O anúncio do encerramento da carreira política do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, feito ontem, de supetão, em meio ao barulho causado pela divulgação dos nomes de pessoas citadas por executivos da empreiteira Odebrecht em delações premiadas, não decorreu do episódio rumoroso. Ele já tinha se decidido no período que sucedeu a operação para a retirada de um tumor maligno da próstata.
“Concluirei este mandato, o derradeiro de minha vida, governando Manaus com uma dedicação extremada, que resumirá quatro décadas de amor. Até o último minuto de 2020. E, definitivamente, não me candidatarei mais a qualquer outro posto”, disse ele, em postagem nas redes sociais.
“Permanecerei opinando, através de artigos, livros e palestras, sobre minha região e meu país. Mas deixo a política abjeta que aí está, à disposição dos profissionais da “sobrevivência”, dos torquemadas de plantão e dos hipócritas de quaisquer matizes. Sempre ansiando que o Brasil se reforme e se vá regenerando, para permitir a ascensão dos que virão livra-lo dos tipos ora citados. Minha cota se esgotou. Minhas ambições estão domesticadas”, acrescenta.
O anúncio pegou de surpresa aliados e adversários. Rapidamente, a postagem ganhou compartilhamentos de todos os lados e gerou especulações de toda natureza.
O blog tentou ouvir alguns políticos sobre o assunto, mas o clima é de total apreensão entre eles, por tudo o que aconteceu ontem. Ninguém quis se manifestar.
Veja a publicação do prefeito, na íntegra:
“Não me afastarei jamais do estilo com que sempre me dediquei à coisa pública. Há quem prefira o papel do avestruz. Sou, porém, do tipo que não se furta aos enfrentamentos necessários à defesa de suas verdades. Por isso, defino-me, de pronto, diante da mesquinha citação de meu nome na tal lista dos “delatores premiados” da empresa Odebrecht. E não aprecio escapismos como “primeiro consultarei os autos” ou “conversarei com meu advogado”, antes de falar publicamente sobre assunto que diga respeito a minha reputação e a minha honra. Daí o esclarecimento que presto nesta hora, nítido como água pura de igarapés límpidos.
Um ex-diretor dessa empresa, sr. Claudio Melo, de acordo com “vazamentos”, pelos quais nunca ninguém se responsabiliza, teria afirmado que me repassou R$300 mil (trezentos mil reais), dando a entender que não me conhecia e que apenas estaria cumprindo ordens “superiores” de aproximar a Odebrecht de um “parlamentar influente”. Não se refere, segundo o tal “vazamento”, a nenhum “favor” que eu “deveria” prestar a quem quer que fosse.
Após a surpresa inicial, cheguei a pensar que o sr. Melo pudesse mesmo ter embolsado essa quantia, quem sabe usando meu nome para driblar a contabilidade corrupta de sua empresa. Não me importam, aliás, os detalhes da sordidez. Importa, e muito, o fato de minha consciência estar, como sempre esteve, absolutamente tranquila.
Doze anos deputado federal! E não há registro de nenhum gesto meu que tenha beneficiado a Odebrecht e seus lobistas. Dirigente nacional do meu partido por três anos, líder e ministro do presidente Fernando Henrique por um quadriênio inteiro e intenso. E não existe quem aponte qualquer coisa que me possa ligar a interesses empresariais. Senador por oito anos, liderando uma oposição renhida, e numericamente poderosa, ao governo Lula. E não há quem ouse supor que, por palavras ou atos, ajudei a deformar medidas provisórias.
Sou prefeito da sétima maior cidade do país pela terceira vez. E a Odebrecht, ao longo desse tempo, não plantou um único metro cúbico de asfalto em Manaus. Nenhuma relação. Absolutamente nenhum liame.
A relação entre “acusadores” e “delatores” não é suficiente para me calar nem me fazer “participante” de esquemas de achaques. São 39 anos de uma trajetória que erigiu um conceito do qual muito se orgulha minha família e que não está à disposição de ninguém. Nem do ilustre procurador Rodrigo Janot e nem do ínclito juiz Sergio Moro. Menos ainda de figuras menores que se cevaram no submundo do suborno e agora pretendem obter liberdade física para voltar a usufruir de dinheiro desonesto.
Meu sentimento ordena que enfrente a injustiça, com a altivez que corruptos e arbitrários não conseguiriam ter: cabeça erguida, rumo ao combate necessário e saneador.
Fala-se em “foro privilegiado”! Tantos se apequenam para obter mandatos controversos, com o fim “maior” de obtê-lo, com isso supondo a “conquista” da impunidade. Não sou realmente assim.
Cheguei à Câmara dos Deputados para enfrentar um regime autoritário e ajudar a restaurar as liberdades neste país. E aqueles não eram tempos de imunidades parlamentares! Cheguei ao Senado para representar o Amazonas, defender o Brasil e sustentar o legado do governo Fernando Henrique: estabilidade da economia, controle da inflação, responsabilidade fiscal e reformas estruturais. Não fui em busca de foros especiais (a bem da verdade, considero uma injúria ao STF supor-se que lá não se produz justiça), porque meu mandato servia para pensar a Amazônia e o Brasil e não para acobertar o atraso e nem o saque ao nosso povo.
Prosseguirei, então, na rota inversa ao oportunismo. Não disponho, como prefeito, de foro especial, privilegiado ou como bem pretendam denomina-lo. E vou continuar sem ele.
Concluirei este mandato, o derradeiro de minha vida, governando Manaus com uma dedicação extremada, que resumirá quatro décadas de amor. Até o último minuto de 2020. E, definitivamente, não me candidatarei mais a qualquer outro posto.
Permanecerei opinando, através de artigos, livros e palestras, sobre minha região e meu país. Mas deixo a política abjeta que aí está, à disposição dos profissionais da “sobrevivência”, dos torquemadas de plantão e dos hipócritas de quaisquer matizes. Sempre ansiando que o Brasil se reforme e se vá regenerando, para permitir a ascensão dos que virão livra-lo dos tipos ora citados. Minha cota se esgotou. Minhas ambições estão domesticadas.
Há outros meios de servir lealmente ao Amazonas, ao Brasil e a minha Manaus.”
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