O dia 15 de março ficará marcado na história e na memória do povo de Parintins. A data marca o falecimento de um de seus mais ilustres mestres da arte e da cultura parintinense, o artista Jair Mendes. Conhecido por sua inventividade artística, Jair Mendes tornou-se uma lenda e, agora, integra a constelação azulada de estrelas que brilharam e sempre irão brilhar no Festival de Parintins.
Na manhã deste domingo, 16, o corpo do mestre de tantos artistas da ilha chegou à Parintins. Antes de repousar em sua sepultura, Jair Mendes teve o devido reconhecimento e homenagens pela cidade, uma solenidade digna de sua arte, talento e importância para a cultura parintinense, amazonense e brasileira. Os bois bumbás Garantido e Caprochoso promoveram homenagens emocionantes no domingo ao artista Jair Mendes, o mais importante do Festival de Parintins, falecido em Manaus no sábado (15), aos 82 anos.
Os tambores da Batucada silenciam em respeito à despedida de Mestre Jair Mendes, artista visionário que revolucionou e reinventou a forma de fazer e brincar o boi em Parintins. Jair faleceu no último sábado (15), em Manaus. O Boi-Bumbá Garantido prestou sua última homenagem neste domingo (16), na Cidade Garantido, em Parintins.
Artista renomado, mas, acima de tudo, um verdadeiro mago, Jair foi especialista em criar ilusões que transformaram o Festival de Parintins. Responsável por introduzir as grandiosas alegorias no espetáculo do Boi Garantido nos anos 1970 e 1980, trazendo influências do Carnaval do Rio de Janeiro, o que começou com invenções singelas evoluiu para imponentes alegorias e efeitos especiais, tornando-se a matéria-prima fundamental para o sucesso do Festival, hoje um dos maiores eventos folclóricos do mundo.
Em 1993, Jair Mendes assumiu a presidência do Boi Garantido e, sob sua liderança, o Boi do Povão conquistou o título com o tema “Rio Amazonas: Esse rio é minha vida”, marcado também pelo do lançamento da icônica toada “Tic tic tac”, de Braulino Lima.
O corpo de Jair Mendes chegou a Parintins na manhã de domingo. O presidente do Bumbá, Fred Góes, e a nação vermelha e branca estiveram presentes no Aeroporto Júlio Belém para recebê-lo. Após a recepção, o corpo seguiu em cortejo pela cidade até a Cidade Garantido.
Fred Góes prestou sua homenagem e destacou a importância de Jair Mendes para o Festival e para a cultura popular.
“Me dirijo especialmente à família Mendes. Somos eternamente gratos por tudo o que Jair Mendes nos deixou. Ele foi o criador da projeção artística de brincar o Boi-Bumbá. Em uma época em que não se falava em tecnologia, Jair ousou e revolucionou nossa festa. A criação é a dádiva do artista, e ele usou essa dádiva até o último momento de sua vida. Não apenas ao Boi Garantido, mas à grandiosidade do Festival de Parintins como um todo, se deve a ele. Um grande artista, um grande companheiro”, declarou o presidente.
Mestre dos Saberes e Fazeres Culturais
Em 2024, Jair Mendes foi reconhecido pelo Governo do Amazonas como mestre dos saberes e fazeres culturais pelas suas contribuições para as artes do estado. Seu trabalho criativo e dedicação o tornaram também conhecido em Parintins como “o Pai do Folclore”.
Criador da expressão “Oitava Maravilha”, como é conhecido o Boi do Povão, Jair Mendes também foi responsável por um dos símbolos mais icônicos do Boi Garantido: a pintura vermelha no coração da testa do boi, a pedido de Dona Maria Ângela Faria, madrinha do Garantido. Além disso, por anos, Jair Mendes desempenhou o papel de “tripa” do boi. Ele era responsável pela confecção do Garantido, tarefa que realizava com grande dedicação e carinho. Orgulhava-se de mostrar a armação do boi como se fosse uma imagem sagrada, algo que ele pessoalmente cuidava com todo o amor. Sua inventividade marcou a história do Festival com o famoso “Boi Biônico”, de 1978. Foi ele quem trouxe os primeiros movimentos realistas ao bumbá: mexendo as orelhas, piscando, urrando e emocionando a todos os presentes, mudando para sempre a forma como o boi era apresentado.
Caprichoso

“Qualquer homenagem vai ser muito pequena pela importância que o Seu Jair é para todos nós. Parintins foi criada sob a mão do Seu Jair. A arte fez com que o nome Parintins rompesse fronteiras e chegasse onde nós nunca imaginaríamos que fosse chegar, graças à visão de um homem chamado Jair Mendes”, reconheceu o presidente do Caprichoso, Rossy Amoedo.
A nação azulada recebeu o mestre no Aeroporto Júlio Belém e o seguiu pelas ruas de Parintins, um último adeus ao artista azulado que criou maravilhas artísticas, encantando o mundo e elevando a Terra dos Artistas.
O Galpão da Arte Mestre Jair Mendes
O cortejo no reduto azulado chegou até o Galpão da Arte do Boi Caprichoso Mestre Jair Mendes, uma homenagem do bumbá feita ainda em vida ao artista que realizou um sonho no Caprichoso: trabalhar no mesmo galpão com os filhos Teco Mendes, Jairzinho Mendes e Jean Mendes.
“O trabalho no Caprichoso foi uma coisa inesperada e emocionante. Foi muito bom o trabalho entre os nossos irmãos com o nosso pai. Foi muito emocionante, vai ficar guardado para sempre em nossas vidas e, assim, eu fico grato pelo Caprichoso”, disse emocionado Jean Mendes.
Os artistas, filhos de Jair pela arte, os receberam com as homenagens e emoções devidas a um grande mestre. “Ele adotava todos os artistas de Parintins como filho. Ele se tornou mestre, porque ele cuidou de cada parintinense com a sua arte, com a sua maneira de amar a cultura. Hoje se despede com uma saudação muito grande dos artistas. Esse reconhecimento à ele que deixou para cada um de nós a missão de cuidar e levar a arte parintinense para o mundo”, disse o artista do Caprichoso, Paulo Pimentel.
No curral, um canto de despedida
Com tambores em tom de despedida, o curral Zeca Xibelão também recebeu o corpo do mestre. Lágrimas, choro e homenagens se misturaram num momento de celebração a um homem que pinta de azul sua história na vida do povo de Parintins.
“Hoje nós estamos nos despedindo do maior nome em termos de arte na história do festival. Mestre Jair Mendes, para a gente, deixa um legado imensurável. Cada artista carrega na sua pintura, na sua escultura, principalmente, na simplicidade de fazer o boi, mas com efeitos fantásticos e que criam uma catarse coletiva no coração de todos aqueles que se apaixonaram pelo Festival de Parintins, a partir dessa magia que é a arte do artista parintinense”, destacou o presidente do Conselho de Arte do Caprichoso, Ericky Nakanome.
Presente no curral Zeca Xibelão para as homenagens, o prefeito de Parintins é sócio do Boi Caprichoso, Mateus Assayag, também levou uma mensagem de condolência à família e respeito ao legado de Jair. Ele reconheceu a grande importância do artista para o município e adiantou que vai solicitar que o Bumbódromo tenha o nome de Jair Mendes. “Jair Mendes é importante não apenas pro nosso festival, mas pra nossa cidade. Hoje, nós estamos aqui prestando essa última homenagem, mas, na certeza de que o nome Jair Mendes vai ficar eternizado na nossa cidade”, revela.
Velório e sepultamento
O corpo de Jair Mendes seguiu para funerária Bentes para ser velado pela família, amigos e admiradores. O sepultamento aconteceu às 17h no Cemitério São José. Jair Mendes faleceu aos 82 anos, no sábado (15), às 12h30, no Hospital Delfina Aziz, em Manaus. O mestre sofria de broncopneumonia crônica e teve agravamento de saúde nestes últimos dias. Seu legado o eterniza como um dos maiores artistas de Parintins, sendo responsável pela revelação de novos talentos artísticos da cidade.
Fotos: Michel Amazonas/ Pitter Freitas e Sérgio Cole
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