Flor do Lácio

Por Dauro Braga*

Vejo com extrema preocupação e tristeza o desmanche ao qual as gerações atuais submetem a vetusta e bela língua portuguesa que foi chamada pelo poeta Olavo Bilac de “última flor do Lácio”. Sei e entendo que a linguagem é algo vivo e que se transforma geração à geração, mas o que vejo agora é a adoção intensa e indiscriminada de anglicismos e a redução da comunicação escrita a símbolos ou a palavras truncadas. Fala-se errado no Brasil e se escreve pior ainda.

Em nome da rapidez, palavras são vilipendiadas e abreviaturas apócrifas são utilizadas, principalmente em comunicados feitos via internet. Como se não bastasse essas investidas de desmonte, é crescente a utilização de palavras do forte e másculo idioma anglo-saxão que não teme nem os rigores da Lei Maria da Penha e agride de forma covarde e mortal a maltratada língua portuguesa. Tudo isso se agrava com a adoção de neologismos chulos proferidos por uma geração que pouco lê porque tem pressa de ir a lugar nenhum.

Falta leitura e sobra preguiça nessa geração atual. Compreender o pouco que consegue ler é outro assunto complexo. Chega a ser cômico se não fosse trágico, vermos nos programas de auditório exibidos pela TV, principalmente no do Silvio Santos que tem um quadro onde há participação popular, o nível da ignorância de nossos patrícios. Certa vez foi perguntado aos componentes de uma família se D. Pedro havia sido deputado, prefeito, governador ou imperador, e foi visível o desconhecimento de um fato tão elementar da história do Brasil. Um deles disse: “acho mas não tenho certeza de que foi imperador” e o apresentador diante da indecisão se apressou logo em dizer: “você disse imperador? Você acertou!” Tudo feito rapidamente pelo receio de que dali saísse alguma besteira.

Constatar esse nível de ignorância é muito triste. O brasileiro comum e urbano pode não saber quem foi Juscelino Kubitschek, mas conhece toda a história da Madona, onde nasceu, como começou sua carreira, inclusive, o nome de seus ex-maridos. Eita cultura inútil!

Uma outra investida danosa aos nossos valores culturais é o que nos obrigam a ouvir com o nome de música. Muita coisa ruim vêm ocupando lugar de destaque nas paradas de sucesso e não bastasse o lixo produzido aqui mesmo a mídia prefere transmitir, e o nosso próprio povo prefere escutar o lixo musical produzido em outras nações. Nada contra a música estrangeira, desde que seja de qualidade, mas é inadmissível que num evento público, numa programação televisiva ou radiofônica nacional, das dez músicas executadas mais da metade sejam internacionais. Uma Vergonha!

Tenho evitado participar de aniversários ou outras festividades comemorativas em locais onde não tenho total ambiência para não passar pela tortura de ouvir a noite inteira música estrangeira da pior qualidade, em volume tão ensurdecedor que impede qualquer conversa. Nessas ocasiões em que sou obrigado a comparecer por absoluta questão de delicadeza e educação , sinto inicialmente uma vontade louca de desaparecer, enquanto maldigo intimamente a pessoa que me fez o convite para ali estar. Após esses primeiros minutos de indignação e arrependimento por ter aceito o maldito convite, sinto a sensação de que não me encontro no Brasil e fico a observar com pena e dó alguns velhotes que na ânsia de se reafirmarem como jovens e modernos, não hesitam em ensaiar passos desengonçados, mesmo sabendo que o seu destino no dia seguinte poderá ser a cama de um hospital.

Quando se consegue ouvir algum diálogo entre os jovens, o que é quase impossível pois normalmente estão muito ocupados com seus celulares ou se contorcendo em movimentos eróticos motivados pela barulheira infernal, aí me deparo com o problema do idioma falado, pois utilizam um linguajar que nada tem a ver com o idioma português. É nesse instante que pressinto a morte prematura da língua mater, e tenho a sensação estranha de me encontrar em outro país.

*O autor é empresário (daurofbraga@hotmail.com)