Em 1976,  o médico Mariano Terrazas realizava, em Manaus, a primeira cirurgia cardíaca do Estado, no hospital Beneficente Portuguesa. As dificuldades eram imensas, pois não existis sequer Unidade de Terapia Intensiva na cidade. “O que tinha naquela época era o pronto socorro São Jose, lá na Santa Casa, que era onde trabalhavam os antigos cirurgiões da cidade, os mais famosos, como o João Lucio e Jorge Alcar. Eles faziam a medicina tradicional na cidade, faziam de tudo”, recorda o prifissional.

Terrazas diz que em 1976 foi implantando na Beneficente Portiguesa o serviço de cirurgia cardiovascular. Nos dois primeiros anos de funcionamento do serviço ocorreram as primeiras cirurgias na Beneficente. Em 1978 viajou para o Rio de Janeiro, pela Universidade Federal do Amazonas, para fazer mestrado e doutorado. Logo depois, em 1979, chegou a Manaus um colega, também ex-aluno da UFAM, Juan Villa, que começou a realizar cirurgias cardíacas na Santa Casa de Misericórdia.

“Naquela época ninguém sabia o que era a cirurgia cardíaca. Só tinha eu, o único da região que sabia fazer o procedimento. Minha equipe era de cirurgia geral, não havia quem ajudasse. Quando fui fazer a primeira, eu liguei para meu grupo em São Paulo e disse que precisava de um deles para me ajudar, aí veio um colega que participou dessa cirurgia pioneira. As cirurgias vasculares eu fazia com os cirurgiões gerais, mas as cardíacas eu sempre fazia com um colega que vinha de São Paulo. Como não tinha UTI, eu solicitei uma salinha e a gente improvisou a primeira UTI do Amazonas”, relembra Terrazas.

Homenagem

O médico foi homenageado na Câmara Municipal de Manaus na última sexta-feira, 20, por iniciativa do vereador Fred Mota (PR).  “É uma justa homenagem que estamos prestando , por sua inestimável contribuição ao desenvolvimento da cardiologia, não apenas no cenário local, mas também nacional, com uma trajetória que incluiu feitos pioneiros na Medicina”, explica o parlamentar.

Terrazas chegou a Manaus em dezembro de 1975, a convite dos médicos Édson Sarkis e João Lúcio, para implantar a especialidade em Manaus.

Nascido em Epitaciolância, distrito de Xapuri, Acre, fez seus estudos na Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, onde iniciou seu aprendizado em Cirurgia Cadíaca com o professor João Hugo Felipozzi, o primeiro a fazer uma cirurgia  cardíaca no Brasil. Após a conclusão, fez sua especialização  no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e no Hospital da Beneficente Portuguesa, também naquele Estado.

Em Manaus, em 1976, o homenageado começou a atender no Hospital da Santa Casa e na Clínica Cirúrgica do Amazonas, tendo iniciado as primeiras cirurgias vasculares de alta complexidade para tratamento dos aneurismas da aorta e das obstruções arteriais. A convite do médico João Lúcio, passou a integrar o corpo docente da faculdade de Medicina, onde começou a lecionar Cirurgia Cardiovascular. Convidado pelo Comendador José Cruz, em 1977, criou o Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital da Beneficente Portuguesa de Manaus, onde deu início ao implante de marcapassos cardíacos, as cirurgias de cardiopatias congênitas para correção de Persistência do Canal Arterial e de Coarctação da Aorta.

Com a colaboração dos cirurgiões José Carlos de Andrade, Ênio Buffolo, Pedro Aurélio, Salvador Gonçalves e do perfusionista Antônio Lucas, que vinha de um treinamento com o professor Zerbini, deu início às primeiras cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea, realizando cirurgias para correção de CIA (comunicação interatrial) , cirurgia de trocas de válvulas mitral e aórtica e revascularização do miocárdio (pontes de safena).

Fazia o Procedimento numa sala de recuperação pós-operatória instalada no Centro  Cirúrgico, com a ajuda do perfusionista Antônio Lucas. Instalaram a primeira UTI na Beneficente Portuguesa e um Pronto-Socorro Cardiológico. Em 1978, foi fazer o Mestrado e Doutorado em Cirurgia Cardíaca na Faculdade de Medicina da UFRJ. E

Em 1984, credenciou o Serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital Getúlio Vargas pelo SUS e, como Diretor Clínico, criou as Residências Médicas em Cirurgia Vascular, Cardíaca e Cardiologia para a formação de novos especialistas. Contou com a colaboração e parceria de cirurgiões como Álvaro Soeiro, Fausto Vieira, Marcelo Nunes de Souza, Luis Alberto, Fausto de Pina, George Butel.

Em 2004, convidado pelo reitor da Uiversidade Federal do Amazonas, transferiu o Serviço de Cirurgia Cardíaca para o Hospital Universitário Francisca Mendes, que se transformou no centro de referência em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular, onde já foram operados mais de 5.000 pacientes e titulados mais de seis especialistas na área.

Hoje Manaus é um importante polo da especialidade das regiões Norte-Nordeste, contando com 14 cirurgiões especializados em cirurgia cardiovascular.

Mariano Terrazas é atualmente Presidente da Sociedade Norte-Nordeste de Cirurgia Cardiovascular e professor titular da Ufam, onde exerce a função de Diretor de Cirurgia Cardiovascular no Hospital Universitário Francisca Mendes.