O blog se penitencia. Ao se aprofundar na história da intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos, este site descobriu que a situação é bem diferente daquela contada até aqui pelos interventores e chegou à conclusão de que, na verdade, foi um grupo empresarial, apoiado pela multinacional LG, que se apoderou da entidade que representa o maior contingente de trabalhadores do Estado.

Aos fatos. O juiz Adilson Dantas, do Tribunal Regional do Trabalho, que tirava plantão como desembargador substituto, afastou a diretoria do Sindicato baseando-se principalmente na ausência da prestação de contas. Na verdade, os diretores assumiram no dia 25 de janeiro e só poderiam publicar seus relatórios no ano que vem. Até 2015 todas as prestações de contas haviam sido apresentadas regularmente.

A eleição da nova diretoria, também contestada pelos interventores, ocorreu dentro da legalidade, com a participação de apenas uma chapa. Não houve concorrentes.

O argumento de que houve uma negociata envolvendo o clube dos metalúrgicos, localizado na AM-010, vai por terra com uma simples leitura do processo em que o INSS pedia a penhora do imóvel, já arquivado. Na realidade, o Sindicato deixou de pagar a Previdência, na gestão de um ex-presidente, o que gerou o procedimento judicial. A diretoria agora afastada regularizou a situação e encerrou a disputa. O clube continua em nome da entidade e tem até uma instituição de ensino construída nos últimos anos, pronta para funcionar.

Sobre a dívida de R$ 500 mil, que segundo os interventores havia sido contraída pelos diretores afastados para quitar pendências com advogados, o blog apurou que ela serviu para quitar dívidas normais do Sindicato, inclusive a folha salarial, comprometida em época de crise. Os profissionais de direito pagos com parte deste dinheiro são os 19 contratados pelos metalúrgicos para defender os trabalhadores na Justiça do Trabalho.

O mais grave é o que está por trás da intervenção. A diretoria afastada entrou em conflito com a multinacional LG, porque esta se recusava a construir uma creche para suas trabalhadoras. Os executivos da empresa decidiram então bancar o grupo que assumiu como interventor, alguns dos quais são funcionários ou ex-funcionários dela, além de pagar o escritório de advogacia contratado para conseguir a intervenção. O presidente do colegiado que dirige a entidade neste momento é um empresário (suprema ironia!), Adriano Mendes, dono da empresa de componentes Home, fornecedora da LG.

O juiz Adilson Dantas, que está na lista tríplice enviada ao presidente Michel Temer para que este escolha o novo desembargador do TRT, colocou a carreira em risco, porque tomou a decisão sem considerar a farta jurisprudência existente na própria corte, no Tribunal Superior do Trabalho e no Supremo Tribunal Federal, segundo a qual diretorias democraticamente eleitas para entidades sindicais não podem ser afastadas sem ter o amplo direito de defesa respeitado.

Pior: nomeou para intervir no Sindicato uma diretoria composta basicamente por comerciantes e empresários, com apenas uma representante dos metalúrgicos, que não tem qualquer influência sobre as decisões do grupo.

Uma das testemunhas de acusação é Wagner Rodrigues, atual administrador do Sindicato, que usa inclusive um dos veículos que, segundo os interventores, teriam sido comprados para a família do presidente afastado, Valdemir Santana, mas na verdade servem à entidade. Trata-se de um evidente conflito de interesses.

Depois de dois pedidos de vista e de dois desembargadores se julgarem impedidos de votar, estará na pauta de quarta-feira, 30, o parecer em que o vice-presidente do TRT, desembargador Lairto José Velloso, que recomenda a volta da diretoria afastada.

“Eu confio na Justiça do Trabalho de nosso Estado e tenho certeza de que ela devolverá o Sindicato aos Trabalhadores”, limitou-se a dizer o presidente afastado Valdemir Santana ao blog, agora há pouco.

Ele não quis tecer maiores comentários e se disse triste com tudo o que ocorreu. Os apoiadores da intervenção chegaram a expor a família do sindicalista e sua intimidade nas redes sociais e em sites.