Agir pra diagnosticar, tratar, curar e eliminar

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Por dever do ofício de Diretor Presidente da Fundação Alfredo da Matta, instituição de saúde que no nosso estado coordena o Programa de Dermatologia Sanitária onde está inserido o Controle da Hanseníase, fui acompanhar uma equipe de profissionais e técnicos em missão de supervisão do Programa nos municípios de Humaitá e Manicoré. Em nossa companhia estavam também José Ramón Echevarria-Diretor Médico e duas acadêmicas de medicina Sara Mas e Rosa Díaz do Instituto Fontiles da Espanha entidade com a qual a FUAM mantém há mais de vinte anos um Termo de Cooperação Técnica na área da dermatologia/hanseníase.
A situação epidemiológica da hanseníase no nosso estado em que pese termos saído de um quadro gravíssimo e ficarmos estacionados no topo da endemia por décadas em termos de Brasil e, hoje, nos situarmos no décimo oitavo lugar, ainda é preocupante tendo em vista que nos últimos quinze anos, nenhuma ação concreta e agressiva foi realizada no Brasil e muito menos no nosso estado apesar de termos a melhor e mais bem treinada equipe, dominarmos as informações epidemiológicas e de saúde sobre a doença, agregarmos as mais avançadas pesquisas científicas e operacionais sobre tratamento, diagnóstico, busca ativa, supervisão e controle sobre a hanseníase. O que não é pouco!

Esse quadro de quase paralisia operacional e técnica nesse período de tempo, são os grandes responsáveis pelo recrudescimento epidemiológico da endemia no nosso estado ao menos se tomarmos como parâmetro o que estamos presenciando durante essa viagem de supervisão nos dois municípios da calha do rio Madeira com muitas crianças e jovens infectados pelo mal.

A par dessa grave situação, há alguns anos atrás, idealizei o Projeto APELI-Ação Para Eliminação que esperava tê-lo implementado em 2010 caso fosse nomeado Diretor Presidente da FUAM, sonho porém frustrado por injunções políticas da época.
Mas, como nunca é tarde para colocar em prática projetos que nascem não somente da experiência profissional, da formação acadêmica e mais ainda da minha visão de epidemiologista e do compromisso com a saúde pública principalmente com o controle da hanseníase, tão logo assumi a presidência da FUAM em janeiro deste ano, determinei à equipe que coordena o programa que desenhasse então o Projeto APELI a partir das ideias, informações e planos que escrevi ao longo dos últimos anos. E assim foi feito!

O Projeto APELI vem com o desafio de, no prazo de quatro anos, reduzir pela metade os índices epidemiológicos dos municípios com muito alta e alta endemicidade(*mais de 20 ou de 40 doentes para cada 100 mil habitantes) e consiste em enviar a todos os sessenta e um municípios do estado equipes capacitadas para buscar casos novos, diagnosticar, tratar, acompanhar e avaliar, supervisionando, as ações implementadas. Também tem a missão de levar atendimento médico, social, psicológico, farmacêutico e fisioterápico com consultas, cirurgias, medicamentos, prevenção de incapacidades e encaminhamentos gerais em dermatologia sanitária.

Outro ponto fundamental do Projeto APELI é capacitar e montar equipes locais para darem continuidade ao processo de diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos doentes. A cada doze meses, a contar da aplicação do projeto piloto, será realizada uma Avaliação Estadual do Projeto APELI quando então os entraves, as conquistas, os resultados epidemiológicos e operacionais bem como as debilidades e pontos positivos deverão ser analisados pelas equipes dos municípios envolvidos os quais juntamente com a equipe de coordenação do Programa de Controle da Hanseníase no estado haverão de adotar os procedimentos e correções que o Projeto requer.

Estarei com o Projeto APELI debaixo do braço batendo nas portas do Governo do Estado, do Ministério da Saúde, das universidades públicas e privadas, empresas e empresários, dos parlamentos estadual e federais em busca de apoio e recursos financeiros por meio de emendas parlamentares para a sua plena execução.

O Projeto, para quatro anos, está orçado em aproximadamente três milhões e meio de reais, cifra muito pequena diante da gravidade do problema e da enormidade dos desafios postos que são reduzir a níveis aceitáveis ou até mesmo eliminar a hanseníase em alguns municípios do nosso estado e dizer para o Brasil e para o mundo que somos capazes e temos expertise suficiente para enfrentarmos a endemia com todas as dificuldades geográficas, operacionais, de falta de profissionais, técnicos e recursos financeiros que enfrentamos porém, não fomos e nem somos negligentes nas ações de controle pois delineamos planos e metas para atuamos a tempo de combatermos e vencermos essa doença milenar.

Esse Projeto é sem dúvida para mim, prestes a me aposentar do serviço público, o mais desafiador que irei enfrentar enquanto gestor da FUAM e sei que não estou só nessa empreitada posto que montei uma equipe técnica e administrativa capaz de se lançar aos desafios mais difíceis e haveremos de buscar e conquistar os resultados positivos no prazo definido levando o Amazonas para o topo da cadeia epidemiológica onde estão os estados prestes a eliminar o Mal de Hansen.

Que Deus nos ajude e acompanhe nessa jornada.

Té logo!

(*) A OMS define que, para alcançar a meta de eliminação da Hanseníase há que haver menos de 1 doente para cada grupo de 100 mil habitantes. Atualmente nosso estado tem 10/100mil

ET. Agradeço à equipe de saúde que nos acompanhou nessa ação:
Pela FUAM os Técnicos Valcimar e Nizia e a médica Liana;
Pelo município de Humaitá os Técnicos Conceição, Paulo e Tatiane e o médico Gustavo (este que está cedido pela FUAM para prestar serviço ao município visitado).

*O autor é farmacêutico bioquímico e diretor-presidente da Fundação Hospital Alfredo da Matta