Constituição ou prostituição

E eu que pensava que o tema impiechment haveria de se esgotar quando da derradeira votação no Senado Federal no último dia 31 de agosto, quedei-me com a cara de abestalhado diante de mais uma aberração cometida contra a nossa já combalida e estuprada Constituição da República.

O que assitimos pela TV direto do plenário da Câmara Alta do país com a concordância da maioria dos senadores e sob o beneplácito do Presidente da Suprema Corte e árbitro do julgamento, Ministro Ricardo Lewandovski, foi de fazer revirar no túmulo Rui Barbosa e corar de vergonha até o personagem de Eça de Queirós, o Conselheiro Acácio.

Tamanha agressão à nossa Carta Magna perpetrada por dois dos três poderes constituidos reunidos no Senado da República (sim ali estavam representados o poder politico do Senado e o poder judiciário por meio do seu máximo representante), nao encontra precedentes em toda a existência de normas, regras e leis desde que nosso país assim existe como nação organizada juridicamente.

Confesso porém, que minha indgnação já nem é tão grande como há três décadas atrás quando em pleno furor da minha juventude brandia  palavras de ordem e inquietáva-me contra a ditadura militar, justamente porque presentemente, já não mais aguardo grandeza, altivez e lealdade da classe política para com a ordem juridica brasileira, principalmente eles que pensaram, criaram e aprovaram as regras estabelecidas na Constiuição Federal e todas as suas emendas e remendos.

O espetáculo grotesco que culminou com o fatiamento do julgamento da ex presidente, nao foi obra do acaso, nem fruto da imaginação isolada de algum parlamentar tampouco exercício jurídico da mente fecunda de poucos. Não! Absolutamente não! A apresentação do requerimento assinado pelo PT contendo o pedido de destaque para que se procedese a duas e não a apenas uma votação como nítido e claramente insculpido no texto constitucional, foi fruto de uma trama engendrada dias antes nos porões do Senado e em jantares e convescotes comandados pelo Presidente do Senado, com a concordância de membros do partido da ex Presidente e do PMDB e sob os aupícios do Presidente do STF, comandante do julgamento inclusive com o conhecimemento de Temer.

Ocorre, que como todo esquema de jogo acordado e treinado apenas com o prórpio time por mais genial que seja, não terá exito se não combinado com o adversário. Faltava trazer para a trama o PSDB e outros partidos de menos importância. E foi aí que a porca torceu o rabo! O PSDB, lógico, vociferou contra o requerimento levantando questão de ordem e até o ex presidente Collor, evocando analogia e isonomia com seu julgamento, soltou os cachorros contra a manobra.

Depois de quase duas horas de discussão pela ordem e questão de ordem, as pérolas cafiquianas couberam ao preparado e sabido Presidente do STF(a escola renancista começou a produzir filhotes) o qual, primeiro, numa decisão monocrática, ou seja, sem submeter o requerimento à decisão do plenário como seria mais democrático, decidiu por acolher o pedido de fatiamento; segundo, induziu a votação ao propor no enunciado que quem deveria obter os 2/3 (54 votos) para tornar a ex presidente já cassada, também inabilitada, seriam os senadores que eram a favor da tese da inabilitação e não os que propuseram o fatiamento, ou seja, não era a ex presidente que tinha que obter a maioria dos votos para se salvar. Uma rotunda aberração regimental  e jurídica, no meu pobre entender!Uma verdadeira jabuticaba jurídica! Nada mais bizarro, bizonho e extravagante! Mesmo não sendo eu um operador do direito, aprendi com bons jurisconsultos que não há direito a ser pretendido se for contra a constituição. Simples assim.

Uma pergunta que não quer calar: E se a ex presidente tivesse sido inocentada no quesito da perda do cargo será que poder-se-ia no exame do destaque votar pela sua inabilitação? Ora, o que pode o menos pode o mais.

Outro momento deplorável sob todos os aspectos dessa visível armação, foi quando Sua Excelência o Ministro Presidente numa clara dobradinha, passou a última palavra antes da votação do destaque, para o Presidente do Senado e este, brandindo sem moral alguma um exemplar da Constituição, resolve dar no jargão parlamentar, um encaminhamento de votação que, naquela altura conseguiu “convencer” alguns  senadores mais subalternos a votarem a favor do destaque.

Só resta então aos partidos políticos, às entidades sindicais e à OAB entre outros organismos inconformados com mais essa patuscada juridicopolitica, recorrerem ao Supremo Tribunal Federal e aí, aguardarem que os nobilíssimos ministros daquela corte tenham não somente a coragem de recepcionar a ação mas, submetê-la ao plenário e, fundamentalmente, fazer valer os ditames da constituição afinal, é para isso unicamente que a Suprema Corte existe e tem sentido de continuar a existir.

Não há nada de mal em pensar que essa turma que votou a favor do impiechment pode ter provocado todo esse esquema para ficar bem com a ex presidente e seu partido, antevendo que tudo iria desaguar no STF que terá que descascar esse abacaxi sem escorregar numa casca de banana.

Té logo!

  1. Que me perdoem as prostitutas pela indelicadeza da comparação.

Ronaldo Derzi Amazonas é farmacêutico, foi diretor da Fundação Alfredo da Matta e escreve às segunda neste espaço.

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