Salvemos o SUS!

O SUS pode não ser o melhor mas é o mais robusto programa de atenção em saúde pública do planeta mesmo com todas as suas deficiências, incompreensões e abandonos por parte das autoridades nos três níveis federativos e por parte de todos os poderes. Falo isso com a autoridade de quem vive e respira o SUS há mais de 40 anos.

Talvez o único país do mundo que tenha um sistema público em quem até de certa forma nos inspiramos para elaborar o nosso, seja a Inglaterra porém, que não enseja quaisquer parâmetros de comparação tendo em vista a complexidade e as distâncias que nos separam do ponto de vista da qualidade de vida, da renda per capita, das condições de habitabilidade, de renda, de saneamento, de educação e do nível de compreensão do povo.

O SUS, mais de 30 anos após sua criação, atravessa a sua mais difícil e dolorosa prova diante da pandemia que nos alcançou, pondo autoridades políticas, sanitárias, jurídicas, pensadores, sociólogos, filósofos, economistas, banqueiros, empresários, povo e poderes,  na mesma linha de necessidade e de expectativas porque assim como a pandemia infartou e está colapsando o SUS, igualmente atinge impiedosamente o sistema de saúde privado causando baixas entre poderosos e ricos cujos herdeiros, talvez estejam agora refletindo que, pagar por um plano ou guardar um leito num apartamento de hospital cinco estrelas, não garante a restauração da saúde e nem mesmo a vida porque para esse vírus não há tratamento mas apenas meras tentativas de combate nesse que está se notabilizando como o maior mal da história da humanidade proporcionalmente.

Retornemos ao SUS, objeto dessa nossa mera reflexão,  porque é nele e por meio dele, que milhões de brasileiros estão entrando ou precisarão passar se forem atingidos pelo coronavírus.

Correm daqui, improvisam de lá, decreto de calamidade daqui, isolamento imposto de lá, socorro financeiro pra uns, gastos astronômicos e necessários sendo feitos, hospitais de campanha sendo montados, EPI e respiradores sendo adquiridos, milhares de profissionais e técnicos de saúde sendo contratados, protocolos de tratamento sendo aplicados, busca pela vacina, diagnósticos mais rápidos e confiáveis, enfim, uma corrida contra o tempo na tentativa de salvar vidas.

Na saúde, não pode haver improvisos, não pode haver apenas tentativas; a saúde só permite que se façam as coisas com planejamento, com grana suficiente, com inteligência e com honestidade moral e de propósitos.

A saúde e a vida humanas são os bens mais caros para os quais devem estar voltadas todas as atenções, recursos, mentes e corações, porque nenhum povo poderá ser educado se estiver doente; nenhum cidadão terá condições de aproveitar da segurança, do saneamento, da infraestrutura e dos demais recursos públicos se estiver num leito de morte; ninguém poderá trabalhar, produzir, consumir e ser feliz, se padecer das doenças e seus agravos e, só se alcança toda essa tranquilidade e bem estar físico e social, se ao povo for ofertado um sistema público de saúde fisicamente bem  implantado, profissional e tecnicamente bem servido, tecnologicamente equipado, humanitariamente funcional e orçamentária e financeiramente bem dotado.

Para tanto, governantes e parlamentares, empresários e sociedade, têm que introjetar nas suas mentes e corações, que a saúde pública, nos moldes em que a nação brasileira optou um dia por inseri-la na Constituição Federal como dever do estado e direito do povo, deve obrigatoriamente ser levada a sério e encarada por todos como cláusula essencial da vida, sem vacilos ou  omissões.

É preciso que se reconheça que a pandemia pelo novo coronavírus, alcançou a toda a humanidade, governos e poderes de um modo avassalador como nunca antes, quer nações de primeiro, terceiro ou décimo mundo e veio para que todo o conjunto da sociedade possa refletir seriamente sobre os rumos da saúde com os investimentos necessários e sem vacilos e que aprendamos a lição ainda que de modo amargo, para não repetirmos os mesmos erros que causam mortes, entristecem lares e deprimem o tecido social como um todo.

Agora, risivelmente, aparecem aos montes e soltos por aí, os salvadores da pátria, os “experientes”, os bambambãs, os phodões da Vila Mamão, os bonzões das galáxias, os quais, até recentemente, mandaram e desmandaram no poder, tiveram ao seu dispor bilhões de reais nos cofres públicos para investir na ampliação, equipagem e modernização da saúde e realizaram muito pouco ou deixaram uma herança maldita na mão dos seus sucessores e agora, na cara velha e dura, acham de cobrar agilidade, firmeza e resultados como se tudo pudesse ser feito num estalar de dedos. Vôte!

O que a sociedade quer e reclama com razão, é que os impostos pagos se transformem em bens e serviços de qualidade especialmente na saúde pública, e que o SUS funcione da maneira que foi preconizado; que governantes e parlamentares cumpram com seus deveres constitucionais devolvendo a este mesmo povo soberano, dignidade em forma de cuidados na saúde.

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