São Gabriel da Cachoeira precisa ser enxergada

Por Ricardo Gomes*

Um município com o maior número de etnias indígenas, onde fora o Português e o Espanhol dos vizinhos de fronteira, tem, oficialmente, como foi mais uma vez reconhecido nos belíssimos jogos estudantis regionais, que mantiveram felizes 1.000 famílias praticando esportes, livres do assédio das drogas e do alcoolismo, infelizmente tão presentes no dia a dia do alto Rio Negro, 4 outras línguas faladas em todos os cantos, já seria merecedor de um olhar mais humano, atento e parceiro por parte da Uniao e do Estado.

Com pouquíssimo tempo se constata o abandono, visivelmente oriundo não só da escassez de recursos, que é do momento, mas dá total falta de planejamento e de boa vontade.

São Gabriel tem, por exemplo, mais de 230 escolas municipais e, dessas, apenas 10% na sede, sendo a esmagadora maioria em áreas de dificílimo acesso, onde, em tese, deveria chegar, da mesma forma que na capital: Merenda Escolar, transporte escolar, material didático, professores com especialidades atinentes às suas realidades e acima de tudo: SAÚDE, para que as crianças e os professores pudessem conseguir ir às salas de aula, mas o Municipio colhe hoje o descaso de anos de abandono e desprezo da Uniao e do Governo do Estado, que, somados à Administracoes Municipais desastrosas, como comprova a reprovação das contas da Saúde Pública Municipsl, onde ex-Secretários e equipes, estão condenados pelos Orgaos de Fiscalização, após análizes das contas de 2004 a 2016, à devolver fortunas, mas não, mesmo assim, com a aparente “punição”, não conseguiriam, de forma alguma, devolver a saúde pessoal de cada morador, que, criminosamente deixou de ter a qualidade de vida adequada, como era e é merecedor .

Hoje o Municipio está sob Decreto de Energência, por conta principalmente da Malária, mas não apenas dela, pois há sinais de doenças medievais, erradicadas basicamente do mundo inteiro, presentes na cidade, desde a sede, até o interior onde pela falta de recursos, de infra-estrtura e de apoio, em face das distâncias continentais e falta de vias de acesso regulares e transitáveis, não chegam, da forma e quantidades adequadas, profissionais de saúde e nem medicamentos .

Os fenômenos mais bizarros nesse cenário Dantesco:

– Nas cercas de 210 comunidades indígenas, onde há cerca de 200 escolas, é gigantesco o número de crianças em idade escolar, fora da sala de aula, por que também estão fora do mundo formal, uma vez que não há Cartorio, não há Registro de Nascimento, e, por conta disso, infelizmente, no mundo formal dos Governos incensiveis e imcompentes diante de uma realidade que existe há anos, milhares de criancas não fazem parte dos números do IBGE, e por conta dessa realidade ridícula, o Municipio não recebe adequadamente, há muito tempo: repasses do FPM, do ICMS, do FUNDEB, das verbas da Saude, etc .

Por que, de forma diferenciada, já que é uma Região com peculiaridades exclusivas, não se tem, como UBS Fluvial (depois de 618 anos de Brasil, Sao Gabriel vai receber a primeira):

– Cartorios ou Servicos Publicos num Posto Fluvial, como Cartorios, Previdencia, Detran, etc ?

– Escolas Fluviais, como no estado do Pará, por exemplo, em convênio com a Federacao das Industrias ?

– Energia Solar, 100%, nas aldeias, nas Escolas e UBS ?

– Atuacoes mais propositivas e construtivas por partes dos Poderes públicos e das Associacoes e ONGS ?

São Gabriel da Cachoeira, além das riquezas naturais e minerais, mal estudadas e extraídas sem crirerios, sem fiscalização e sem planejamento nem acompanhamentos minimamente adequados por parte da Uniao nem do Governo do Estado, possui uma população extremamente trabalhadora, ordeira e pacífica, mas diante das adversidades que se avolumam, em doses industriais, merece um olhar macro sobre uma região única no Brasil, pela preservação de tudo o que tem, mas principalmente do seu povo, uma população que ainda se mantém viva graças a sua resistência, como bem disse o Rafinha, na última Sessao na Câmara, em que Jackekine, vereadora, lembrou que nessa região eles só existem e resistem por que cada um cuida de seu parente, como eles se tratam uns aos outros, com um carinho familiar, muito além dos laços de sangue.

É triste ver o descaso e o abandono da Uniao e do Estado, com uma São Gabriel, que agoniza em silêncio, quando, com o mínimo de planejamento e sensibilidade humana (já que a sensibilidade política não funciona), poderia ter e oferecer aos seus filhos uma qualidade de vida com Saude, de verbas tão desviadas no Amazonas, que não lhes permitisse ver tantos casos de malária quanto nos rincoes da Africa, e uma Educacao tão sem recursos quanto nas piores cidades da India, por que as crianças não existem no mundo formal, por que o cartório não se desloca e as comunidades não tem outro acesso, e daí a verba não chega, o planejamento educacional fica inviabilizado, pois sem recursos não há professores nem infraestrutura (escolas, transporte e Merenda), e a cidade vira mais um lixo da Politica (e dos politicos), que vai para baixo do tapete em ano eleitoral.

Tomara que esses detalhes sejam vistos, compreendidos e lembrados até as eleições …

*O autor é advogado e fã do Alto Rio Negro