A ongueira Nair Queiroz Blair foi detida pela Polícia Federal na madrugada de domingo, quando desembarcava em Manaus, vinda de Lisboa, em Portugal. Ela deixou o país na primeira quinzena de dezembro, rumo a Paris, na França, e depois passou por Bruxelas, na Bélgica e por Luxemburgo, apesar de ser ré em dois processos rumorosos, por suspeita de malversação de verba pública. Acuada e receosa de que possa ser condenada e passar alguns anos na cadeia, ela virou uma ameaça sem tamanho ao mandato do governador José Melo e se optar por contar o que sabe, para se livrar de uma condenação maior, por, além de colaborar para a cassação, mandar para a cadeia o próprio Melo, seu irmão Evandro e o coronel Dan Câmara.

Nair não é apenas a pivô do caso de compra de votos flagrado pela PF na véspera da eleição de 2014, dentro de um comitê montado pela campanha do governador José Melo para reunir pastores evangélicos. Ela também responde por outro crime. Em 2007, a Agência Nacional de Gestão de Recursos para a Hiléia Amazônica (Angrhamazônica), representada pela ongueira, não comprovou a boa e regular aplicação dos recursos do Convênio nº 508/2007-MinC/FNC (Siafi nº 611.249), cujo objeto consistia na implementação do projeto “Lendas e Encantos da Amazônia”, o qual visava à realização do espetáculo de comemoração do “Ano Novo Temático Amazônico em Brasília”, na passagem de 2007 para 2008, na capital federal. Por isso, os bens dela foram considerados indisponíveis. O Tribunal de Contas da União recomendou a devolução de R$ 2,2 milhões aos cofres públicos.

Em 2014, já representando outra entidade, a Agência Nacional de Segurança e Defesa, ela recebeu do governo estadual, sem licitação, a módica quantia de R$ 1 milhão, a dois dias do início dos jogos da Copa do Mundo em Manaus. O dinheiro, liberado pela Secretaria Executiva de Segurança para Grandes Eventos, coordenada pelo coronel PM Dan Câmara. O objetivo seria  uma tal “implementação de solução tecnológica de monitoramento em tempo real móvel”, mas a PF suspeita de que o serviço não foi prestado e o dinheiro teria sido usado integralmente na campanha de reeleição do governador José Melo.

O histórico de irregularidades cometidas por Nair na condição de representante de entidades pode levá-la à cadeia. Seu advogado, Anielo Aufiero, afirma que ela viajou à Europa autorizada pela Justiça. O juiz Alcides Carvalho Vieira Filho, da 32ª Zona Eleitoral de Manaus, concedeu –, segundo acórdão publicado dia 20/07/2015, a “suspensão condicional do processo” ou “sursis processual” por dois anos, isso no caso da compra de votos. O Ministério Público Federal, entretanto, recomendou a cassação do governador e cinco dos seis juízes eleitorais concordaram com a recomendação.

Seja como for, Nair virou uma bomba ambulante e dificilmente vai querer pagar o pato sozinha. Há elementos suficientes para condená-la nos dois casos. Uma delação premiada a livraria do pior.