Quem vê o empresário Luiz Alberto Nicolau e seu irmão, o deputado estadual Ricardo Nicolau (PSD) assumirem a linha de frente do combate à Covid-19 no Amazonas, expandindo o tratamento que implantaram na rede de seu grupo familiar para outros Estados e até outros países, pode não saber que a história da família começou lá atrás, em 1968, quando o pai deles, Luiz Fernando Sarmento Nicolau, um migrante carioca residente em Manaus, decidiu cursar Medicina na Universidade Federal do Amazonas.

Filho de Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, Nicolau formou-se em 1973 e, depois de uma pós-graduação em administração hospitalar, cursada dois anos depois no Instituto São Camilo, em São Paulo, decidiu fundar, em 1976, o Pronto-Socorro e Hospital dos Acidentados, instalado inicialmente em um prédio histórico e acanhado da avenida Joaquim Nabuco, Centro de Manaus. Aquele foi o embrião da Samel, hoje a maior rede de assistência hospitalar do Amazonas.

Mas Nicolau também construiu uma longa carreira política, que começou em 1986, elegendo-se deputado estadual pelo PMDB. Foi vice-presidente da Assembléia Estadual Constituinte, entre 1987 e 1988, e presidente em 1988. Neste último ano, licenciou-se do Legislativo para ocupar a Secretaria de Saúde, no governo de Amazonino Mendes (1987-1990). Em 1989, deixou a secretaria e reassumiu seu mandato de deputado.

Nas eleições de outubro de 1990, reelegeu-se deputado estadual e quatro anos mais tarde foi o segundo mais votado para deputado federal, obtendo 68.614 votos (àquela altura uma votação consagradora). Reelegeu-se para mais um mandato, em 1998. Dois anos depois, lançaria a candidatura do filho Ricardo a vereador em Manaus, com sucesso.

Ricardo tornou-se herdeiro da carreira política e elegeu-se sucessivamente deputado estadual a partir de 2002. Em 2016, a família decidiu lançar na carreira política o filho mais novo, Hiram, que elegeu-se vereador. Nos últimos anos, entretanto, o foco deles voltou-se quase exclusivamente para a expansão do grupo Samel, o que fez o deputado estadual anunciar que este seria seu último mandato e licenciar-se do cargo assim que a pandemia começou para cuidar exclusivamente do hospital de campanha Gilberto Novaes, que o grupo empresarial ajudou a Prefeitura de Manaus a instalar.

A tendência era que Hiram desse prosseguimento ao braço político da família e Ricardo assumisse os negócios, junto com o irmão Luiz Alberto, o Beto, que durante a pandemia deixou os bastidores e veio para o holofote, tornando-se uma espécie de porta-voz do bem sucedido grupo empresarial, que está construindo o maior hospital privado do Estado, no bairro do Aleixo, em Manaus. Ocorre que a atuação destacada deles durante a pandemia colocou à frente dos Nicolau uma possibilidade que parecia adormecida: a disputa da Prefeitura de Manaus.

ACERTARAM O QUE NÃO VIRAM

Foi o tino empresarial da família que os fez perceber uma grande oportunidade. Ao constatar os primeiros resultados positivos da utilização de uma cápsula de ventilação não invasiva, que substituía a dolorida intubação, criada por cientistas amazonenses do grupo Transire, os Nicolau decidiram investir tudo nela. Deu certo. Eles obtiveram os melhores resultados no tratamento de seus pacientes nos hospitais do grupo, com o menor índice de letalidade e a maior taxa de recuperação.

A cápsula, que recebeu o singelo nome de Vanessa, homenagem de um de seus criadores a uma familiar, fez tanto sucesso que foi “importada” por governos estaduais de diversas regiões brasileira, instalada nos principais municípios amazonenses e até adotada por outros países, como a Bolívia.

Eles também decidiram ajudar a Prefeitura de Manaus a instalar um hospital de campanha em tempo recorde. Escolheram o prédio ainda não inaugurado de uma escola municipal na zona Norte da cidade e o adaptaram, utilizando a nova tecnologia. Chegaram a investir recursos próprios na empreitada. Deu muito certo. Hoje já contabilizam mais de 400 recuperações, em menos de dois meses de funcionamento.

O sucesso do grupo no combate à pandemia despertou uma possibilidade adormecida. Lideranças políticas, empresários e pessoas atendidas com sucesso na pandemia passaram a incentivar Ricardo a lançar-se candidato a prefeito de Manaus nas eleições deste ano.

A possibilidade, ainda não assumida publicamente pela família Nicolau, é real. Tem a simpatia inclusive da direção regional do PSD, partido do deputado. E de lideranças de outras legendas.

Ricardo Nicolau não confirma nem nega. “Por enquanto, quero me dedicar ao hospital de campanha”, diz ele, que ganhou um motivo a mais para mergulhar de cabeça no atendimento aos pacientes: ele próprio contraiu a doença nos primeiros dias de trabalho no Gilberto Novaes.

O que era apenas uma estratégia empresarial pode se transformar numa empreitada política, a maior da família até aqui.