JOSÉ DE ARIMATEIA, IGREJA E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

ismar

Em tempo de eleição o nome de José de Arimateia algumas vezes é lembrado por alguns candidatos e políticos cristãos evangélicos para convencer seus eleitores de que a Igreja necessita de representação política para a sua sobrevivência. Nada mais equivocado!

José de Arimateia era um discípulo de Jesus e membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal de Jerusalém para julgar questões do povo judeu de acordo com a Lei de Moisés, que era a Constituição dos judeus. Ele, José de Arimateia, não consentiu na decisão e no procedimento dos outros quanto à condenação de Jesus, sendo, porém, voto vencido. Após a morte de Jesus dirigiu-se a Pilatos e pediu o corpo de Jesus para sepultá-lo. Algumas pessoas chamam a esse Conselho Supremo de “Senado” e, José de Arimateia, senador. A idéia é que José de Arimateia era um crente na política.

O fato de José de Arimateia ter sido uma pessoa de influência na sociedade judaica e membro do mais importante Conselho de Jerusalém, o Sinédrio, e alguém com acesso ao governador Pilatos para intermediar o pedido do corpo de Jesus, para muitos candidatos religiosos, constitui uma indicação de que a Igreja, para ter êxito, precisa também se fazer representar politicamente em todas as esferas e em todos os poderes.

Entretanto, a Igreja/Corpo de Cristo, de acordo com o Evangelho, não surge a partir de intervenção humana, não procede de carne ou sangue, mas nasce da revelação de Deus no coração do homem, e que tem como resposta a confissão de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. E contra esta convicção no coração nem as portas do ISIS, com sua espada degolante, podem prevalecer contra essa Igreja, que não é formada de tijolo, de madeira, de CNPJ, mas de pessoas cujos corações não conseguem mais negar o senhorio de Cristo ainda que sob a ameaça da espada da morte. Só isto já seria o suficiente para demonstrar que a Igreja de Jesus, não a Instituição chamada “igreja”, não necessita de representação político-partidária, pois seu representante é Cristo. Cristo é o Cabeça (representante) da Igreja. A Igreja é dEle e Ele mesmo a edifica e a defende: “Eu edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Outra razão é que Jesus nunca precisou de uma bancada cristã dentro do Sinédrio para defendê-lo. No dia em que foi preso, Jesus disse a Pedro, que tentava defendê-lo com uma espada: Basta, Pedro! Você acha que eu não poderia pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição, não uma legião de Josés de Arimateias, nem uma legião de representantes no Sinédrio para me defender, mas legiões de anjos?

Mas, suponhamos que na época de Jesus, o Sinédrio possuísse uma bancada evangélica para representar Jesus – pois já sabemos que o voto do discípulo José de Arimateia (e talvez também o de Nicodemos), o qual votou contra a condenação de Jesus, foi voto vencido -, então eles teriam conseguido impedir que Jesus fosse condenado. Contudo, ainda assim, não teriam resolvido o problema. Pelo contrário, teriam arrumado um problema ainda maior, pois agora estariam lutando contra os desígnios do próprio Deus, que propunha na morte de Cristo a nossa redenção, sendo, portanto, Sua morte, necessária. Neste caso a bancada, sem conhecimento do eterno propósito de Deus estabelecido em Cristo e na Sua morte, estaria prestando um desserviço ao reino de Deus. Jesus lhes diria: “Eu vim para esta hora”. “Como então se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?”

Isto não significa que devemos viver alienados politicamente; que, numa sociedade democrática, não devamos participar da vida pública ou nos importar com aqueles que nos representam; não! É evidente que o bem da cidade é o bem de todos e, o mal da cidade é o mal de todos (incluindo os cristãos). A sociedade (incluindo os cristãos) precisa de bons representantes, de pessoas honestas e competentes que nos representem. Mas isto é para o bem da sociedade, incluindo os cristãos. Já a Igreja, Corpo de Cristo, nasce e se mantém unicamente pela fé em Jesus, e isto “com” ou “sem” perseguição, “com” ou “sem” representação política.

A instituição igreja pode vir a fechar as portas – e em alguns casos seria até bom que fechasse mesmo as portas para o bem do Evangelho, como clama o profeta Malaquias: “Ah, se um de vocês fechasse as portas do templo! Assim ao menos não acenderiam o fogo do meu altar inutilmente. Não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos Exércitos, e não aceitarei as suas ofertas” -, mas a Igreja/Corpo-de-Cristo jamais deixará de existir.

Ismar Sahdo é funcionário público federal e Professor de Geografia pela Seduc

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Este post tem 2 comentários

  1. Celso Corsino

    Mto bem Ismar, ao se envolver em disputas políticas, a instituição igreja da um tiro no pé, pois demonstram que perdeu a visão do reino. Abs

  2. Anônimo

    Belo texto Ismar igreja não precisa de político para sua sobrevivência!

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