Os bastidores da entrevista em que David admitiu pela primeira vez o afastamento de Wilson Lima, mesmo ressalvando que “ainda pode haver conversa”

Um grupo de jornalistas que comanda alguns dos principais sites de informação de Manaus, incluindo o que edita este blog, reuniu-se em um consórcio para otimizar a cobertura da agenda política da cidade neste ano eleitoral. Por um lado, firmaram uma parceria com o Instituto de Pesquisas de Norte (IPEN) para fazer pesquisas de intenção de votos com alto grau de confiabilidade; por outro, decidiram convidar algumas autoridades e pré-candidatos a prefeito da capital para conversas informais transmitidas ao vivo em lives nos canais de todos. E o primeiro encontro ocorreu ontem, nos estúdios do Amazonas Atual, com o atual comandante do Executivo Municipal, David Almeida (Avante).

“Vou falar sobre tudo, hein”, disse o prefeito logo ao chegar. Nem ele nem sua assessoria impuseram qualquer limite, assunto proibido ou sequer pautaram perguntas. Ótimo para o bom jornalismo. E realmente o convidado não se esquivou de nenhum assunto. “Falo até do empréstimo”, disse pouco antes da live começar, referindo-se à polêmica com a Câmara Municipal por causa da votação de um projeto que muda um artigo de outro aprovado em dezembro, autorizando a Prefeitura a contrair um empréstimo de R$ 580 milhões para obras de infraestrutura junto ao Banco do Brasil.

Aliás, sobre a votação do projeto, ele procurou ser bem didático, explicando que o empréstimo já está aprovado, mas o Banco Central exigiu, para liberar o recurso, que fosse dada como garantia a arrecadação do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). É isso que a Câmara vota neste momento. “A população de Manaus não pode ser penalizada por causa da disputa eleitoral”, disse o prefeito.

Sobre a eleição, ele evitou de declarar pré-candidato à reeleição, mas disse que isso será definido em Congresso Nacional do Avante no dia 4 de maio. Mas relacionou os motivos pelos quais se considera favorito para continuar na Prefeitura no próximo mandado: “Na eleição passada eu tinha 52 segundos de tempo de televisão, agora terei mais de 10 minutos; antes tinha o apoio de apenas dois vereadores, agora tenho 20; antes eu tinha apenas ideias a apresentar, agora temos um legado”.

David não citou os nomes dos adversários nenhuma vez, apesar de se referir a alguns deles, especialmente a Amom Mandel (Cidadania), até agora seu principal concorrente, em vários momentos. Disse que vai denunciá-lo por despejar lixo em via pública e considerou eleitoreiro o anúncio da liberação de uma emenda de R$ 3 milhões para o Governo do Estado asfaltar ruas em Manaus (“não dá pra fazer uma operação tapa-buracos em cinco ruas”), por exemplo.

Outro citado indiretamente foi Roberto Cidade (União Brasil). Foi neste momento que David fez a declaração mais forte da entrevista. “O governador decidiu lançar um candidato de seu partido e vamos enfrentá-lo”, afirmou, deixando claro pela primeira vez seu afastamento de Wilson Lima. Mas também disse que, à exceção dos convênios para asfaltar ruas, que terminaram, as outras parcerias estão mantidas, citando o Passe Livre Estudantil e a construção de viadutos. E deixou ao final de uma resposta sobre o ex-aliado uma brecha quando questionado se era um rompimento definitivo. “Dependendo do que acontecer até o início da campanha, ainda pode haver conversa”, soltou. E ainda confirmou que terá o apoio de seu correligionário, o vice-governador Tadeu de Souza. “Ele já está até trabalhando no meu programa de governo”, revelou.

Outra frase marcante com referência ao governador foi “ele não me deve nada”. Foi um recado. Desde o final da eleição de 2022 multiplicaram-se comentários dando conta da contrariedade de Wilson com a versão corrente de que sua reeleição se devia em grande parte ao apoio de David, o que imporia uma retribuição agora.

O prefeito estava disposto a falar e falou. Sobre tudo.

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