A política tradicional venceu

No primeiro turno das eleições uma parcela significativa do eleitorado de Manaus escolheu os candidatos Amazonino Mendes (Podemos) e Davi Almeida (Avante). Ambos expressaram nos discursos e nas peças de propaganda as experiências e as realizações em gestões públicas, como elos condutores na busca de confiança do eleitor, que se mostra tão decepcionado com a maioria dos atuais políticos, num pleito majoritário que aconteceu sem ousadia, sem a busca do novo na política e com destaque aos valores e práticas tradicionais na política amazonense.

         Nas eleições de 2018, o discurso do novo contra a política tradicional prevaleceu em muitos estados. Saíram vencedores governadores, senadores, deputados federais e estaduais que não possuíam qualquer experiência de gestões públicas, de parlamento e de militância partidária. No Amazonas, o jovem jornalista Wilson Lima foi eleito com uma expressiva votação disputando por uma pequena sigla partidária contra os experientes Amazonino Mendes, Davi Almeida, Omar Aziz e outros.  

     Porém, nas eleições de 2020, o grupo político fundado por Gilberto Mestrinho, logo no início dos anos 80, com expoentes como Amazonino, Eduardo Braga e seus descendentes, Omar Aziz, José Melo, Alfredo Nascimento e Davi Almeida, ganhou fôlego e tem dois representantes no segundo turno, indicando que parte do eleitorado de Manaus preferiu apostar novamente nos representantes da política tradicional de Mestrinho.

     Embora, nas últimas décadas, tenham acontecido conflitos e disputas eleitorais fervorosas entre membros do próprio grupo tradicional pelo controle das administrações públicas, a velha fórmula política cunhada por Mestrinho continua: culto ao personalismo, obrismo, administração sem a participação da sociedade nas decisões, conflito entre o interesse público e o privado, e outras já bastante conhecidas dos eleitores. Há ainda o agravante dos escândalos de corrupção na área da saúde e nas licitações públicas, sendo tratados por muitos deles, apenas como fake news dos adversários.  

     Amazonino é o maior vencedor de disputas eleitorais e é detentor de inúmeras realizações em várias áreas: construiu hospitais, universidade, estradas, portos, bumbódromos, escolas de ensino médio, delegacias de polícia, viadutos e outras; Davi Almeida foi levado a elite do grupo pelas mãos de Omar Aziz e de José Melo, ele já foi líder de governo, presidente da Assembleia Legislativa e governador do Amazonas por 04 meses, onde promoveu realizações no setor da educação e da segurança, além de redução de imposto.  

       Amazonino e Davi divergem no tempo de experiências em governos, na quantidade de obras realizadas, nos atos praticados e na idade. Amazonino realizou mais, tem mais experiência e chega numa disputa eleitoral com 80 anos de idade prometendo pouco, acreditando na confiança popular que detém; Davi não realizou tanto, não tem muita experiência, não diz que é o novo na política, mas vem fazendo muita promessa.

      Agora, no segundo turno, cabe aos eleitores, que não votaram em Amazonino Mendes e nem em Davi Almeida, optarem entre os dois descendentes da mesma matriz política que marcou e marca as gestões públicas no Amazonas, com legados positivos e também, legados negativos.

   Independentemente do nome do vencedor do pleito municipal do dia 29 de novembro, o grupo político de Mestrinho continuará vivo, numa versão de mais experiência e realizador ou numa versão de poucas realizações, muita promessa e de idade menor. O eleitorado decidirá.

*O autor é sociólogo, analista político e advogado