Líbano ardente

Berço de minha ascendência materna (meu avô Cristo Derzy era libanês) carrego no sangue a origem dos cristãos novos que migraram e formaram comunidades sírias e libanesas pelo mundo afora e que entraram no Brasil parte pela Amazônia por meio do estado do Acre.
O Líbano mantém a maior comunidade cristã de todo o oriente médio com mais de quarenta por cento da população composta de católicos(gregos, ortodoxos, maronitas) e protestantes.

Com mais de três mil anos de existência e, inicialmente denominada de Fenícia pelos gregos, esse país era uma rota de farto e próspero comércio pelo vasto mar que a banha e por isso mesmo, ao longo da sua existência, experimentou e se notabilizou pela bela arquitetura, pela culinária, pela cultura e pela riqueza de um povo batalhador e empreendedor. Até 1943 esteve sob o domínio francês e, tem no idioma, uma das mais reconhecidas diversidades porquanto três são as línguas faladas pelo povo: o árabe, o francês e o inglês.

O Líbano, é daqueles países cujo destino incerto provocado pelas guerras com os vizinhos especialmente Israel, Síria, Egito e Iraque trás, na sua trajetória, a marca da destruição e da reconstrução dezenas de vezes porém, é por meio dos conflitos e dissensões políticas e religiosas internas que esta, outrora joia do mar Mediterrâneo, quedou-se há décadas numa sucessão de lamentáveis episódios de quase guerra civil tendo, no grupo religioso e armado Hezbollah, o protagonista de todas as intrigas políticas, lutas fratricidas, atritos com países fronteiriços, chamamento à guerra e, com isto, a autodestruição cultural, política, religiosa e física do país.

O atual estado de decadência política do Líbano tem como origem e epicentro o brutal atentado contra o primeiro-ministro Hafic Hariri um sunita bilionário que encarou a missão de reunificar e pacificar o país e foi morto juntamente com todo o grupo de assessores e guarda costas em 2005 quando um carro bomba foi detonado ao lado do comboio da sua comitiva. A partir de então, o Líbano entrou numa espiral de decadência política e econômica e, os graves conflitos internos entre as diversas facções armadas comandadas pelo Hezbollah, têm trazido inquietação especialmente ao mundo árabe e preocupações ao ocidente caso o país enverede por deixar-se dominar pelos radicais religiosos de tão triste memória e péssimos exemplos como em outros países daquela zona do planeta em permanente estado de conflagração.

Para completar essa sina, a capital libanesa Beirute, acaba de ser quase que totalmente devastada por uma explosão provocada por uma substância química armazenada há mais de seis anos no seu principal porto. Centenas de mortos e desaparecidos, mais de metade da principal cidade do país destruída, milhares de desabrigados, economia em frangalhos, comida e água escassas, energia e transportes públicos parados, sistema de saúde colapsado e infraestrutura comprometida, são o saldo dos horrores provocados por essa trágica ocorrência dificultando mais ainda a reconstrução do país e a retomada do crescimento por meio do aumento da confiança e dos investimentos que estavam prometidos por outras nações amigas.

Difícil de se prever qual ou quais as saídas mais visíveis para o Líbano porém, uma coisa é certa, essa mais recente tragédia haverá de confrontar as lideranças internas, o mundo árabe e os países ocidentais a se unirem e encontrarem os meios e as soluções mais urgentes e apropriadas as quais determinem a retorno o Líbano à prosperidade econômica e à paz política interna sem o que, esse país estará fadado a se tornar mais um Iraque ou uma Síria ou uma Líbia com todos os seus percalços e trajetória de autodestruição que já conhecemos.

Que o povo libanês ponha fim aos seus conflitos políticos e religiosos internos e reencontre o caminho da paz, da prosperidade e do crescimento e volte a ser uma nação que nasceu sob o signo da multirreligiosidade com respeito e harmonia.

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