A pressa é inimiga da perfeição

Achei que da minha parte poderia ter dado por encerrado o assunto sobre vacina e CoVid em dois artigos publicados nas semanas anteriores porém, volto à carga, pois o assunto insiste em resistir mantendo-se atualíssimo, depois que altas autoridades políticas sem o aval sanitário, em total desconexão com a realidade e sem percepção da lei, protagonizaram um espetáculo deprimente em que a expressão grotesco soa suave ante tanto despautério e tanta sandice.
Primeiramente, há que se lembrar que a Constituição Federal determina que “saúde é um direito do cidadão e um dever do estado” e daí derivam todas e quaisquer ações, programas, projetos, intenções e atitudes governamentais em todos os níveis, e, nenhum político ou detentor de mandato executivo pode ignorar esse mandamento constitucional. A imunização da população portanto, se insere indelevelmente nesse contexto excluindo-se, por óbvio, de ser uma escolha pessoal ou da gestão governamental que por ora ocupe o poder.

Devo lembrar que o Brasil é signatário de vários tratados, acordos e convenções internacionais de proteção à população a começar pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, seguindo pela proteção à saúde infanto juvenil, ao trabalhador, aos idosos, às mulheres entre outros. Assim, o país ao se negar ou negligenciar em por em prática aquilo que assinou concordando, estará sujeito às sanções internacionais que vão desde perda de credibilidade, perda de financiamentos até a exclusão do rol dos países que compõem esses tratados. Não é pouca perda não!

Algumas autoridades públicas parecem ter-se deixado picar por algum imunizante do mal e, numa postura bizarra em declarações patéticas e com total divórcio da triste realidade sanitária que atravessamos causada por uma pandemia, se digladiam e se engalfinham publicamente discutindo, sem conhecimento de causa, qual imunizante será aplicado, se será obrigatório ou não e até se a vacina tem os olhinhos puxados. Credo!

Aí eu tasco aquela célebre pergunta futebolística sem nenhuma intenção de trocadilho: Vocês combinaram isso com os russos, ou seja, com o povo brasileiro?

Nessa altura do campeonato parece que o que menos interessa é a saúde do cidadão massacrado por uma doença cruel que teima em resistir, ceifar vidas e ante tanta bobagem dita e tanta animosidade destilada entre mandatários políticos os quais sequer têm a ombridade de ouvir as autoridades sanitárias antes de sair por aí pregando sandices.

Primordialmente há que se avaliar se os imunizantes ainda em fases de testes (uns mais avançados que outros), terão a eficácia necessária a fim de proteger a saúde humana; depois, por quanto tempo esse imunizante protege organismo, ou seja, se há necessidade de mais de uma dose e em que intervalo de tempo e se os efeitos adversos são superáveis ou menos danosos do que a própria proteção(lembro que a vacina contra a Dengue foi descartada porque seus paraefeitos eram mais graves que a própria doença); em seguida, se numa produção em escala, quanto tempo levará para que esteja disponível para aplicação em toda a população. Já adianto que, mesmo que todos os laboratórios cujas vacinas estão em testes, se estas forem aprovadas e se entrarem em produção em escala ao mesmo tempo, ainda assim será insuficiente para uma cobertura de sete bilhões de seres humanos (ou catorze bilhões de doses caso se mantenha o critério de duas aplicações atualmente empregado na fase de testes) no tempo necessário para que a pandemia seja controlada.

Não custa nada lembrar que, até aqui, nenhum pesquisador, nenhum cientista, nenhum instituto de pesquisa sério ou mequetrefe planeta afora, tem ou detém o conhecimento suficiente sobre o vírus chinês, sobre a síndrome e as consequências que ele causa no organismo humano, portanto, é prematura qualquer tentativa de produzir um imunizante em tão pouco tempo e que o mesmo tenha a eficácia protetora ideal. Só para se ter noção, já existem dados disponíveis que denotam que os efeitos indesejados das vacinas em teste ultrapassam os 5%, o que, em comparação com as vacinas atualmente em uso, a que mais causou efeitos colaterais alcançou apenas 0,3%, ou seja, quase 15 vezes menos. Como diria D. Lélia minha nonagenária mãezinha-A pressa é inimiga da perfeição.

Nosso país é detentor das maiores e das mais bem sucedidas experiências de imunização em massa; somos campeão mundial em imunização gratuita para todas as doenças imunopreveníveis; temos a mais eficiente logística e o mais abrangente e funcional programa de imunização em massa do planeta em tempos de paz e temos capacidade de, em meio a surtos epidêmicos de doenças para as quais há vacina, de darmos resposta rápida na imunização na população alvo e de exportamos toda essa vastíssima experiência para outros países.É pouco ou querem mais?

Em meio a todas essas excelentes performances brasileiras, aparecem o Presidente da República e o Governador de SP, um milico e outro empresário, a discutir o sexo dos anjos, um tentando derrubar o outro e ambos defendendo pontos de vista indefensáveis sobre a primazia ou a paternidade desse ou daquele produto, sua origem, eficácia ou valor. É a mais sem vergonha tentativa de politizar algo sério e que protege a vida humana. Vá-lha-nos quem?

Se a vacina será russa, inglesa, americana, francesa, alemã, paquistanesa ou de olhinhos puxados isso não nos interessa. Não interessa a cor do gato; o que interessa é se o gato é capaz de caçar o rato.
Juízo senhores governantes, juízo!

Menos blá-blá-blá e mais atitude de autoridades constituídas e escolhidas pelo povo, esse mesmo povo que clama por saúde e por proteção à vida. Basta de terror político com uma população aterrorizada pelo medo da morte.

Té logo!