A história de Vanessa Grazziotin (PCdoB) é uma de resistência. Militou no movimento estudantil, foi presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e dirigente da Associação dos Professores Profissionais do Amazonas (APPAM), presidente da Associação dos e atua na política desde 1988, quando foi eleita vereadora de Manaus pelo PCdoB e reeleita em 1992 e 1996. Em1998, foi eleita deputada federal onde exerceu dois mandatos, o segundo de 2002 e 2006. Em 2024, Grazziotin foi eleita senadora. Vanessa está há 40 anos na política sem nunca ter trocado de partido. Tanta na Câmara quanto no senado, Vanessa sempre esteve entre os parlamentares mais influentes do Congresso Nacional. Nesta eleição, é candidata a deputada federal. Nesta entrevista ao blog, ela aborda assuntos que estão na pauta do dia da vida brasileira e ligados à sua proposta de atuação, entre caso seja eleita a uma cadeira na Câmara dos Deputados.
BHL – Candidata, a presença da mulher na política vem crescendo, mas,, ao que parece, ainda é considerada pequena. A senhora também pensa assim?
Vanessa Grazziotin – Vem avançando, mas ainda é tímida. Tanto como eleitoras (desde a década de 1930) e como candidatas a cargos públicos, essa participação vem crescendo moderadamente, mas vem crescendo. Mas esse avanço é fundamental, quando sabemos que ainda há muito a ser feito na luta pelos direitos das mulheres, numa sociedade machista onde ainda há muito preconceito, exclusão e violência contra elas.
BHL – Mulher vota em mulher, baseadas no conceito de sororidade, que remete feminismo , empatia, confiança, cooperação e acolhimento entre
mulheres?
Vanessa – Nem sempre se trata de uma regra. É importante mulher votar em mulher, mas não apenas pelo fato de ser mulher. No caso, essa escolha deve seve observar candidatas que defendam pautas femininas como, saúde, educação, assédio, maternidade e igualdade de gênero. Compromissos com os problemas que ainda afligem as mulheres em pleno século 21, como métodos contraceptivos, atendimento às mulheres com câncer de mama e combate à violência contra a mulher, o feminicídio, um dos maiores males de nossa sociedade nos dias de hoje. Devemos defender, sempre, a r igualdade de oportunidades, como determina a nossa Constituição. E isso não é ser feminista, é defender direitos. Afinal, já demonstramos também ter qualificação semelhante à dos homens para ocupar quaisquer funções.
BHL – Qual a representatividade da mulher, hoje, em cargos públicos no Congresso Nacional?
Vanessa – As mulheres correspondem a maior parte do eleitorado brasileiro. São mais de 77 milhões de eleitoras, o equivalente a 52,5 % do total. No entanto, este grupo ainda tem baixa representatividade nas cadeiras do parlamento. Apenas 9 mil mulheres concorreram nas últimas eleições e 290 foram eleitas. Mas isso vai mudar. Com o objetivo de aumentar as representações femininas e negras na política, o Congresso aprovou novas regras. Uma delas é a de que o voto dado a mulheres e negros, nessas eleições, contarão em dobro na distribuição de recursos do Fundo Eleitoral. Ocupamos apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados; no Senado, são 13%. Nas assembleias estaduais, a mesma situação: apenas 161 mulheres foram eleitas, o que também representa uma média de 15% do total de postos. Se observarmos bem, é muito difícil encontrar mulheres como cabeça de chapa da eleição ao governo. O Amazonas é uma exceção nessa eleição, com duas candidatas: Carol Braz (PD) e Nair Blair (Agir). Mas, em geral, no cenário ao cargo de governador, as mulheres continuam ocupando somente o posto de vices, como tem sido registrado em outros estados.
BHL – Mas, pelo menos na corrida à Presidência da República, o número de candidatas mulheres aumentou.
Vanessa – É verdade, nestas eleições de 2022 são quatro mulheres na disputa pela Presidência – Soraya Thronicke (União Brasil), nesta sexta-feira (5), se juntando a Simone Tebet (MDB), Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU). Realmente, um recorde de candidatas na história do Brasil desde a redemocratização. Que bom, né? Acho que só agora estão descobrindo que sem mulher não há democracia!
BHL – Parece que no Amazonas, em relação a cadeiras ocupadas no Congresso Nacional, nós caminhamos para trás, não é?
Vanessa – Exatamente. Infelizmente, nesta legislatura que está chegando ao fim, por exemplo, não existe nenhuma mulher na bancada do Amazonas no Senado e muito menos na Câmara dos Deputados. Quer dizer, a participação da mulher com cargos na bancada do Amazonas caiu a zero, pois no mandato passado haviam duas mulheres na Câmara dos Deputados – Rebecca Garcia e Conceição Sampaio –, e eu, Vanessa, no Senado Federal. Isto é uma vergonha! Temos de garantir a paridade de gênero no Congresso Nacional e nas assembleias. Temos que admitir lei que exigiu um mínimo de 30% de mulheres candidatas nas chapas foi importante, mas não é suficiente.
BHL – Mudando rumo da pauta, como a senhora avalia a forma como o governo Bolsonaro vê os índios?
Vanessa – Existe uma passagem vergonhosa na história do parlamento brasileiro que é preciso citar para entender o desprezo do presidente Jair Bolsonaro pelos índios. No dia 15 de abril de 1998, o então deputado federal Jair Bolsonaro afirmou: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje não tem esse problema em seu país”. Esse lamentável episódio reflete porque o ex-capitão do Exército colocou em prática uma política que, segundo as próprias organizações indígenas, não pode ter outro nome: é uma política genocida. O mundo inteiro critica o Brasil por isso.
BHL – Colocada nas mãos de apoiadores bolsonaristas e não nas mãos de indigenistas, profissionais ligados à causa indígena, a Funai perdeu a função de fiscalização . Qual é resultado disso tudo?
Vanessa — Não poderia ser outro: invasões de garimpeiros, madeireiros, pescadores, caçadores e grileiros em terras indígenas. A todo momento, lideranças ameaçadas de morte; assassinatos de índios. Lamentavelmente não é exagero dizer que o governo Bolsonaro colocou em prática uma “política genocida”. De saída, Bolsonaro tirou da Funai a competência de demarcar terras indígenas e entregou a atribuição de presente para o Ministério da Agricultura. E todos nós sabemos que o Ministério da Agricultura sempre esteve influenciado por ruralistas, que disputam as terras com indígenas. Isso é velho. As consequências estão aí.
BHL – De acordo com o relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, publicação anual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), foram registrados 355 casos de violência contra indígenas ao longo de 2021. É um número assustador.
Vanessa – Este período é talvez um dos mais tristes na história dos povos indígenas e mais vergonhosa para a história do Brasil. Em um período de 10 dias – entre 3 e 13 de setembro – seis indígenas dos povos Pataxó, Guarani Kaiowá e Guajajara foram assassinados e um se suicidou nos estados da Bahia, do Mato Grosso do Sul e do Maranhão. Só para se ter uma ideia da dimensão dessa barbárie, o terceiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), 176 indígenas foram assassinados no país. O número é praticamente igual ao de 2020, quando 182 indígenas perderam a vida de forma violenta.
BHL – A presidente Dilma foi afastada do cargo por pedaladas, tão pouco se comparado às atrocidades do presidente Jair Bolsonaro. Por que ninguém, nem os poderes brasileiros, nem as instituições internacionais conseguem dar um basta a isso tudo?
Vanessa – Chegou a hora de julgar vesse governo nas urnas. É preciso denunciar no Brasil e no mundo e cobrar as responsabilidades para que essa política e esse governo sejam julgados nas urnas e nos tribunais. Só assim poderemos restabelecer a paz no país, na vida dos trabalhadores brasileiros, no combate à fome, ao desemprego, á falta de esperança. Um olhar de respeito sobre a Amazônia, com desenvolvimento sustentável e tratar com dignidade os índios, aqueles que chegaram à terra primeiro e que, aliás , sempre estiveram lá. O Brasil nunca foi tão criticado mundialmente, como nos últimos quatro anos. O mundo ficou estarrecido com as notícias do assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips na região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Amazonas. O fato de um deles ser estrangeiro jogou luz sobre um problema recorrente na região. E o que eles fizeram para merecer morte tão brutal? Apenas lutavam pelos direitos dos indígenas e pela preservação da floresta. E isso, na visão do governo de Jair Bolsonaro é “ coisa de esquerdista”, é proibido.
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