o texto , demostra a realidade da qual passamos no momento aonde nos encontramos indefesos diante de tantos absurdos , ditos e já oriundos de grandes mentiras , basta ,”Se todas as pessoas honestas dessem suas mãos ,seríamos

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