Até dinheiro relacionado a boca de fumo aparece em inquérito da PF que mostra bastidores da reeleição de Melo. Veja gravações e documentos

melo e frota

Num extenso relatório de 111 páginas, assinado pelo delegado Franco Perazonni, que coordena o combate ao crime organizado na Superintendência local da Polícia Federal, está detalhado, com o auxílio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, um poderoso esquema montado na Polícia Militar, com a participação decisiva do atual comandante, Marcus Frota, para garantir a reeleição do governador José Melo, que só não foi indiciado ainda por possuir foro privilegiado. O mandatário da PM, aliás, é autor da frase mais impactante contida na investigação, quando diz ao coronel Raimundo Roosevelt da Encarnação, em telefonema: “o (incompreenssível) dono da boca de fumo e eu que tô com a bolsa do governador de dinheiro”.

O inquérito, decorrente da operação denominada “Quintessência” (é uma alusão à Aristóteles, que considerava que o universo era composto de quatro elementos principais – terra, água, ar e fogo-, mais um quinto elemento, uma substância etérea que permeava tudo e impedia os corpos celestes de caírem sobre a Terra) e o consequente processo na Justiça Eleitoral que se seguiu à sua conclusão, só vieram à tona agora porque a defesa do governador conseguiu carimbar nele o segredo de Justiça, só quebrado na semana passada por decisão do desembargador João Mauro Bessa.

A investigação mostra uma intensa movimentação de uma quadrilha, formada pelos coronéis Marcus Frota, Raimundo Roosevelt Encarnação, Ewerton da Souza Cruz, Marcos Brandão da Cunha e Berilo Bernardino de Oliveira,  com apoio decisivo do ex-secretário de Saúde do Estado, Tancredo da Costa Soares, do empresário Francisco Sampaio Neves, o “Chaguinha” e do então secretário de Segurança, Paulo Roberto Vital.

Roosevelt, à época secretário executivo de Segurança e comandante do Ronda nos Bairros, é considerado pela PF o cabeça da organização. Ele é acusado de usar a estrutura da PM para coagir eleitores, colocar subordinados a serviço de terceiros com fins eleitorais, ameaçar membros da corporação para que trabalhassem pelo candidato José Melo, entre outros crimes. Ele aparece em vários diálogos comandando a operação.

Frota, que à época era comandante do Policiamento do Interior, foi flagrado em várias conversas, destruindo material do candidato Eduardo Braga, determinando a detenção de aliados deste e até interceptando eleitores que se encaminhavam para o local de votação. Ele também é acusado de haver colocado policiais a serviço de empresários, para fazer a escolta de valores altos, sacados do Banco do Brasil e do Bradesco. E aparece no diálogo com Roosevelt em que se diz exultante por estar com uma “sacola do governador de dinheiro”, relacionando a quantia com uma boca de fumo e soltando a expressão “ohhh meu sonho de verão”.

O coronel Ewerton pronunciou a seguinte frase em telefonema: “Diz ao Alan que eu aqui eu apreendi 70 mil que era do Dudu (o candidato Eduardo Braga). Tava doido para colocar no bolso, mas não deu”. A PF o acusa de manejar policiais para reverter a votação em municípios onde o governador José Melo foi derrotado no primeiro turno. No relatório há um diálogo dele com um certo Pedrinho, de Tabatinga, em que os dois comemoram o resultado da votação e fica claro que o oficial, pessoalmente, comandou o esquema no município, no segundo turno.

Berilo é quem aparece nos diálogos mais explícitos do inquérito, colocando viaturas para transportar dinheiro sacado da agênca do Bradesco na Compensa, para fins eleitorais. Ele também atuou fortemente em Manacapuru. Em diálogo com o vereador Anderson José Rasori, o “Paraná” (PRP), os dois discutem o pagamento por serviços executados na eleição. O oficial também deixa evidente a influência do empresário “Chaguinha” no governo, ao pedir a este que interceda por sua promoção junto ao governador José Melo. Berilo foi preso e é réu no processo decorrente da “Operação Gaia”, levada a efeito pela Polícia Civil em 2013, para desbaratar uma quadrilha de estelionatários que agia em Manaus.

A Brandão é atribuída uma frase que demonstra o quanto o governador José Melo se preocupava com o que foi descoberto de crimes em sua campanha. Ao responder a um interlocutor que o questionava sobre a volta dos comandantes afastados da Polícia Militar, ele diz, referindo-se ao mandatário: “Ele não vai tomar nenhuma decisão antes da diplomação. Ele está com medo de ser cassado”. No inquérito, ele aparece como uma espécie de operador financeiro da organização, por ser pessoa de confiança de Frota.

Vital aparece como quem autorizava a coação a policiais para que agissem em favor de Melo. Ele e Roosevelt teriam perseguido e prendido o empresário Álvaro Melo, coordenador da campanha de Eduardo Braga na Zona Leste de Manaus, porque estaria dando trabalho à campanha do governador.

“Chaguinha” é considerado o grande financiador do esquema. Dono da empresa Aliança Serviços de Edificações e Transporte Ltda., ele era tesoureiro do PROS, partido do governador José Melo. A firma aparece na prestação de contas do candidato como doadora de R$ 600 mil. Pelo que apurou a PF, entretanto, o empresário movimentou valores bem maiores. Só em suas licitações de 2014, ano da eleição, ele apurou mais de R$ 80 milhões – R$ 37,9 milhões para prestar serviços à Secretaria Municipal de Educação de Manaus e R$ 43,09 milhões junto à Secretaria de Estado da Educação.

Em 2011, na administração Omar Aziz, o deputado José Ricardo Weddling (PT) denunciou um conluio entre o governo e Aliança em contrato de logística no valor de R$ 23,4 milhões. Segundo o parlamentar, o superfaturamento chegava a R$ 17 mihões. A PF cita isso no relatório, bem como justifica a citação do contrato com a Semed informando que o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, apoiou a reeleição do governador.

A PF afirma que “Chaguinha” tinha livre acesso ao governador e aos secretários e o escritório de sua empresa situava-se bem em frente à sede regional do PROS. Às vésperas do Natal de 2014, ele promoveu uma festa na empresa, para comemorar a vitória na eleição. A secretária de Melo confirmou a presença do próprio. Nesta ocasião, os integrantes da organização aproveitariam para pedir favores ao governante.

A PF apurou que a organização reuniu-se, com outros apoiadores de Melo, como o empresário Orsine Oliveira Junior, em um apartamento do hotel Park Suítes, às vésperas da eleição, para uma operação extremamente suspeita, já que várias pessoas entravam em saíam com mochilas, caixas e outros recipientes transportados com todo cuidado, o que fez a Polícia suspeitar de que se tratava de dinheiro para corrupção eleitoral. As fotos contidas no relatório, obtidas a partir das câmeras de vigilância do local, detalham a ação.

Tancredo Soares aparece como o responsável pelos pagamentos do esquema. O relatório mostra em detalhes a movimentação financeira dele e dos outros integrantes da organização, no período próximo à eleição.

Confira abaixo a trechos do relatório e os crimes cometidos pela organização criminosa em favor do governador José Melo, bem como os diálogos que mostram sérios indícios da participação dele próprio nos delitos, as fotos com as movimentações, extratos bancários, etc.:

Parte 1-01 Parte 1-02 Parte 1-07 Parte 1-06 Parte 1-05 Parte 1-04 Parte 1-03 Parte 1-08 Parte 1-09 Parte 1-10 Parte 1-11 Parte 1-12 Parte 1-17 Parte 1-16 Parte 1-15 Parte 1-14 Parte 1-13 Parte 1-18 Parte 2-01 Parte 2-02 Parte 2-03 Parte 2-04 Parte 2-05 Parte 2-06 Parte 2-07 Parte 2-08 Parte 2-09 Parte 2-10 Parte 2-11 Parte 2-12 Parte 2-13 Parte 2-14 Parte 2-15 Parte 2-16 Parte 2-17 Parte 2-18 Parte 2-19 Parte 2-24 Parte 2-23 Parte 2-22 Parte 2-21 Parte 2-20 Parte 2-25 Parte 2-26 Parte 2-27 Parte 2-28 Parte 2-29 Parte 2-30 Parte 2-31 Parte 2-32 Parte 2-33 Parte 3-01 Parte 3-06 Parte 3-11 Parte 3-10 Parte 3-05 Parte 3-04 Parte 3-09 Parte 3-08 Parte 3-03 Parte 3-02 Parte 3-07 Parte 3-12 Parte 3-13 Parte 3-14 Parte 3-15 Parte 3-16 Parte 3-21 Parte 3-20 Parte 3-19 Parte 3-17 Parte 3-18 Parte 3-22 Parte 3-23 Parte 3-24 Parte 3-25 Parte 3-26 Parte 4-01 Parte 4-06 Parte 4-05 Parte 3-30 Parte 3-29 Parte 4-04 Parte 4-03 Parte 3-28 Parte 3-27 Parte 4-02 Parte 4-07 Parte 4-08 Parte 4-09 Parte 4-10 Parte 4-11 Parte 4-16 Parte 4-21 Parte 4-20 Parte 4-15 Parte 4-14 Parte 4-19 Parte 4-18 Parte 4-13 Parte 4-12 Parte 4-17 Parte 4-22 Parte 4-23 Parte 4-24 Parte 4-25 Parte 4-26 Parte 5-02 Parte 5-07 Parte 5-06 Parte 5-01 Parte 4-29 Parte 5-05 Parte 5-04 Parte 4-28 Parte 4-27 Parte 5-03 Parte 5-08 Parte 5-09 Parte 5-10 Parte 5-11 Parte 5-12 Parte 5-17 Parte 5-16 Parte 5-15 Parte 5-14 Parte 5-13 Parte 5-18 Parte 5-19 Parte 5-20 Parte 5-22 Parte 5-23 Parte 5-24 Parte 5-25 Parte 5-26 Parte 5-27 Parte 5-32 Parte 5-31 Parte 5-29 Parte 5-30 Parte 5-28

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Este post tem 2 comentários

  1. SNIPER ! NUNCA ERREI UM ÚNICO TIRO.

    100% da Policia Militar, 99% da Policia civil, 90% da Seduc, 87% da Saúde, 100% da SSP/AM, 100% da FDN, 100% do PCC, trabalharam dioturnamente para eleger JOSÉ MELO. Famílias inteiras, por todos o Amazonas, eram ameaçadas pelos integrantes das facções criminosas, pelos Policiais Militares e Civis, caso votassem em Eduardo Braga. Agora a casa caiu, falta a POLICIA FEDERAL PRENDER TODOS ESTES BANDIDOS TAL QUAL OCORREU NA ” OPERAÇÃO ÁGUIA “, todavia onde ela ira colocar tanto bandidos ?

    1. Sociedade

      Bem tal qual

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