- Good morning, how much does the fish cost?
- Ah moço, eu não entendo o que o senhor está falando não.
Este simples diálogo é ficção, mas poderia ter acontecido naturalmente no interior da Amazônia. Seria uma tentativa de conversa entre um americano e um simples pescador do estado do Pará, Brasil. O ano era 1928 e o famoso empresário Henry Ford deu início a um projeto muito ousado, a Fordlândia – a produção de borracha natural em processo industrial – no que podemos considerar como o primeiro projeto com características ESG (Environment, Social and Governance) no país.
Henry Ford construiu do nada 2 cidades em plena floresta amazônica, Fordlândia e Belterra. A primeira foi planejada com infraestrutura avançada para a época, incluindo uma cidade-modelo com hospital, escola, cinema, pista de pouso e fiação subterrânea. O objetivo era produzir borracha para a indústria automobilística, com o manejo e exploração extrativista da seringueira, espécie nativa. A extração da borracha já havia criado fortunas um século antes nas cidades de Manaus (Amazonas) e Belém (Pará) um século antes. Os comerciantes de borracha eram tão ricos que mandavam seus filhos estudar na Europa. Manaus chegou a ser chamada de “Paris dos Trópicos”, com casarões, porto flutuante, bondes, casa de ópera (o Teatro Amazonas). Manaus teve ainda a primeira universidade pública do Brasil, uma faculdade de direito.
O projeto visionário de Henry Ford em Fordlândia se deparou com problemas de fungos nas seringueiras e fracassou. Em seguida, Ford criou Belterra. O autor americano Greg Grandin (Fordlandia: The Rise and Fall of Henry Ford’s Forgotten Jungle City. New York. Metropolitan Books. 2009), escreveu:
“A Fordlândia fracassou porque seus idealizadores acreditavam que a floresta tropical poderia ser domada pelas mesmas regras que organizavam a linha de montagem em Detroit.” (Grandin, 2009, p. 97)
“O colapso do projeto resultou de uma soma de fatores: ignorância botânica, resistência cultural, doenças das seringueiras e a incapacidade de adaptar um modelo industrial a um ambiente tropical.” (Grandin, 2009, p. 203)
Susanna Hecht também pesquisou os acontecimentos da época (Beyond Fordlândia: An Environmental Account of Henry Ford’s Adventure in the Amazon (2019) e concluiu que:
“O fracasso de Fordlândia foi menos uma história de má sorte e mais uma lição sobre a arrogância tecnológica: uma tentativa de impor um modelo industrial norte-americano sobre ecossistemas e sociedades tropicais complexas.” (Hecht, 2019, p. 377)
Henry Ford e seus gerentes pensaram que já que o problema eram os fungos (Microcyclus ulei) nas seringueiras, a solução seria começar tudo de novo em outro lugar. Assim nasceu Belterra em 1934, construída próxima de Santarém, cidade paraense já consolidada. Em Belterra os erros continuaram e o choque cultural e social levou os trabalhadores brasileiros à greves e protestos. A alimentação na fábrica era um dos pontos do protesto: purê de batata, hambúrguer e batata frita.
O projeto foi descontinuado nos anos 1940 devido à morte do filho de Henry Ford, à crescente concorrência da borracha asiática e, principalmente, ao desenvolvimento da borracha sintética, que se tornou mais barata. Hoje, ambas as cidades existem, com Fordlândia sendo um vilarejo com cerca de 1500 habitantes e Belterra sendo um município do Pará, ambas mantendo parte da arquitetura e memória do projeto original.
As lições desta experiência são muitas. No contexto ESG são ainda mais claras:
Environment – o total desconhecimento sobre o meio ambiente amazônico teve impactos decisivos no projeto.
Social – os trabalhadores brasileiros não se adequaram ao choque cultural, modo de vida, costumes e alimentação, erroneamente imposta pelos americanos.
Governance – Houve falha no estudo de viabilidade do projeto (será que houve estudo?), na administração dos recursos naturais, tecnológicos e de mão de obra.
O passado nos leva a pensar nos projetos ESG de hoje. Há boa intenção verdadeira em realizar transformações sociais e econômicas a regiões que necessitam de desenvolvimento sustentável? Ou muitos projetos em andamento no mundo usam a nomenclatura ESG apenas como “estratégia de marketing” para atrair bons investidores para experiências que visam apenas o lucro? Esta é uma reflexão necessária e urgente.
A ISCM Foundation, organização sem fins lucrativos baseada na Bélgica, tem em suas raízes o compromisso com projetos transformadores de verdade. A começar por sua total integração com o ensino superior, universidades e institutos de educação, seus parceiros fundamentais. Outro compromisso é com a inovação tanto tecnológica quanto em processos de governança que respeitem, ouçam e integrem a população e o respeito ao meio ambiente onde os projetos ESG da fundação são instalados.
Para a ISCM Foundation um projeto de transformação transnacional como os de Henry Ford, com toda sua boa intenção econômica, ambiental e social, precisa de muito estudo prévio e TEMPO. Os projetos da fundação são de 25, 30 anos, podendo ser estendidos por igual ou maior duração; do início ao fim acompanhados por ferramentas poderosas (IA) de simulação de desempenho, diagnósticos e viabilidade. Tudo isto com governança transparente com auditagem externa gerando confiança de investidores, parceiros, colaboradores e órgãos do governo em negócios responsáveis.
Para concluir, imaginemos o que seria hoje Fordlândia e Belterra no Brasil se a boa intenção de Henry Ford tivesse sido acompanhada de estudos científicos, bom senso e responsabilidade? É uma lição de vida. Sempre será. É errando que se aprende. E, voltando ao diálogo fictício do início deste artigo, não acredito que os americanos preferiram comer hambúrguer com batatas fritas do que os deliciosos peixes da Amazônia.
*O autor é Jornalista, Publicitário, Estrategista de Marketing e Goodwill Ambassador na ISCM Foundation.
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