Por José Ricardo Weddling*
O recesso parlamentar terminou. Os trabalhos legislativos estão retornando esta semana. Durante o recesso, como faço todo ano, visitei comunidades na capital e municípios no interior do Amazonas para ouvir a população, prestar contas e receber sugestões para o mandato como deputado federal.
Foram visitados os municípios de Parintins e Barreirinha no baixo Rio Amazonas. No Alto Solimões visitei Tabatinga, Benjamin Constant, Atalaia do Norte e São Paulo de Olivença. E no Médio Solimões, estive em Codajás, Coari, Tefé e Alvarães.
Pude perceber as dificuldades e os sofrimentos do povo ribeirinho, dos pescadores, dos indígenas, da população desempregada, dos agricultores sem apoio e das famílias sem casa. O Amazonas tem 62 municípios, mas 90% da atividade econômica está concentrada na capital, Manaus. O interior tem um vazio econômico, muitos problemas na saúde, pobreza, baixo IDH e forte tendência de migração para a capital.
Em Parintins, três grandes ocupações surgiram pela falta de política de moradia. O conjunto residencial Parintins, do projeto Minha Casa Minha Vida, com quase 900 casas está inacabado e as famílias decidiram ocupar, mesmo faltando água, energia e demais serviços essenciais.
É um município com o Festival Folclórico do Boi Bumbá, que tem reconhecimento internacional. Com o evento, o Governo instala até UTI no hospital estadual e reforça a segurança. Depois, retira tudo. Os dois hospitais necessitam urgentemente de investimentos na infraestrutura. Parintins é o 2º maior município do Amazonas em termos populacionais.
Já Barreirinha sofre com as enchentes todos os anos. As ruas precisam de constante manutenção. Casas e espaços públicos têm altos custos de recuperação. Falta planejamento para atenuar as consequências das alagações.
O município de Atalaia do Norte, com mais de 90% população indígena, as lideranças das diversas etnias e povos denunciam o descaso com a saúde e educação indígena, bem como o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Distrito de Saúde Indígena (Dsei). Atalaia tem um dos menores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Muita pobreza, doenças e mortes no Vale do Rio Javari, com o garimpo ilegal e invasões de fazendeiros. A estrada que interliga a sede do município a Benjamin Constant, de apenas 26 km, tem nova recuperação, no valor de R$ 20 milhões. Nunca termina. Já foi denunciado por moradores. Vamos reforçar essa denúncia.
Em Benjamin Constant, um grupo de professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) inaugura um museu da cultura Ticuna e o secretário de cultura local tenta projetos para envolver a juventude, assim como professores estaduais procuram tirar jovens da dependência química. Tem pouco apoio. O comércio é dominado pelos peruanos. A fronteira é ao lado.
Em São Paulo de Olivença, acompanhado pelo professor Adahilton fui à escola estadual para conversar com os professores sobre os cortes de recursos da educação, promovido pelo Governo Federal. O porto está interditado há meses. Os funcionários da Empresa de Correios e Telégrafos estão alarmados com a privatização que o Bolsonaro quer fazer. Vão ficar desempregados e o povo sem os serviços dos Correios. A delegacia está caindo aos pedaços. O INSS, após vários anos finalmente inaugurou seu posto.
Tabatinga, os salários dos funcionários da UPA continuam atrasados. A cidade totalmente esburacada. É um município de fronteira com a Colômbia. Precisaria de maior presença do Estado: Polícia Federal, Ibama, Forças Armadas, Assistência Social, universidades.
No médio Solimões, Codajás, grande produtor de açaí, exporta esse precioso produto para Manacapuru e Manaus. Pouco é beneficiado localmente, para gerar mais emprego. A cidade tem esgoto a céu aberto. O mesmo grupo político governa há 34 anos. A Cidade sem energia por alguns dias. Resultado da privatização da Amazonas Energia. Porto também interditado. A estrada de Codajás até Anori há anos não sai. Mas tem obra de R$ 69 milhões em andamento.
Coari deveria ser “um brinco”, pois recebe milhões de royalties pelo gás e petróleo explorado no município. Mas problemas urbanos são evidentes. A UFAM e o IFAM mostram-se preocupados com os cortes de recursos para a educação promovidos pelo governo Bolsonaro. O porto está há 6 meses inoperante. E as unidades do Minha Casa Minha Vida estão a passos lentos.
Tefé tem aeroporto de grande capacidade. Muito bom. Mas o turismo ainda não é forte. Poderia ser. O lago de Tefé é belíssimo. Na ponte do Abial só tem as estruturas de ferro. Milhões já foram pagos e nada feito. Já foi denunciado. E as mais de 600 casas do Minha Casa Minha Vida foram ocupadas, mesmo inacabadas, pela população que aguardava, que perdeu a paciência pelo descaso do atual governo. No Sebrae, as associações de produtores discutem a valorização no mercado dos produtos pirarucu e farinha do Uarini.
Em Alvarães, finalmente, começou a construção do porto. Mas sem prazo para conclusão. Um pequeno conjunto residencial, também não concluído, foi ocupado pelos moradores. Na conversa com vereadores da cidade e lideranças indígenas, o descaso com os direitos dos povos indígenas e com os ribeirinhos.
Vamos continuar na defesa do Amazonas e do seu povo, seja na tribuna da Câmara dos Deputados onde, no primeiro semestre, fui o deputado do Amazonas com mais pronunciamentos, ou nas tribunas no interior e em cima da Kombi nos terminais de ônibus em Manaus.
A luta continua!
*O autor é economista e deputado federal pelo PT
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