Faltam outros sínodos

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Como cristão católico de raiz, de formação, praticante e de carteirinha, aprendi que, como fundamento bíblico, o Papa é sim sucessor de São Pedro e portanto, aquele que assumir a Cátedra de Roma estará ali por obra e graça de Deus e intervenção direta do Espírito Santo.
Mas, calma lá, que discordar de posições, discursos e posturas do Santo Pontífice especialmente aqueles de viés ideológico e político, também fazem parte do meu humilde e circunscrito universo de conhecimento humano e das minhas convicções políticas até porque quem faz voto de obediência, pobreza e castidade é o clero e não eu.

A pergunta que teima em não calar e que ressoa em todo o planeta hoje é: Porque cargas d’água o Papa Francisco convoca um Sínodo para discutir a Amazônia?

Primeiramente e obrigatoriamente, precisamos entender o que é, de que trata e porque o Papa convoca um Sínodo?

Sínodo é uma assembleia eclesiástica de bispos, cardeais e leigos sob chamado exclusivamente do Papa, para tratar de tema específico e, ao final, ser emitido um documento ou relatório conclusivo a fim de ser tomado como diretriz sobre aquele assunto específico, diferentemente de um Concílio, cujas decisões são mais ou menos como nas supremas cortes judiciais, ou seja, têm repercussão geral ou efeito vinculante a ser seguido por todas as instâncias inferiores.

Francisco era um sacerdote, bispo e cardeal totalmente envolvido com assuntos de natureza política e social da periferia de Buenos Aires e foi ali que se forjou como agente de transformação pela causa dos mais pobres, participou ativamente de embates políticos contra os governos militares  argentinos e obviamente se envolveu com questões ideológicas da esquerda das quais nunca se afastou por completo. Foi eleito num conclave dos mais concorridos sendo eleito somente após três eleições internas num embate entre o clero conservador e aquele mais apegado às questões políticas mais à esquerda.

Francisco tem lutado muito contra determinados líderes do cardinalato americano e europeu principalmente aqueles envolvidos com pedofilia, desvios do banco do Vaticano e outros mais atrelados a governos de direita.

Não à toa o Papa adotou o nome do Santo da pobreza e o fato é que ele tem sim uma formação e uma longa caminhada ligada às ideologias socialistas e até comunistas que não o permitem questionar ou enxergar os desvios comportamentais de governos e governantes especialmente na América Latina, Caribe, África e algumas situações circunscritas na Ásia.

Quando a Igreja resolve gastar uma grana preta, deslocar padres, bispos, cardeais e leigos incluindo membros de outras religiões e até mesmo sem religião alguma para discutir a Amazônia, isso ressoa em mim de que existe algo estranho no Reino a Dinamarca.

Logo agora que um governo conservador de direita assume no Brasil? Logo agora que na Amazônia ocorreram alguns episódios mais que naturais de incêndios em áreas indígenas e para ampliação de fronteira agrícola? Exato no momento em que o país quer sair do imobilismo econômico e explorar minas, garimpos e outras riquezas na região? Somente agora em que o nosso país enfrentra uma crise política e social resultado de anos de corrupção onde a própria igreja local e de Roma nunca deram um palpite?

Sinceramente que não vejo com bons olhos que o Papa proponha um Sínodo apenas para a Amazônia. E sobre as ditaduras de esquerda em Cuba e na Venezuela?E os governos da Bolívia, da Nicarágua de Honduras? onde a perseguição política, a fome, a corrupção, o cerco aos outros poderes, o fechamento de órgãos da imprensa, a fuga em massa de cidadãos em busca de abrigo nesses países? teve Sínodo pra discutir isso?

E a fome e o genocídio na África? A perseguição a minorias na Ásia? As guerras intermináveis no Oriente Médio e o mais dramático êxodo de humanos para países da Europa que os rejeitam? Mereceram um Sínodo?

A mais sentida reação de Sua Santidade acerca desses terríveis episódios foi apenas uma visita ou um manifesto por meio do porta voz do Vaticano ou envio de uma carta aos governos.

Não que a Amazônia não mereça um Sínodo pra chamar de seu. Longe de mim querer esse plus. Mas bem que o Pastor Supremo dos católicos poderia melhor equilibrar as coisas né? e propor igualmente outos tantos sínodos porque aí a gente passaria a perceber que o nosso Pastor efetivamente tá ligado à causa dos pobres, oprimidos, das minorias e dos expatriados.

Viva Santa Dulce dos Pobres! Viva São Francisco de Assis! Viva a Igreja Católica!

Té logo!

*O autor é farmacêutico bioquímico e diretor-presidente da Fundação Hospital Alfredo da Matta