Mais religiosidade e menos ideologia

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Estamos às vésperas de a igreja católica de Manaus, após a renúncia de D.  Sérgio por motivo de doença, ter sob seu comando um novo Pastor.
Por um pouco mais de seis anos à frente da Cúria Metropolitana de Manaus, D. Sérgio imprimiu um ritmo muito próprio sem ser personalista. Muito afável, solicito e extremamente prudente o agora ex pastor, deu continuidade ao trabalho pastoral e administrativo implantado por D. Luiz seu predecessor. Pouco conhecedor da realidade regional, deixou-se cercar por uma ruma de padres, na sua maioria diocesanos, os quais impuseram uma agenda e um ritmo dominado pelas questões sociais de visão totalmente ideológica e até partidária; o que acontece dentro do Conselho Arquidiocesano de leigos e leigas e nas ditas pastorais sociais estão aí para provar.

Para entender um pouco da evolução e consolidação do que é hoje a estrutura, o funcionamento e os desdobramentos da Igreja Católica particular de Manaus, é preciso que viajemos no tempo, por isso, é que vou tentar contextualizar buscando na memória o que presenciei e me envolvi quando engajado na Coordenação da Pastoral da Juventude de Manaus.

Durante toda a década de 1980 e início dos anos de 1990 no fervor do surgimento das Comunidades Eclesiais de Base, as famosas CEB, juntamente com o nascimento do Partido dos Trabalhadores, em que a igreja de Manaus apoiava as invasões de terras, as greves de motoristas de ônibus e dos operários do distrito industrial ambiente em que as pastorais e movimentos católicos viviam em total ebulição, era natural o envolvimento de parte do clero sob as bençãos da Cúria, até porque estávamos ainda saindo de um período político autoritário com governadores e prefeitos escolhidos a dedo pelo poder central e, as causas sociais, exigiam uma tomada de posição das autoridades eclesiais da época.

Decorridos quase quarenta anos, o Brasil mudou, a igreja católica mudou, a febre evangélica com seu vigor pentecostal é uma realidade, a democracia retornou e se consolidou e vivemos um momento e um mundo absolutamente diferentes daquela época. Só não mudou a visão de Roma sobre a igreja católica de Manaus tendo em vista que esta continua a enxergar de modo oblíquo para cá ao designar continuamente bispos “estrangeiros” para governar nossa igreja particular numa sucessão de nomeações de prelados do Nordeste, do Sul e do Sudeste como se nenhum padre amazonense tivesse competência e valor para alcançarem o cimo episcopal e assumirem nossa igreja. Há mais de sessenta anos não temos um Arcebispo genuinamente amazonense ou até mesmo amazônida. Credo!

Pois bem, mantendo essa visão equivocada sobre nossa igreja local, Roma vai lá em um estado do Sul do país e pesca mais um bispo “estrangeiro” para comandar nosso clero e gerir a igreja católica de Manaus.

Conhecendo como conheço, a formação, a história de vida, os lugares onde o indicado já pastoreou, sua passagem pela CNBB com suas manifestações e preferências por temas políticos, sua trajetória clerical e episcopal experimentadas nos conflitos agrários e na defesa dos povos indígenas no Centro Oeste, posso concluir, sem medo de errar, que a postura ideológica com viés de esquerda vai permanecer e com mais vigor na cúpula da nossa igreja e, que aquela porção do clero que cercava D. Sérgio e que se aproveitou da sua fragilidade física para impor uma visão mais social do que espiritual sobre o povo católico onde a mistureba de cultos com as seitas de matriz africana e outras inculturações ainda prevalecerão e terão longa vida e manterão amplo domínio sobre o novo pastor, lamentavelmente.

Confesso que sou daqueles católicos que creem que a ação do Espírito Santo sempre prevalece nessas escolhas, e quero continuar acreditando assim, porém, como cristão engajado, cônscio dos meus compromissos de leigo e crítico das posturas e posições adotadas ora pelo clero ora pela cúpula da igreja, adoto sempre as palavras de Jesus em Lucas 19:40 que disse: “E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão.”

Ao novo arcebispo metropolitano desejo uma profícua administração e que cuide bem da igreja de Manaus, mas admoesto que saiba equilibrar bem as coisas ou seja, que tenha uma visão sobre o social mas sem viés ideológico, cuide melhor da espiritualidade do povo de Deus tão carente das coisas do Alto e evite as perigosas “inovações” na liturgia que deslocam Jesus do centro e onde a permissividade litúrgica substitui o Cordeiro imolado impondo ritos que mais agradam ao povo e ao clero do que a Deus. Salve Maria!

Té logo!

*O autor é farmacêutico bioquímico e diretor-presidente da Fundação Hospital Alfredo da Matta