Em artigo publicado nesta quarta-feira (10/09) no jornal Gazeta do Povo, o vice-governador do Amazonas, Tadeu de Souza, afirmou que o Brasil pode perder a chance de ser protagonista global do desenvolvimento tecnológico na exploração das terras raras caso não promova um debate sério sobre a mineração sustentável desse recurso.
As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos fundamentais para a transição energética, utilizados, por exemplo, na fabricação de baterias para carros elétricos. Atualmente, Estados Unidos e China disputam esses minerais, o que coloca o Brasil e, em especial, o Amazonas, no centro dessa disputa entre as duas potências mundiais.
Ao relembrar que o Governo do Estado criou, recentemente, uma secretaria de Mineração, tratando o tema como prioridade em suas políticas de planejamento, Tadeu de Souza cobrou do governo federal uma postura mais firme diante da necessidade urgente de debater a exploração racional e sustentável dos minérios.
“O que falta é regulação clara e firme. Enquanto nação, fortalecer a soberania nacional sobre os recursos minerais estratégicos significa assegurar que a exploração, o beneficiamento e a industrialização das terras raras ocorram sob o comando do interesse público, preservando a autoridade do Brasil sobre riquezas de altíssimo valor geopolítico e tecnológico”, ressaltou.
Ainda de acordo com o vice-governador, o dilema está em como transformar essa riqueza mineral em progresso e soberania sem comprometer a preservação ambiental.
“Nióbio, tântalo, estanho, tório e terras raras, insumos fundamentais para a indústria de alta tecnologia, repousam no subsolo amazonense, mas ainda não se traduzem em prosperidade para a população local, especialmente no interior do estado”, completou.
Soberania nacional
No artigo, Tadeu de Souza aponta que outros países já avançaram no aproveitamento de suas riquezas minerais. O Chile transformou o lítio em plataforma internacional, enquanto Canadá e Austrália desenvolveram legislações que conciliam exploração mineral, retorno social e segurança nacional.
O vice-governador propõe que parte das receitas seja destinada à educação, saúde, segurança pública e inovação, de modo que a riqueza mineral se converta em benefícios sociais. Além disso, defende a construção de uma cadeia produtiva completa, vista como essencial para transformar reservas em empregos qualificados, inovação e competitividade internacional.
“A disputa pelos minérios da Amazônia já começou. E cabe a nós decidir se seremos meros espectadores ou líderes na transformação dessa riqueza em futuro”, defendeu.
O artigo na íntegra pode ser lido no site do jornal Gazeta do Povo: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-disputa-pelos-minerios-da-amazonia-ja-comecou/
Cenário
Na Mina de Pitinga, localizada em Presidente Figueiredo, a 119 quilômetros de Manaus, a Mineração Taboca explora cassiterita e columbita há mais de 50 anos, gerando cerca de 1,2 mil empregos diretos e movimentando mais de R$ 500 milhões por ano em exportações.
O município arrecada aproximadamente 6% de sua receita em royalties dessa atividade. Além da importância econômica, a área concentra reservas estratégicas de nióbio, tântalo, estanho e tório, minerais essenciais para setores como foguetes, baterias e turbinas.
Em novembro de 2024, a empresa foi vendida por US$ 340 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) à estatal chinesa China Nonferrous Trade (CNT). A operação está sob análise da Justiça Federal, após questionamentos sobre possível violação da Constituição e de normas que restringem o controle estrangeiro de recursos estratégicos.
Municípios como Autazes, São Gabriel da Cachoeira, Nova Olinda do Norte, Itacoatiara e Apuí também possuem reservas de potássio, nióbio, tântalo e estanho. Esses minerais são considerados críticos não apenas para a transição energética, mas também para a segurança alimentar global.
Foto: Ricardo Machado
