O futuro das campanhas eleitorais na era das hashtags nichadas

Em meio à crescente digitalização das campanhas políticas, o uso de hashtags deveria ser uma ferramenta essencial para engajar e mobilizar eleitores. No entanto, o que se vê é uma lacuna preocupante entre o potencial dessa estratégia e sua aplicação real. Os chamados “meninos marqueteiros” ou “velhaguarda”, frequentemente jovens estrategistas digitais, muitas vezes não aproveitam plenamente as hashtags em campanhas eleitorais. Eles parecem resistir a críticas e se mantêm presos a fórmulas tradicionais, subutilizando uma ferramenta que poderia ser decisiva, especialmente na acirrada busca pelo segundo turno, onde uma linha muito fina de votos pode decidir quem será o vencedor e avançará para a próxima etapa.

A velha guarda, composta pelos veteranos das campanhas políticas, é ainda mais relutante. Enraizados em métodos antigos, muitos desses estrategistas não conseguem enxergar a importância de uma abordagem digital eficaz. Eles ignoram o poder das hashtags para segmentar e engajar nichos específicos do eleitorado, perdendo oportunidades valiosas de comunicação direta com os eleitores.

Um exemplo claro dessa falha estratégica pode ser visto na comparação entre diferentes hashtags. Considere a hashtag #teatroamazonas. Esta é amplamente utilizada por pessoas de todo o Brasil, ou até de fora do país, quando mencionam o famoso teatro em Manaus. Embora popular, essa hashtag não segmenta os eleitores locais de Manaus; ao contrário, atrai um público diversificado e disperso.

Por outro lado, hashtags como #bolomanaus, #brechomanaus, #makeupmam, #manaus40graus, #amazonasmeuorgulho e #manausmeuamor são muito mais eficazes em campanhas políticas, pois são utilizadas especificamente por eleitores locais, focados nas questões e nos candidatos de Manaus. Essas são hashtags “nichadas”, ou pertencentes à “bolha de eleitores de Manaus”, que garantem que o público-alvo seja precisamente aquele que o candidato deseja engajar.

Outro exemplo de contraste é entre as hashtags #amazonasshopping, #amanauscity, #manauaraShopping, que atraem postagens de pessoas de todo o Brasil, diluindo qualquer tentativa de engajamento político local, e hashtags como #Boigarantido, #guiamanaus, #bazarmanaus, #casamentomanaus, #jaraquiparatodos, #deliverymanaus, #missamazonas, #fotografiamanaus, #noamazonaséassim, #prefeiturademanaus, #rioamazonas, #parintins, #tioadao, #tvnasfesta, #lasamazonas, #manausam, #manausamazonas, #manausbrasil, #maquiagemmanaus e #amazonasmeuamor, que são nichadas e predominantemente utilizadas por eleitores de Manaus. Essas hashtags nichadas se tornam ferramentas poderosas para campanhas que visam atingir diretamente o eleitorado da cidade. Criar novas hashtags, que ainda não possuem seguidores ou eleitores conhecidos, não traz resultados efetivos.

Além disso, muitos dos “meninos marqueteiros”, na tentativa de inovar e mostrar criatividade, acabam criando novas hashtags que, apesar de parecerem atraentes, não têm uma alma viva de eleitores potenciais de Manaus associada a elas. Essas hashtags, por serem novas e desconhecidas, falham em gerar engajamento real e se tornam praticamente inúteis na campanha, já que não conseguem atingir o eleitorado específico que o candidato necessita. Esses marqueteiros precisam pensar fora da caixa, utilizando hashtags que realmente ressoem dentro da bolha de eleitores de Manaus.

E os candidatos? Amon, David, Marcelo Ramos, Roberto Cidade e Capitão Alberto parecem ainda mais alheios à questão. A velha guarda, representada por políticos como Eduardo Braga, meu velho amigo querido, ainda não percebeu a importância dessa abordagem digital. Na sua campanha anterior, ele foi omisso no uso de hashtags, falhando em aproveitar essa ferramenta para conectar-se com seu eleitorado. Eu o avisei sobre a importância de utilizar todas as hashtags dos municípios, mas, mais uma vez, essa recomendação foi ignorada. Na campanha atual, a situação não parece ser diferente. A falta de uma estratégia digital robusta, que inclua o uso eficaz de hashtags, coloca em risco a capacidade de engajar um eleitorado que cada vez mais busca informações e conexões nas redes sociais.

Essa negligência no uso de hashtags não é apenas um erro estratégico em um cenário eleitoral tão competitivo; é um sintoma de uma desconexão mais ampla entre as campanhas políticas e o mundo digital. Vaidade e falta de humildade em ouvir e pensar fora das diversas “caixas” impedem a evolução necessária. Enquanto não houver uma compreensão clara da importância das hashtags e de como utilizá-las de forma eficaz, as campanhas continuarão a perder terreno para aqueles que dominam o espaço digital.

*O autor é jornalista

Qual Sua Opinião? Comente: