Por Carlos Santiago
O século XXI é caracterizado pela sociedade da informação e a do conhecimento. A primeira tem início com o surgimento da internet que possibilitou um maior acesso, universal e total à informação e ao conhecimento, através dos meios de comunicação e equipamentos eletrônicos.
A segunda se concretizou a partir das redes sociais, das interações e colaborações entre indivíduos-membros do mundo inteiro capazes de discutir questões, refletir sobre elas, ensinando e aprendendo uma com as outras, em todas as áreas de conhecimento. Porém, tem-se observado, concomitante, um isolamento entre as pessoas, violência, intolerância e o aparecimento de doenças neurais, resultante de uma vida em busca de sucesso e autodesempenho.
Para o filósofo sul coreano radicado na Alemanha Byung-Chul Han, estamos diante de uma sociedade do desempenho, na qual predomina o imperativo da vontade ilimitada, sob o slogan do “Yes, we can”, em que tudo você pode, tudo podemos. O mundo do trabalho valoriza os indivíduos inquietos e hiperativos, ditos produtivos, capazes de realizar múltiplas tarefas no cotidiano. Criou-se o sujeito de desempenho e de produção, o empresário de si mesmo, que vive uma busca desenfreada pelo desejo de autorealização, reconhecimento e status.
No entendimento do filósofo, a sociedade do desempenho está produzindo a sociedade do cansaço e aponta algumas alterações trazidas pela pós-modernidade, sobretudo no âmbito das patologias mais comuns entre seres humanos. Para o mundo ocidental, a preocupação com as doenças virais e bacteriológicas ficou no século passado, dando lugar, agora, à era das enfermidades neurais.
O crescimento de novas patologias, tais como a depressão, as síndromes de hiperatividade, esgotamento profissional (Burnout), transtorno de personalidade e outros tipos de transtornos de ordem psíquica têm seus impactos na vida do homem contemporâneo em escala mundial. Assiste-se a um processo de adoecimento do homem resultante da sua relação com a economia e o trabalho.
A sociedade do desempenho é marcada pela vida ativa, uma sociedade do trabalho que subjugou o homem à condição de animal trabalhador. Para o Byung-Chul Han, o homem moderno perdeu o limite de trabalho, nas palavras do autor, tornou-se o próprio senhor, mas também o escravo. Ele não apenas vigia e é vigiado, mas é vítima e agressor, as atividades humanas decaíram para o nível do trabalho e o homem se torna “hiperativo e hiperneurótico”.
Esse tipo de sociedade não é livre, pois produz nas pessoas uma concorrência consigo mesmas e uma coação destrutiva que as leva a produzirem cada vez mais. O sujeito do desempenho vive constantemente num sentimento de carência e de culpa, buscando otimizar o tempo e tornar-se mais produtivo.
O ritmo frenético do dia a dia tem privado as pessoas do descanso. As pessoas estão cansadas para se importar e ver o outro, para pensar no outro, para os momentos de lazer com a família e amigos, para olhar para si mesmo como alguém que depende da alteridade, da diferença e, portanto, da relação com seus semelhantes.
Byung-Chul Han diz que é preciso valorizar o outro, resgatar a importância do inútil, do ócio, da contemplação e da liberdade de entregar-se para a natureza. Caso contrário, estaremos produzindo uma sociedade não só do cansaço, mas da violência, do silêncio, do isolamento, um modo de vida vazio e sem sentido, um campo fértil para
reprodução das patologias neurais.
*O Autor é Analista político, Sociólogo e Advogado
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