Loquidaum

Daqui pra frente ainda há uma longa estrada a ser percorrida antes que possamos cantar vitórias sobre a pandemia causada pelo vírus chinês. Hoje, infelizmente, ainda contamos as centenas de vítimas diárias.
Como estudioso e atuante na saúde pública e especialista em epidemiologia, há dois meses atrás, analisava com alguns colegas do meio, diversas questões que circunscrevem essa pandemia e chegamos a algumas conclusões as quais igualmente envolvem comportamento humano, habitabilidade, poder aquisitivo e outras variáveis sócio econômicas, como fatores preponderantes na escalada epidemiológica da doença no nosso estado.

Lá atrás já analisávamos, que no início do mês de abril, cada um de nós conheceria alguém que morreria ou teria um parente ou vizinho morto pelo coronavírus. Não deu outra!

Diante desse quadro tenebroso, concluímos que não seria (como não está sendo) fácil que governos e autoridades sanitárias determinassem ou mesmo sugerissem meios e métodos de confinamento, quarentena, distanciamento ou qualquer outra forma de isolamento humano e social como tentativa de preservar vidas freando o contágio e consequentemente retardando ao máximo ou segurando o aumento expressivo de casos para que se evitasse a pressão que levaria ao colapso no sistema de saúde e, de modo direto, isso permitisse que a curva da pandemia fosse suave, lenta e que decaísse e se achatasse. Não deu e nem vai dar! Isolamento social é coisa e costume de europeu e de gente rica!

Nossa gente, notadamente as de menor poder aquisitivo e das periferias de Manaus e do interior por raízes ancestrais e por impregnação hereditária, é refratária a confinamento ainda mais se for por imposição. As moradias e a formação cultural e familiar não aceitam e nem permitem o distanciamento. Somos um povo grudento e pegajoso que adora visitar, abraçar, beijar, afagar, apertar as mãos, enfim estar juntos e misturados.

Não serão as normas, as leis, decretos, não será a canetada de um magistrado, não será a vontade dos engravatados fiscais da lei em home office e não serão nem mesmo os apelos dos meios de comunicação a convencer nossa gente que, ficar em casa, é a melhor escolha, ainda mais quando erramos por teimar em utilizar um estrangeirismo que nem verbalizar nossa gente sabe quanto mais entender seu significado. Vôte!

E qual a consequência de tudo isso? Mortes e mais mortes nos hospitais públicos e privados e em casa; uma triste porém concreta realidade da qual não podemos mais fugir.

Sou muito emotivo seja diante da dor e do sofrimento próprio ou de alguém, seja por causa das justas alegrias, vitórias e conquistas que a vida nos permite com a graça de Deus. Até aqui perdi amigos de infância, perdi conselheiros religiosos, perdi colegas de trabalho, perdi parentes, perdi referências culturais enfim, perdi parte da alegria e das boas lembranças que essas pessoas próximas ou distantes proporcionavam. E quem não os/as perdeu?

Não é o começo e nem será o fim! Essa pandemia nos deixará órfãos de muita coisa e de muita gente num curto porém dilaceroso espaço de tempo que teremos todo um restante de vida pra recuperar e restaurar. Não será fácil!

Que Deus, conselheiro admirável, onipotente e onisciente, nos aponte e nos conduza por caminhos iluminados e retos, de modo a nos permitir encontrarmos as saídas por meio dos tratamentos e da prevenção para alcançarmos a cura para esse mal. Oremos!

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