Como não sentir saudades?

Por Dauro Braga*

Durante os anos de chumbo como assim é chamado o período ditatorial por àqueles que não concordavam viver sob a égide da ordem e da obediência às leis vigentes, percebia-se claramente que havia total respeito às instituições públicas e a ordem era mantida a qualquer preço, tanto que o povo podia caminhar pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite sem receio de ser atacado por marginais porque a polícia daquela época tratava bandido da mesma forma como ele tratava suas vítimas. A palavra de ordem era tolerância zero. Os organismos responsáveis pela manutenção da ordem e da segurança pública mantinham uma postura rígida e inflexível no cumprimento do dever, por isso, não era comum se ver bens patrimoniais, particulares ou públicos serem destruídos, propriedades invadidas, pessoas assassinadas friamente e todos os demais atos de selvageria tão corriqueiros nos dias de hoje. Por conta dessa ação enérgica e intransigente das forças de segurança os prédios residenciais não necessitavam de grades de ferro para proteger seus ocupantes, pois eram realmente residências, e não prisões. A presença do governo atuando com sua mão de ferro era sentida em todos os locais aonde íamos. A manutenção da ordem, o respeito à autoridade e a disciplina, eram preceitos de valor inegociável.

O regime ditatorial não permitia qualquer manifestação popular que pudesse abalar a ordem pública ou que fizesse alusões desairosas às autoridades constituídas. A interdição de ruas ou de outros logradouros públicos para fins de manifestações populares era terminantemente proibida, porque o direito de ir e vir da população sobrepujava os demais. Ontem, como hoje, a maioria expressiva da população não concorda com os movimentos paredistas, que sob qualquer pretexto, interditam locais públicos, infernizando a vida dos que querem trabalhar. Aqueles que por razões ideológicas eram contrários ao regime dominante chamavam essas proibições de cerceamento da liberdade. Tenho o entendimento de que a liberdade é um tesouro de inestimável valor que deve ser guardado no cofre blindado da ordem e da disciplina, e esse, mantido sob eterna vigilância.

É muito mais lindo e poético ouvir um sabiá cantando em liberdade no alto da carnaubeira do meu sertão nordestino, do que um uirapuru cantando numa gaiola de ouro pendurada na varanda da casa grande. O primeiro canta louvando a liberdade e o outro lamentando a sua perda.

O regime ditatorial assentava sua viga mestra sobre os pilares robustos e inflexíveis da ordem e da disciplina sendo as mesmas mantidas a qualquer custo, porque acreditava que só assim haveria progresso. Embora a liberdade fosse relativa ela era real e visível, os primos preceitos democráticos da ordem e progresso eram absolutos. Hoje, esses ditames são encontrados apenas como referencial na bandeira brasileira.

Justiça se faça! Os milicos até para cometerem uma ilegalidade, procuravam antes um remédio jurídico que legitimasse seu ato. Assim surgiram os Atos Institucionais.

Que liberdade é essa que não nos assegura os preceitos constitucionais do: Direito adquirido; Do Direito a propriedade; Do Direito de ir e vir sem ser importunado, e tantos outros mais? A Constituição brasileira que deveria ser respeitada e cumprida, principalmente por aqueles que juraram solenemente fazer, vem sendo descumprida pelo seu guardião mor que é o STF. Em nome de interesses menores rasgaram a carta magna. Vivemos num verdadeiro caos jurídico em que o STF tem legislado, usurpando os poderes do legislativo que cala e consente porque é lerdo, omisso e um expressivo número de seus membros tem o rabo preso com o judiciário. Decisões são tomadas, sentenças não são cumpridas tudo é feito ao arrepio da Lei. Esse desordenamento jurídico que propicia a vitória do poder sobre o dever, projeta a imagem de um país que não é democrático e muito menos sério, não merecendo, portanto, a confiança do investidor.

Apesar de todo esse imbróglio em que meteram a nação, ainda tem gente que concorda e aplaude essa baderna, afirmando que isso é possível, porque temos Democracia em excesso. Eta Democracia paidégua! Foi no tempo da Ditadura quando não existia essa falsa liberdade de hoje, que eu vi o professor reinar absoluto em sala de aula exercendo plenamente o duplo papel a que tem direito, o de transmissor do conhecimento e o de fiscal intransigente da ordem e da disciplina. Sua palavra era a Lei.

Muitos acusam os militares de terem roubado a nação, más não apontam um sequer que tenha morrido rico. Teve presidente militar que ao morrer fizeram até cota para enterrá-lo. Não sou milico e nem tenho procuração para defendê-los. Sou apenas um defensor intransigente da verdade e que tem alergia à hipocrisia. Eles como seus opositores cometeram exageros não há como negar. Só que, em sua maioria absoluta os milicos o fizeram em defesa da Democracia que se achava seriamente ameaçada pelos vermelhos,
cujo objetivo primordial era instalar no Brasil uma republiqueta comunista. Quem tem mais de sessenta sabe disso.

Nos dias atuais, quando são roubados criminosamente montanhas e montanhas de recursos públicos, mata-se de fome, ignorância, falta de segurança, saúde e outros tantos males, milhões de brasileiros a mais do que aqueles que foram mortos pela Ditadura. É contra tudo isso que o novo governo trata esses assuntos, mesmo tendo que enfrentar forças poderosas que perderam as tetas da nação por onde sugavam os preciosos recursos. No período ditatorial, o maior por fora que se conhecia era o do garçom, dez por cento. A propina existia, mas era rara, e falava-se em três por cento. Depois que a propina passou a ser chamada de
“pixolé”, esse percentual ultrapassou em muito o do garçom, e já faz parte da rotina da nação.

Apesar de estarmos em uma crise moral, econômica e financeira sem precedentes, onde o desemprego, as falências, a desordem, a miséria e outros incontáveis males devem afetar a nação devido ao monumental assalto que fizeram aos cofres públicos, ainda tem pessoas que defendem os responsáveis por esses crimes. Alguns mais fanáticos chegam até a dizer que eles são os grandes injustiçados e os únicos capazes de soerguerem a nação. De uma coisa o povo não pode se queixar. Há liberdade em abundância. Ela é total e irrestrita. Estamos empanturrados de liberdade e de direitos até o pescoço. Há tantos direitos propiciados por essa liberdade fajuta, que hoje matam e roubam e não há punição, desde que o delinquente possa pagar bons advogados para defende-lo Você dúvida? Já viram alguém dos direitos humanos em velório de vítima? Tens algum conhecimento sobre bolsa mortuária? Deixemos de cultuar a hipocrisia! A verdade é que, inverteram os valores e a situação se tornou insustentável. Tomaram nossas armas e as entregaram aos bandidos e com isso nos tornaram reféns dos mesmos. Invadiram nossos lares com programas televisivos que fazem apologia ao crime, à traição, ao homossexualismo, as drogas e a tantas outras coisas que contrariam os princípios morais e cristãos, tudo isso visto e testemunhado pelas crianças.

Não esqueçam que televisão é concessão pública e, portanto, sujeita a normas de conduta. Proibiram-nos de criticar determinados comportamentos amorais. Colocaram uma mordaça em nossas bocas, quando conseguiram no grito, aprovarem leis que punem com processo criminal e prisão sem direito a fiança, todo aquele que se manifestar contrário à essas aberrações, pois será considerado preconceituoso. Caçaram nosso direito a indignação e ainda pretendem nos obrigar a ver esse quadro dantesco que retrata tão bem o apocalipse da vergonha, como sendo a doce e terna Mona Lisa retratada com perfeição por Leonardo da Vinci. Tudo isso, nos leva a fazer a seguinte reflexão. Como não sentir saudades dos tempos de ferro?

*O autor é empresário aposentado (daurofbraga@hotmail.com)

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